“Um Tiro no Porta-Aviões” | João Quadros

“Um Tiro no Porta-Aviões” | João Quadros

O porta-aviões está no fundo

Ao longo dos últimos vinte anos, João Quadros, argumentista de corpo inteiro, escreveu para tudo o que era meio: televisão, teatro, cinema e rádio. Fazendo uma retrospectiva do riso, constatamos facilmente que alguns dos programas humorísticos mais interessantes chegados ao pequeno ecrã lusitano têm pelo menos um dedo seu, como “Herman Enciclopédia”, “Contra Informação”, “Os Contemporâneos” ou “Último a Sair”.

Actualmente, para além de escrever para o “5 para a Meia-Noite” – com Nuno Markl – e de estar ao lado de Bruno Nogueira no radiofónico “Tubo de Ensaio”, João Quadros escreve para o Jornal de Negócios em ritmo semanal, numa rúbrica que dá título ao livro “Um Tiro no Porta-Aviões”, recentemente editado e que apresenta uma selecção de disparos certeiros deste humorista nacional.

O livro leva-nos numa viagem temporal e politicamente retrospectiva, começando em Agosto de 2012 e terminando em Abril de 2012; recorda-se de forma saudosista o escudo, assiste-se à criação do português feita por Deus num daqueles dias difíceis, projecta-se a saída do coelho da cartola, exige-se a fundação do Partido Gastronómico Português, grita-se um heil! À Grande Berta (ou Berta Gorda, se preferirem), manda-se à fava o sonho de um governo de salvação nacional, respondem-se a questionários diversos (saiba que tipo de pessoa vai ser em 2011, teste a sua cultura sobre a revolução árabe, teste a sua cultura sobre a Páscoa), goza-se com a moção de censura trazida pelo Bloco de Esquerda – «quer usar o cartão vermelho mas não quer expulsar o jogador» -, olha-se para o questionário do último CENSOS como um jodo de sudoku, conta-se a história da queda de Sócrates de A a Z, revela-se a desilusão por o FMI ter mandado três gajos em vez de polacas jeitosas (que rimariam melhor com troika), fecha-se a conta no facebook e diz-se o bom que seria se Portugal tivesse mar – não tendo assim de ver nos supermercados coisas como burrié da Irlanda, berbigão das Fidji ou abrótea do Haiti.

“Um Tiro no Porta-Aviões” é um livro que dá à economia um rosto humano, do qual nos podemos rir com algum sarcasmo, seja por ter um olho torto, um lábio inchado ou revelar uma testa quadrada. E que, brincando com a verdade, mostra que este porta-aviões, baptizado de “Portugal”, já está no fundo há umas boas jogadas atrás.

Uma edição Cego Surdo e Mudo Edições



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