Tom Barman
O mês de Agosto marca o regresso aos palcos e a estreia no grande ecrã do bem amado dEUS.
Em Portugal, assim como em outros países, existem bandas que por uma ou outra razão tornam-se fenómenos de popularidade e que mesmo não sendo muito mediáticas em outros países, tornam-se objecto de culto no nosso país. Os dEUS são um óptimo exemplo dessa popularidade, que só pode ser explicada devido à extrema qualidade da banda e intimidade com o público português, que mesmo não editando nenhum álbum de originais desde 1999, ano em que foi lançado “The Ideal Crash”, continuam a criar uma certa ansiedade sempre que vêm actuar a Portugal.
Este interregno da banda deve-se muito (mas não só) à carreira cinematográfica de Tom Barman, vocalista da banda e mentor do projecto. Antes de ser músico, Barman estudou cinema na Antuérpia e, durante os anos em que esteve com os dEUS, foi exercitando alguns dos seus dons na realização de videoclips e curtas-metragens sendo que o vídeo “Turnpike” esteve presente em diversos festivais do género (Vila do Conde incluído), sendo utilizado como “primeira parte” nas projecções de “Trainspotting”. Depois de muitas ameaças, estreou no fim do mês de Julho a primeira longa-duração do belga, à qual a Rua de Baixo teve a honra de estar presente na sua antestreia.
”Any way the wind blows” é o título do filme que em primeira análise é uma excelente comédia urbana, cruzando a vida de 8 personagens que têm modos de vida e actividades completamente diferentes, acompanhando 32 horas de um princípio de fim-de-semana na cidade belga de Antuérpia. A cidade é o menos importante em toda a película, pois devido à forma como Barman a mostra, podia ser Lisboa, Paris ou qualquer cidade europeia. O mais importante é a trama que viaja pelo dia e noite de uma sexta-feira de Junho, terminando na ressaca do sábado de manhã.
Neste filme há de tudo um pouco. Um professor que tem a vida matrimonial na miséria, um DJ que perde o emprego, um vírus antigo, muita cocaína, um disco voador, um cavalo morto e um fã dos Kiss revoltado com o mundo electrónico da música actual. No meio disto tudo existe um homem que serve de ponte entre todas estas personagens e tem um pequeno problema com o “vento”. Confuso? Ainda bem.
A acção passa-se durante um dia de sexta-feira, em que é a noite que serve de mote para a junção das personagens numa mesma festa, onde a música, o álcool e a droga dominam as atenções e servem de escape a uma vida de agitação e correria. As personagens e a acção descrita espelham aquilo que Barman encontra no seu círculo de amigos e conhecidos e na verdade é bastante representativa de toda uma sociedade do século XXI. São pequenas histórias deliciosas que deixam o espectador colado ao ecrã e, no fim do filme, um pouco desiludido com a falta de um grande clímax que, embora seja um factor negativo, não é castrador para a qualidade do filme que para além de uma excelente fotografia, apresenta um trabalho de montagem notável.
Obviamente que a banda sonora é excelente e acompanha a acção do filme de uma forma sublime, tornando-se especialmente atraente na festa nocturna onde o electro se mistura com o drum n’ bass e os corpos deslizam ao sabor da batida. De Charlie Parker a Yazoo, de Magnus (projecto de Barman) a Squarepusher, de Herbie Hancock a JJ Cale, há de tudo um pouco e para todas as ocasiões, não fosse Barman um dos músicos europeus mais influentes da actualidade.
Mas Agosto reserva-nos também o regresso dos dEUS a solo nacional. Têm actuação marcada para dia 8 de Agosto na Zambujeira do Mar e, embora ainda não tenham editado novo material, irão com certeza tocar novos temas ao vivo pois a edição do novo registo está programada para o decorrer deste ano.
Sem dúvida que este é um mês em cheio para os fãs. Têm a oportunidade de estar presentes num concerto dos dEUS e de assistirem à estreia de Barman na realização num dos mais interessantes filmes dos últimos tempos. Estranho mas bom, logo muito recomendável.
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