Ursula Rucker @ Lux
Word Life.
O Lux recebeu a primeira etapa da profecia de Ursula Rucker por Portugal. A discoteca de Santa Apolónia encheu para receber a poetisa urbana de Filadélfia que presenteou o público da capital com uma actuação tremenda, onde a música surgiu encadeada com a palavra num concerto/comício de reivindicação pelos direitos fundamentais da humanidade: paz, direitos humanos, amor, igualdade e revolução.
O grande mote para esta mini tour por Portugal é o mais recente disco de originais, “Ma`at Mama”, que prossegue o trilho criado pelos seus antecessores e mantém o mesmo olhar crítico sobre a sociedade. Embora Ursula continue com a “língua afiada”, colocando o dedo na ferida ao referir-se às injustiças que praticamente já se tornaram em clichés, este novo disco é muito mais interessante musicalmente, aproveitando da melhor forma a relação entre o jazz, hip-hop e downtempo.
A grandiosidade do concerto do Lux deveu-se em grande parte à qualidade dos dois músicos que acompanham Ursula nesta tourneé europeia. A percussão e a guitarra (acompanhadas por alguns samples debitados por um Mac) tornaram ainda mais orgânica uma actuação que por si só já transpirava humanidade por todos os poros.
O pontapé de saída da noite (com 45 minutos de atraso da hora marcada) foi dado por «Humbled», a primeira faixa do novo disco, que foi praticamente dissecado nas duas horas de concerto.
Em palco Ursula sente-se à vontade. Com uma dicção perfeita, as letras directas e certeiras debitadas pela “profeta” não deixam ninguém indiferente. As palavras são sentidas, a sua postura também. O público compreendeu e rapidamente se entregou.
Todos os “temas-chave” abordados na sua poesia passaram pelo palco do Lux: a emancipação da mulher, quer numa relação, na excelente «Uh Uh» e em «I ain’t yo punk ass bitch» (com uma interessante e provocatória alusão a «Holloback Girl» de Gwen Stefani) , quer na sociedade, em «For Women»; o racismo e as crianças, em «Children’s poem»; a crítica ao estado actual do hip-hop em «Untitled Flow» e a guerra e o capitalismo em «Ran at in here» (mais uma alusão ao “hip-hop” mainstream, desta vez de Nelly).
Com o decorrer do concerto, a afinidade entre Ursula e o público foi crescendo, terminando em apoteose depois de 4 encores onde pudemos ouvir «Supa Sista», o seu primeiro grande êxito. Pelo meio ficaram palavras muitos duras ao governo dos Estados Unidos, uma nacionalidade que Ursula tem vergonha de assumir, apelos à revolução, à inconformidade e aos direitos humanos.
Depois de mais este concerto, Portugal estará sempre na rota de Ursula Rucker no futuro próximo. Nós estaremos cá para o comprovar.
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