“Um Bom Partido” de Curtis Sittenfeld
Orgulho, Preconceito e Bons Partidos
É uma verdade universalmente conhecida que, nos dias de hoje, um homem atraente, com uma carreira de sucesso, deve entrar num reality show para encontrar esposa…
Este novo livro de Curtis Sittenfeld, Um Bom Partido (Chá das Cinco, 2018) é um romance com estilo, divertido e encantador, inspirado livremente no clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen, mas com um twist moderno.
Actualizado aos dias de hoje, as loucuras e manias dos Bennet, ainda preenchem as páginas de livros, mais de 200 anos depois do lançamento do clássico original.
Curtis Sittenfeld, chegou, pegou e, flagrantemente, alterou o êxito da autora inglesa, transformando-o em algo bastante avant garde, em semelhança a outros tantos autores, que têm vindo a utilizar o material de suprema qualidade de Jane Austen, e alterá-lo para as suas novas, por vezes, arriscadas adaptações.
Este livro de Sittenfeld, que faz parte do The Austen Project, pode ser encarado pelos fans hardcore da “Tia Jane”, como uma ofensa, uma deturpação gritante e alarmante das personagens tão amadas pelo público; mas ao mesmo tempo é algo muito diferente, muito próprio, que poderá encantar os demais.
Para aqueles que questionam o que poderá ser assim tão diferente nesta versão, é de apontar que as irmãs Bennet são talvez ainda mais loucas, desbocadas e, tendo em conta os ideais austenianos, promíscuas do que o esperado.
Porém, tal não deveria ser de admirar, pois trata-se de uma versão solta e sem papas na língua, onde Bingley entra num reality show, chamado Bons Partidos, em busca de esposa.
Uma história, em algumas partes, semelhante à original, e personagens, que parecenças com as de Austen basicamente só nos nomes, Um Bom Partido, peca, talvez, pelo ideal do projecto em que a obra está incluída, o de tentar melhorar as obras de Austen.
O original não necessita de ser melhorado, e aí consiste o erro. Para aqueles leitores que se conseguirem abstrair, e estiverem dispostos a esquecer que se trata de uma adaptação de algo brilhante, para evitarem desapontamentos, seria mais indicado ver este livro como algo à parte, livremente baseado em Orgulho e Preconceito.
MUITO ANTES DA sua chegada a Cincinnati, já toda a gente sabia que Chip Bingley estava à procura de uma esposa.
E assim tem início a montanha russa que vai acompanhar as voltas e reviravoltas das famílias Bennet, Bingley, Darcy e Lucas.
Chip Bingley, impulsionado pela sua irmã Caroline, entra num reality show, onde 25 damas disputam o seu afecto e só uma irá ser a sua esposa.
É então, que tudo corre mal.
Bingley e Darcy, ambos médicos, mudam-se para Cincinnati, e como não poderia deixar de ser, a Srª Bennet, mãe de 5 filhas já ‘passadas de prazo’, revela o seu interesse no mais recente residente na sua cidade.
Os Bennet, esses, continuam com o mesmo estilo louco, com a Srª Bennet e os seus xeliques e mexericos; um Sr.Bennet mais frágil, afectado por um ataque cardíaco, mas igualmente sem paciência para a esposa que tem; Kitty e Lydia ainda mais atrevidas e com uma linguagem sem filtros ou maneiras; uma Mary sempre estudiosa e crítica dos demais; e as duas irmãs Jane e Liz, aqui bem mais progressistas do que na versão original.
Que Liz Bennet sempre tinha tido pensamentos e atitudes fora do padrão, não é novidade, mas esta Liz é, por escolha própria, amante de Jasper Wick há mais de uma década, e colaboradora da revista Mascara; ao passo que a doce e temerosa Jane, é uma instrutora de Yoga, que planeia engravidar por inseminação artificial.
QUANDO CAROLINE BINGLEY e Fitzwilliam Darcy entraram no apartamento de Charlotte, na Baixa, a visão de Darcy transtornou Liz mais do que ela quereria admitir.
A amizade entre os Bennet e os Lucas mantém o seu charme, sendo Charlotte a grande amiga de Liz e posteriormente, o interesse amoroso de Willie, o primo incómodo das Bennet, agora convertido em nerd da tecnologia.
E como não poderia deixar de ser, o primeiro encontro entre Darcy e Liz na festa dos Lucas, é tudo menos pacífico ou educado.
Darcy estava de costas para a rua, com os cotovelos apoiados no parapeito da varanda e um copo de sangria na mão direita. Parecia, pensou Liz, um modelo no suplemento publicitário de uma loja de roupa local: bonito, sim, mas temperamental de uma forma disparatada e desnecessária.
Apesar das primeiras impressões não serem as melhores, os caminhos de Liz e Darcy vão cruzar-se várias vezes. Ao mesmo tempo que a relação entre Chip e Jane descola e se despenha, Liz cede à tentação e envolve-se numa série de encontros sexuais com Darcy, por ela denominado, sexo de ódio.
Resumindo, Jane estava grávida e Chip já não estava interessado nela; Charlotte Lucas e o primo Willie eram um casal; o Sr. e a Sra. Bennet estavam falidos, tal como extensão, estavam as suas quatro irmãs. Precisava de se distanciar de tudo aquilo, pensou (…) mas (…) não tinha confiança nas capacidades dos restantes membros da família para tomarem conta de si próprios.
Com os Bennet envolvidos numa série de problemas, desde financeiros a emocionais/pessoais, cabe a Liz decidir se se afasta ou ajuda a família a sair do buraco em que se encontram.
Ao mesmo passo, Jane demonstra as suas capacidades como mulher adulta e independente que é, seguindo a sua vida, depois de ter sido abandonada por Chip.
Chip volta a cair nos meandros dos reality shows, e a sua irmã tenta por todos os meios obter a atenção e amor de Darcy, quem ela considera como seu (por direito supremo).
Irá Jane criar o seu filho como mãe solteira? Irá Liz compreender os motivos que levaram Darcy a imiscuir-se nos seus assuntos familiares? Ou irá tudo acabar como um louco concurso?
Apesar das grandes, e modernas, alterações à história, “Um Bom Partido”, de Curtis Sittenfeld, tem o seu quê de charmoso, sendo até, por vezes, engraçado.
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