“Tudo a Nu” – Malaposta

“Tudo a Nu”

Os bastidores em cima do palco

Que o teatro é feito por pessoas normais como qualquer um de nós, já sabemos. Que os bastidores escondem relações interpessoais entre os actores, também já sabemos. O que nós não imaginávamos, antes de ver “Tudo a Nu”, é que essas relações nos bastidores, dessas pessoas tão normais, podem ser tão doidas, que podem alterar uma peça quase por completo. Na verdade, o que nós não sabíamos, é o que é que afinal se anda a passar por detrás das cortinas. Mas agora já sabemos. E ainda bem que foi através desta comédia magistral, que nos pôs tudo a nu!

Nove actores. Nove actores que são, primeiro que tudo, nove pessoas. Com defeitos, qualidades, manias, afinidades, medos e angústias. Nove actores que trabalham uns com os outros e têm que lidar com as personalidades uns dos outros, às vezes tão dificeis de gerir. Nove actores que desenvolvem relações de ódio ou amor, e que tanto vão influenciar o curso de uma peça de teatro da qual fazem parte. É isto que vemos nos três actos desta comédia baseada no texto internacionalmente conhecido de Michael Frayn.

No 1º acto começamos a ver o teatro dentro do teatro. A encenação da peça, os códigos linguisticos e profissionais entre o encenador, os actores e os técnicos. Percebemos que nem tudo corre sobre rodas nesta produção e que a tensão criada pela várias personalidades e a gestão dos egos estão à flor da pele, devido à tensão da proximidade da estreia.

No 2º acto, começa a representação da peça, mas do ponto de vista dos bastidores. Aqui a peça ganha ainda mais dinâmica. As tensões entre os actores estão cada vez maiores e assistimos a todas as coisas hilariantes que se vão passando nos bastidores e que levam a que os actores cometam várias gralhas ao longo da peça. Nesta fase, já o nosso riso é incontrolável.

No 3º acto, após três meses de tournée, voltamos a ver a peça completa do lado do público, com cenas completamente catastróficas. Os diálogos mudaram, as cenas encurtaram, os actores já se trocaram… um sem fim de alterações ao guião que já não passam despercebidas a qualquer um.

Ao argumento muito bem criado por Michael Frayn, junta-se a brilhante encenação de Fraga e o elenco fantástico composto por Angela Pinto, Gonçalo Ferreira, Hélder Gamboa, Inês Castel-Branco, Isabel Ribas, Mônica Garcez, Paulo Oom, Rui Raposo e Rui Sérgio.

Li no panfleto sobre esta peça que a percepção que temos do teatro nunca mais será a mesma, depois de a vermos. Confirmo; não podia ser mais verdade.

CENTRO CULTURAL DA MALAPOSTA, DE 20 DE MARÇO A 27 DE ABRIL
AUDITÓRIO – 12,50€ (PREÇO SUJEITO A DESCONTOS) | 120 MINUTOS | M/12



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