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Vera Marmelo

Quando as fotografias se ouvem. Tem acompanhado alguns dos nomes mais interessantes da nova música nacional e já teve a oportunidade de expôr o seu trabalho. Conheçam a fotógrafa que ainda se "surpreende" com o digital.

Quando se pronuncia o nome Vera Marmelo, as letras são cantadas, porque tudo nela é música. Prova disso é não se recordar exactamente do dia em que pegou na máquina fotográfica pela primeira vez, mas recordar-se do momento exacto em que começou a fotografar músicos: “É simples. Fotografei o ensaio dos Norman Bates, em Abril de 2004, e o meu primeiro Out.fest (Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro) em 2005. Oficialmente, as coisas coincidem com o início do meu blogue, em 2006, ano em que decidi partilhar as fotografias com as pessoas fotografadas e que eu não conhecia”.

Engenheira Civil, é como se vivesse duas vidas paralelas, mas garante que uma completa a outra: “Tenho dois grupos muito distintos de pessoas com quem trabalho e partilho coisas. Não se complementam, mas um trabalho alimenta o outro”.

Tem 25 anos, não tem formação e diz não ser portadora de um dom especial, tendo começado a fotografar sem qualquer objectivo específico. Fruto do acaso e da circunstância, as coisas foram acontecendo e Vera Marmelo deixou-se ir. Tecnicamente, falha numa série de coisas, mas a fotografia, para ela, é mais do que isso. Apesar de achar importante “aprender a manobrar uma série de ferramentas”, a fotografia é uma maneira de se ligar às pessoas – mais do que fazer retratos, cristaliza afectos.

Na música, enquanto arte, encanta-a quem a faz. Vê a música moderna portuguesa mais viva do que nunca e cheia de coisas para todos os gostos e feitios: “Há muita gente a fazer música e outra tanta a passar a palavra e a fazer acontecer. Só na semana passada, vi um total de três concertos e na anterior quatro, divididos em quatro noites”. O ritmo acelerou tanto que Vera, adepta do analógico – no princípio, era uma máquina analógica e rolos fora de prazo –, viu-se obrigada a adaptar-se ao digital: “O filme coloca-me numa situação mais confortável. Tive durante muito tempo aquela marca do preto-e-branco e habituei-me a que as minhas imagens fossem naquele suporte. Mas o digital vai-me surpreendendo cada vez mais”.

Na primeira fila de vários espectáculos, é difícil escolher um concerto que lhe tenha marcado a memória, mas não deixa de fazer uma distinção: “Há os dos amigos a tocar em sítios especiais e os grandes para os quais nem tenho credencial para fotografar”. A memória é “terrível”, admite, mas ainda há espaço para ditar algumas recordações: “Marcou-me o do Tiago Sousa no Teatro Maria Matos e o do Norberto Lobo no Festival Panorama. Dos grandes, o do Dan Deacon em Serralves e os American Music Club no Barreiro”.

Ultimamente, tem tido a hipótese de acompanhar gravações de álbuns. Já aconteceu com os Linda Martini, cujo novo álbum tem edição esperada para breve, e com os Dias de Raiva, novo projecto do Carlão dos Da Weasel e do Fred dos Buraka Som Sistema. “Gostei. Gosto da ideia de documentar qualquer coisa, acompanhar um processo”, conta Vera. Como referência tem mesmo Lauren Dukoff, fotógrafa norte-americana conhecida por retratar e documentar o trabalho de celebridades e músicos. Refere, ainda como influência, o início da Annie Leibovitz, nos tempos mais crus da Rolling Stone, mas rapidamente retira o que disse: “Esquece a Annie, ela agora tira fotografias a jogadores da bola em roupa interior”, brinca.

Recentemente, Vera Marmelo viu o seu trabalho exposto no Museu da Música, no Alto dos Moinhos, em Lisboa. Nova Música – Música Nova – Novos Músicos, que até já viajou até à Universidade de Salamanca, sob o nome de Musicos en Lisboa, é apenas uma pequena amostra do trabalho de Vera: “Esta teve um impacto maior, justificado pelo “sucesso” das pessoas fotografadas, pelos concertos que foram ligados à exposição (Tigrala, b fachada, Jónatas Pires e Tiago Sousa). Mas a parte mais interessante foi o processo, a escolha e a montagem”.

Conhecer Vera é conhecer o que fotografa: “Para os que quiserem saber quem é a Vera, que vejam as fotografias. Que as oiçam. Porque está lá muito do que interessa saber sobre ela. Mas sendo ela alguém que a maioria dos músicos que fotografa passa a tratá-la como amiga, não precisarei de dizer muito mais”, afirma Jónatas Pires, músico da editora Flor Caveira, família que Vera conheceu em 2008 e, desde então, nunca mais largou.

Já se se fotografasse a ela própria, revelar-se-ia o tão pouco que se leva a sério. Para Vera, fotografar aqueles músicos é “o mesmo que fotografar um amigo num jantar, numa festa qualquer”. Mas quando a lente da câmara se inverte, e a máquina fotográfica está nas mãos dos amigos, a história é outra. Tiago Sousa, criador da extinta netlabel Merzbau, leva-a muito a sério: “A Vera é daquelas pessoas cujo espírito de abnegação e entrega à sua arte conquistam todos à sua volta. Não é preciso referir o quão difícil é levar por diante as coisas em que acreditamos e que nos movem, mas a Vera é uma pessoa predestinada para o fazer”. Também Jónatas Pires a encara de respeito no olhar: “Se há alguém que consegue capturar e prender tudo aquilo a que se dispõe, qual Bill Pickett segurando o animal pelos chifres e enfrentando-o de frente, é a Vera”.



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