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“Uma gaiola de ouro” de Camilla Lackberg

Perfume de vingança

É impossível dissociar o nome da escritora sueca Camilla Lackberg da série Fjällbacka, cuja protagonista, Erik Falk, é um dos ícones da literatura policial nórdica. E desde a edição de A Princesa do Gelo, livro de estreia de Lackberg que invadiu as livrarias portuguesas em 2010, que a escritora amealhou milhões de vendas e viu a sua obra traduzida em 60 países.

Mas, além da escrita, Camilla Lackberg tem-se afirmado com uma empresária de sucesso, sendo uma das fundadoras da Invest In Her, uma empresa que centra o seu dinamismo no empreendedorismo no feminino e que tem como um dos objetivos lutar contra as diferenças salariais entre géneros.

E é este um dos motes que inspira Uma gaiola de ouro (Suma de Letras, 2019), o mais recente livro da escritora sueca, que se assume completamente independente das aventuras de Erika Falk, e versa sobre uma poderosa história de vingança.

No centro da trama está o casal Jack e Faye, ele, um empresário de sucesso e uma referência no seio da alta sociedade sueca; ela, uma mente brilhante dos negócios, mas que abdicou de uma carreira em prol de uma vida dedicada à família.

Tudo corre normalmente, entre luxos, futilidades e jogos de poder, mas Faye sente-se encurralada entre a necessidade de agradar a marido e filha, vivendo refém da situação e de si própria, e em resgatar uma nesga de amor-próprio. Mas há mais fantasmas no universo de Faye, principalmente um passado atormentado pela trágica morte do irmão.

Até que tudo se precipita quando Jack a trai com uma mulher mais nova. Humilhada e à beira da ruína, Faye vê o mundo desabar. Num ápice, fica sem casa, família e esperança no futuro. E a única arma que lhe resta é destruir o homem que um dia amou, mas que é agora o seu carrasco.

Entre presente e flashbacks de um passado violento, que remete para infância de Faye, e o início da relação desta com Jack, Camilla Lackberg constrói uma competente narrativa em forma de thriller, assente num ritmo interessante e que revela o lado mais obscuro de ambos os personagens, tomando a autora a liberdade de “legitimar” o sentimento de vingança da protagonista, dando-lhe a oportunidade de, finalmente, assumir o papel de uma empresária de sucesso, ainda que sem grandes escrúpulos, e de mulher sempre pronta para desfrutar dos prazeres da carne sem compromissos.

Tratando-se de um livro escrito por uma mulher, cuja protagonista é uma mulher, não é de estranhar que também sejam os personagens femininos os mais interessantes. Nesse capítulo os destaques óbvios vão para Chris, a inseparável e independente amiga de Faye, e Kerstin, uma desconhecida que ajuda Faye a recuperar a dignidade.     

Não sendo um livro tão incisivo comparativamente com outros da autora sueca, e em alguns momentos algo previsível, Uma gaiola de ouro prende o leitor até às últimas páginas de forma a descobrir qual o desfecho que o aguarda, sendo um bom e descomprometido exercício de leitura, recomendado não só aos fãs de Camilla Lackberg mas também para quem gosta de um viciante page turner.  



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