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“Vertigo”

O filme que estreou em Portugal a 13 de Janeiro de 1959 volta às salas de cinema

Original de 1958, “Vertigo” é um thriller psicológico. O filme é protagonizado por James Stewart, como o antigo detective John “Scottie” Ferguson, forçado a uma reforma antecipada devido a algumas incapacidades incorridas na sua profissão – vertigens (vertigo) e depressão. Scottie é contratado como investigador privado para seguir uma mulher, Madeleine Elster, protagonizada por Kim Novak, com um comportamento peculiar. Com o passar do tempo, Scottie fica perigosamente obcecado por Madeleine.

“Vertigo” é baseado no romance de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, “D’entre les morts”, livro escrito especialmente para Alfred Hitchcock, após os autores descobrirem que o cineasta tentara adquirir, sem sucesso, os direitos da adaptação de um outro romance deles, “Diabolique”. Recentemente, “Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes”, foi eleito o melhor filme de todos os tempos pela revista Sight and Sound, publicação do British Film Institute. Assim, Hitchcok destronou Orson Welles e o seu “Citizen Kane”, que esteve 50 anos no topo da lista.

Os negativos originais do filme, deteriorados pelo tempo e pela sua má conservação, foram completamente restaurados em 1996 com um custo de um milhão de dólares. O filme volta assim às salas de cinema como Hitchcock nunca viu: uma versão restaurada, em cópia digital. Esta reposição parte da Midas Filmes, que escolheu o El Corte Inglés, em Lisboa, e a UCI Arrábida, no Porto, para voltar a passar a longa-metragem.

Falámos com o realizador Vicente Alves do Ó, que brindou o público português com o seu mais recente filme “Florbela”, sobre este novo lançamento de “Vertigo”, e descobrimos a sua influência na obra do cineasta.

“O Vertigo é desde há muitos anos o filme da minha vida”, afirma o cineasta. “Vi-o pela primeira vez aos 16 anos e logo passou a ser um grande mistério e uma grande referência, a tal ponto que influenciou a minha vontade de fazer cinema e de perceber o cinema. O meu primeiro filme, “Quinze Pontos na Alma”, homenageia e faz um tributo a este filme pela forma como trata a narrativa e o mistério. Acima de tudo, os temas que estão subjacentes ao drama vivido pelas personagens, sendo que o “Vertigo” é daqueles filmes onde isso é mais visível e bem conseguido”.

O realizador acrescenta ainda que ”por vezes percebemos que um filme não é apenas uma história, mas muitas, que comunicam dentro e por baixo da acção principal. “Vertigo” faz isso, questiona muito mais do que parece e ainda assim brinca com uma coisa absolutamente humana: o mistério das nossas acções, a obsessão pelo que não é visível, o fascínio pela morte”. Um filme que “quase é também a raiz do cinema”. Com “Vertigo”, Hitchcock popularizou o zoom dolly, um efeito na câmara que distorce a perspectiva para criar desorientação, aqui usada para transmitir a acrofobia de Scottie.

Numa era onde o digital é o presente e o futuro do cinema, Vicente Alves do Ó afirma que “todas as possibilidades de ver este (e outros clássicos) no grande ecrã são sempre boas razões para novos lançamentos e relançamentos”. Já que “coloca a imagem no lugar para onde ela foi construída e tira-a do pequeno universo televisivo. Só por isso já vale a pena”. E claro, com estas novas versões no cinema, consegue alcançar um outro público, já que “também possibilita a novas gerações descobrirem um filme genial, estranho, obscuro, que nos baralha numa época em que tudo é por demais visível e fácil de entender”, como explica o realizador. “Mistério é a palavra certa, porque há muita coisa na vida que não se explica: sente-se”.

“Acima de tudo, este filme, e outros como este, são filmes que precisam de ser amados. Pouco me interessa o olhar clínico e julgador que se faz ao cinema – ainda por cima como esse olhar muda a cada dez anos. Basta saber que na altura em que saiu o filme foi muito mal recebido pela crítica e pelo público e hoje ocupa o lugar que ocupa”.

Os filmes são como as pessoas, afirma o cineasta. “Mudam com o tempo, são vulneráveis ao mundo e como tal – e tal como as pessoas – são feitos para amar. Isso é o mais importante. Não devemos amar o “Vertigo” porque ele agora é o melhor filme do mundo – devemos amar o “Vertigo” porque o sentimos assim. E para mim isso basta”, conclui o realizador.

Com a reposição de “Vertigo”, a Midas dá início a um programa de reposição de «grandes clássicos no grande ecrã». A partir de 3 de Janeiro, a reposição em cópia nova e digital estreará também noutras cidades do País: Coimbra, Aveiro, Viseu e Tavira, entre outras.



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