Vetiver e Fruit Bats @ ZdB
Duas óptimas bandas no aquário que nos deram música, no melhor dos sentidos.
A primeira vitória chegou quando me apercebi que a chuva andava por outras bandas que não a Rua da Barroca e arredores. Imaginem uma casa cheia, e já com algumas pessoas no patiozito antes de se entrar no aquário e estar a chover… Não seria muito agradável.
Sinto que vou ser repetitivo relativamente a alguma da prosa que já apareceu publicada por estas bandas anteriormente, mas tenho de o ser. Em primeiro lugar porque é verdade o que vou dizer. E em segundo porque sinto que tem de ser reforçada.
Aquela sala tem realmente uma aura única. Dizer que todos os concertos que acontecem no número 59 são inesquecíveis é um pouco pretensioso, só para não dizer que não é verdade. Mas que a maioria deles são muito bons, não é exagero. Há sempre uma história para contar. Alguma coisa que acontece no palco. Alguma expressão ou figura mais caricata na janela virada para a Rua da Atalaia. Qualquer coisa com força suficiente para ficar na retina.
Uma chegada um pouco tardia à ZdB mostrou um amontoado de pessoal à entrada. Uns à espera para levantarem a sua preciosa reserva, outros com uma réstea de esperança de que alguém desistisse à última da hora e outros que estavam ali simplesmente para ver o que se passava.
Os Fruit Bats giram em torno de Eric D. Johnson, compositor, guitarrista, teclista e, desde há um tempo para cá, o mais recente membro dos The Shins. Quando começaram a tocar não sabia bem o que esperar. Não conhecia o trabalho da banda, admito. Por muito que se oiça há sempre coisas que nos acabam passando ao lado. Felizmente assim o espaço para as surpresas agradáveis aumenta. Óptimo concerto o destes rapazes dos Estados Unidos. O seu som anda algures pelo folk, e por vezes sente-se aquele aroma do country. Não consegui deixar de pensar nos Wilco, que se estrearam por cá há alguns meses, várias vezes durante o concerto. Os Fruit Bats pareciam encarnar na perfeição uma versão júnior dessa instituição viva da música norte-americana e Eric D. Johnson não deixaria Jeff Tweedy envergonhado. Foi uma prestação bastante eclética, que deu inclusivamente para ouvir aquele que foi o primeiro single dos Greatful Dead, «Don’t Ease On Me In».
Como não poderia deixar de ser assistiu-se a mais uma declaração de amor por Portugal, e mais particularmente por Lisboa. Primeiro foram os Fruit Bats, que nos visitaram pela primeira vez. Depois foram mesmo os Vetiver, pela voz de Andy Cabic, que reforçaram a ideia.
Os Vetiver já são velhos conhecidos. Não era inclusivamente a primeira vez que a banda de Andy Cabic visitava a ZdB. A desculpa para a mais recente visita foi “Tight Knit”, o mais recente álbum, o primeiro com o selo da Sub Pop, lançado há já alguns meses. É comum rotular os Vetiver como pertencendo ao movimento freak-folk, muito por culpa das (óptimas) companhias de gente como Joanna Newsom, Devendra Banhart ou Ben Chasny. Mas a sua música tem, tal como a dos seus pares, um cunho muito próprio, com uma capacidade extremamente agradável de nos envolver e embalar.
A data era especial também porque o mais recente single retirado de “Tight Knit”, «More Of This» (e soa tão tão bem!), tinha acabado de ter edição física e ia estar à venda pela primeira vez ali mesmo, à entrada da ZdB. E quando parecia que «More Of This» se preparava para ficar de fora do alinhamento, eis que, já mesmo perto do final, se começou a ouvir “Sometimes I fear, there’s nothing I can do / To make up for my wrongs to you / Should I travel on?”. Sorrisos.
E este concerto foi daqueles que se pode considerar óptimo: teve pessoas a olhar de forma engraçada pelo vidro e, mais importante, houve duas óptimas bandas no aquário que nos deram música, no melhor dos sentidos.
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