“Uma Morte Súbita” | J.K. Rowling

“Uma Morte Súbita” | J.K. Rowling

Romance a preto e preto

A saga Harry Potter já o havia mostrado, ainda que de forma mais ou menos evidente. J.K. Rowling tem um estranho fascínio pelo lado negro da alma humana, uma quase obsessão pelas sombras que retiram às emoções a possibilidade de desfrutar do lado solarengo da existência. “Uma Morte Súbita”, o primeiro livro que a escritora escreveu para gente grande, está aí para o comprovar.

Barry Fairbrother é uma das figuras mais importantes de Pagford, uma daquelas pequenas cidades onde todos se conhecem (nem que seja de vista) e que tem todos os tiques próprios de um lugar pequeno: um clima de forte antagonismo, um espírito e atidudes snob, uma imensa frustração sexual e um racismo muito mal disfarçado. Quando Barry morre inesperadamente de um acidente cerebral aos quarenta e poucos anos, a cidade fica em estado de choque. Porém, ainda antes de o caixão descer à terra, a consternação dá lugar à maquinação política. É que, com a morte de Barry, surge uma vaga inesperada na Assembleia Municipal, o órgão de poder máximo a que todos ambicionam chegar. A corrida ao poder começa então e, quando mensagens anónimas aparecem publicadas no site da Assembleia Municipal com a assinatura “O Fantasma de Barry Fairbroher”, Pagford consegue revelar o pior de si própria.

A estranheza provocada por “Uma Morte Súbita” não terá tanto a ver com o afastamento da Terra dos Muggles promovido por Rowling, antes com a forma algo cliché com que nos são apresentados quer os temas quer as personagens do livro: há ricos em guerra com os pobres, adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos. Tudo relatado de forma um pouco convencional e dramaticamente exacerbada, como uma caricatura de uma telenovela venezuelana. É certo que há momentos dramáticos – e também de humor – muito bem conseguidos, entre suicídios, violações, drogas, insultos, espancamentos, sexo ocasional e pensamentos negros, mas a sua previsibilidade e o final melodramático – e com ar de encenação forçada – deixam, depois de virada a última página, um certo travo a desapontamento.



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