“TREBLINKA”
O mais recente documentário de Sérgio Tréfaut, sobre o holocausto, chega esta semana em DVD
Rússia, Ucrânia e Polónia: viajamos num comboio fantasma a caminho dos campos de extermínio. Presente? Passado? Futuro? As vozes dos sobreviventes relatam aquilo que não é possível mostrar em imagens. Só é possível imaginar. O velho postulado do pós-guerra “NUNCA MAIS” soa agora como uma fantasia quando tudo está a acontecer novamente.
Baseado nas memórias de Chil Rajchman, “Treblinka: a survivor’s memory” (1) , TREBLINKA começou com uma proposta de documentário sobre Marceline Loridan-Ivens, viúva do realizador Joris Ivens, judia francesa, cineasta e escritora, sobrevivente do campo de Birkenau. Foi através de Marceline que Sérgio Tréfaut começou a perceber o universo de fantasmas que rodeia os sobreviventes do Holocausto, como os de outros genocídios.
Pessoas que conheceram o horror absoluto e para quem a vida tem outra dimensão.
“Ao ler o livro de Chil Rajchman publicado pela primeira vez em 2009, fiquei em estado de choque, sem fôlego. O lado descritivo e factual do quotidiano num campo de extermínio pareceu-me mais forte do que tudo o que tinha lido até então. Quis partilhar essa experiência através de um filme onde a palavra seria o principal veículo.”, comenta Sérgio Tréfaut.
Existe em TREBLINKA uma voluntária oposição entre o horror do texto e uma beleza das imagens, num tempo em que o espetactador é confronto a uma exaustão de imagens do horror que já não provoca nenhuma reacção.
“Montei TREBLINKA enquanto se conheciam as atrocidades do ISIS. A situação muito próxima da barbárie absoluta e da indiferença à barbárie faz com que o filme seja muito contemporâneo”, de acordo com o realizador. “Mas nós vivemos a mesma coisa hoje. Temos uma blindagem e uma necessidade de anestesia para sobreviver. (…) O meu sentimento é de impotência perante a nossa incapacidade de mudar as coisas. Ou perante a minha, para começar. O pesadelo dos outros é algo com que eu tenho de conviver e, ao mesmo tempo, manter a minha sanidade. Ter consciência de que o horror absoluto está a acontecer agora e ter ainda disponibilidade para ser feliz. E se puder fazer algo, fazia. Isso é muito perturbador. ”
TREBLINKA recebeu o Prémio de Melhor Filme Português no IndieLisboa’16 e o Prémio Perso no Festival de Perugia este ano. Chega agora em edição DVD nas lojas.
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