Um Colectivo

UmColetivo

Criar diagonais que eliminam distâncias

UmColetivo apresenta-se como uma estrutura artística que procura criar espectáculos que assentam no processo de trabalho criador de intimidade entre a dramaturgia e a interpretação. Conhecemos este grupo no Teatro Rápido, com o espectáculo “Diagonais”, em Janeiro de 2013.

Recentemente, UmColetivo passou pelo Teatro Turim para a apresentação do espectáculo “1876 milhas”, nas vésperas de uma viagem que os levou até São Vicente. Foi nessa altura que quisemos saber mais sobre este projecto fundado por Cátia Terrinca, Miguel Rebelo e Ricardo Boléo.  Estivemos à conversa com o Ricardo.

UmColetivo encontra-se de partida para São Vicente. Como surgiu essa possibilidade de levar as vossas criações para terras de África?

A ida a São Vicente surge na sequência de uma relação que começou já há quase um ano, quando a Cátia e o Miguel foram desenvolver um trabalho de Teatro Físico com vinte membros da comunidade mindelense. Nessa altura, a colaboração com o Centro Cultural do Mindelo e com o seu Grupo de Teatro deu-se sobretudo ao nível da formação e, talvez por isso, deixámos em aberto a possibilidade de regressar para cumprir essa vontade crioula e lusitana de levar ao Mindelo um espetáculo nosso.

Qual é o espectáculo que vão apresentar?

“ÉTER” é o espetáculo que levamos, por ter suscitado a curiosidade do outro lado, uma vez que, genericamente, no Mindelo, há um interesse muito particular pelo texto teatral e pela criação de originais. Da mesma forma, esta ida do “ÉTER” permite que a relação entre nós e o Grupo de Teatro do Centro Cultural de Mindelo se mantenha viva, uma vez que o Adilson Spínola, que é responsável pelo Grupo, aposta na continuidade das relações, tanto ao nível artístico, como formativo-pedagógico. 

Podem adiantar-nos algo mais sobre a vossa passagem por São Vicente? Vão ter oportunidade de fazer workshops por lá?

A ida a São Vicente surge na sequência de uma relação que começou já há quase um ano, quando a Cátia e o Miguel foram desenvolver um trabalho de Teatro Físico com vinte membros da comunidade mindelense. Nessa altura, a colaboração com o Centro Cultural do Mindelo e com o seu Grupo de Teatro deu-se sobretudo ao nível da formação e, talvez por isso, deixámos em aberto a possibilidade de regressar para cumprir essa vontade crioula e lusitana de levar ao Mindelo um espectáculo nosso.

Como surgiu o convite?

Iremos ao Mindelo como convidados do Grupo de Teatro do Centro Cultural do Mindelo, onde apresentamos o espetáculo “ÉTER” nos dias 21 e 22 de Junho. O espectáculo estreou no Teatro Turim em Abril, esteve depois na bienal Teatrartes e na Ericeira. Será a primeira vez que iremos apresentá-lo fora de Portugal mas a um público que fala português e que tem também intimidade com o universo de Fernando Pessoa e com o mito sebastianista. Para além do espectáculo, vamos estar durante quatro dias com elementos de vários grupos de teatro de São Vicente. São pessoas interessadas em dramaturgia contemporânea e nas diversas formas de produção de textos para teatro. Estamos bastante entusiasmados com esta possibilidade de trocar experiências e esperamos que a escrita nos traga um lugar de comunhão, em que vozes autorais de caboverdeanos possam sobressair, potenciando a escrita de novos textos. O resultado deste encontro irá ser aberto ao público, numa leitura dos diversos textos produzidos, no dia 23 de Junho no Centro Cultural do Mindelo.

Quais são as vossas expectativas perante esta aventura além-mar?

Estamos curiosos quanto à recepção do espetáculo ÉTER em Cabo Verde. O ÉTER acabou por se contextualizar no momento que vivemos em Portugal e ficou relacionado com os problemas e as preocupações presentes que o público português vive. Apresentar este trabalho ao público caboverdeano, com as suas preocupações e os seus problemas distintos, pode elevar a interpretação do espectáculo a um outro nível sobre o qual, possivelmente, não teríamos pensado desde início. Vamos à procura deste feedback caboverdeano para enriquecer o nosso conhecimento acerca do “ÉTER” e do nosso próprio processo de construção.

Como tem sido o crescimento deste projecto desde a apresentação de “Diagonais”, no Teatro Rápido, em Janeiro passado?

Falamos de “DIAGONAIS” como um pré-início da nossa curta história colectiva – é como se a nossa estadia no Teatro Rápido em Janeiro fosse o ponto de encontro entre a Cátia [Terrinca] e o Ricardo [Boléo]. Foi através do processo de escrita e criação de Diagonais que percebemos que partilhamos questões, hesitações e vontades relativamente ao teatro, como forma de estar perante e no mundo.

O UmColetivo nasce mal terminamos o micro-espetáculo “DIAGONAIS”, em muito graças ao repto que nos lançou a Anabela Moreira (directora artística do Teatro Turim), para pensar novamente a problemática da espera, mas num formato longo. Ainda sem definir objectivos a médio-prazo, e durante os ensaios de “ÉTER”, decidimos identificar-nos como grupo, por termos sentido que a identidade do nosso trabalho não era individual, mas sim conjunta.

O Miguel Rebelo junta-se a nós entre esses ensaios de experimentação e improvisações e uns quantos telefonemas e emails de apresentação do projecto – cujo resultado é a apresentação do “ÉTER” em várias cidades portuguesas.

Depois da estreia no Turim, o “ÉTER” foi já apresentado na bienal TEATRARTES e na Ericeira e está de malas feitas para Cabo Verde, Porto, Aveiro, Vila do Conde e Vila Real de Santo António. Sem dúvida que um dos nossos interesses é perceber a relação teatro/sociedade fora do circuito habitual da arte e cultura portuguesas – interessa-nos perceber a que necessidades pode responder a prática do teatro, de que forma interage e comunica com as sociedades, quem é o público e como é que ele lida com objetos que podem apresentar algum hibridismo formal ou distanciar-se das “normativas” do teatro clássico.

Falem-nos um pouco de “1876 milhas” e da sua relação com a viagem «física» até Cabo Verde

“1876 milhas” é a 2ª criação do UmColetivo, “cumprindo” mais uma vez o desejo de procurar uma dramaturgia menos preocupada com a narrativa e mais com a cena, aproximando a palavra da interpretação e do sentido-metáfora. Este segundo espectáculo, apresentado novamente no Teatro Turim, surge a partir de relatos da viagem (ou de viagens, simbolicamente falando), a Cabo Verde, feita pela Cátia e pelo Miguel, em Agosto no ano passado, e é uma reinterpretação de uma performance já feita por ambos em Novembro. Decidimos levar esta distância entre Lisboa e São Vicente à cena quase por uma questão simbólica, uma premonição da viagem que faremos, para apresentar “ÉTER”, já no dia 25 de junho.

O que vos motiva nestas viagens criativas e criadoras, enquanto grupo?

Somos guiados por vontades que às vezes nos assaltam, mas começámos agora a perceber que o que nos une é suficiente para pensarmos o UmColetivo a médio-prazo, por isso já temos projectos para o próximo ano, que voltam a passar pela criação de espectáculos, pelo investimento na dramaturgia e na construção conjunta de significados com o público e pela formação: começaremos em Julho a ensaiar um novo espectáculo, que nos volta a aproximar do Teatro Turim em Outubro; ainda em 2013 vamos dar continuidade ao ciclo “SAÍDA DE EMERGÊNCIA”, que tem lugar no Espaço Target, no Cais do Sodré, com mais duas sessões de leitura de textos para teatro de novos autores e continuaremos em viagem com o “ÉTER”… e em 2014 ainda estaremos por cá, porque se vão juntando pessoas e materiais de trabalho, e felizmente o UmColetivo somos nós os três e quem nos acompanha e questiona e espevita; por isso já se desenham no papel dois projectos que ganharão forma daqui a quase dois anos.



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