Tó Trips @ Culturgest (17.03.2023)
O sucesso de uma aparição.
Lançado às feras uma semana antes, o novo trabalho de estúdio de Tó Trips foi apresentado ao vivo na Culturgest no fim-de-semana que agora findou, perante uma plateia anunciada como esgotada um par de dias antes.
Ouvem-se os passos do protagonista ainda fora de cena, surgindo logo de seguida num impecável fato azul e botas brancas de quem pratica o rock n’ roll como religião. A partir daí embarcamos por uma viagem no imaginário de Tó Trips, sendo as suas várias guitarras a locomotiva, que nos leva a paisagens sempre tão interessantes quanto desafiantes. Lugares que tanto nos parecem familiares quanto não cessam de nos aguçar a curiosidade da descoberta. E parecem-nos muita vez familiares porque Tó Trips construiu um estilo muito seu, daqueles que reconhecemos ao fim de um par de acordes, mesmo em composições que nem são suas mas que se inspiraram no seu universo (e não são raros os casos).
Da suite de Cartagena às super ondas da Nazaré, passando pelo ambiente arenoso de Marrakesh, nunca largamos a mão de Tó Trips, para conhecermos as desventuras da sua geração à boleia dos seus membros inferiores que nunca resistem aos ritmos que o próprio imaginou.
Esta nova etapa da carreira, que deu azo a “Popular Jaguar”, oferece mais cores à obra de Tó Trips. Mais e novas cores. Para as quais contribui igualmente a quase omnipresença de António Quintino e Helena Espvall, que se ocuparam de contrabaixo e violoncelo respectivamente, após o início isolado do guitarrista com «Amor em Tempos Fodidos». Com este duo de cordas o som torna-se ainda mais denso, mais agitado, ora mais soturno, ora mais cortante, qual jaguar irrequieto. Em «Ginga», António Quintino troca o contrabaixo por uma segunda guitarra, para oferecer o digno ritmo à composição tão bem baptizada.
Para além dos temas que dão corpo a “Popular Jaguar”, que interpretou quase na íntegra, Tó Trips serviu-nos ainda «Pinacoolata», retirada do seu LP de estreia “Guitarra 66”, demonstrando que as cordas das suas guitarras continuam tão diabólicas como há 15 anos.
O fim da viagem, em registo de encorei, chegou envolto na espuma post-rock de «Nazaré em Câmara Lenta», tal como acontece em “Popular Jaguar”, da qual emergimos refrescados para um derradeiro e merecido aplauso aos músicos, com a esmagadora maioria do público em pé.
Alinhamento:
– Amor em Tempos Fodidos
– Popular Jaguar
– Napoli Blue Dreams
– Ginga
– P’ra Lá de Marrakesh
– Cartagena Suite
– Piñacoolata
– O Processo de uma Aparição
– Dançar Frente ao Espelho
(encore)
– Nazaré em Câmara Lenta
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