violência | fetiche do homem bom – Graziela Costa

violência | fetiche do homem bom

We all fake mankind: afinal, Fernando, não só o poeta é fingidor. Quem o diz é a associação cultural Teatro Nacional 21 (TN21) que se instala no Teatro Nacional Dona Maria II de 28 de Junho a 21 de Julho.

Somos convidados a entrar no universo de Miguel e Gabriel, dois irmãos gémeos que vagueiam entre filosofias de trazer por casa e vidas de prazer violento e violência prazeirosa, entre junk food e  a adoração por Sasha Grey.

Não é a primeira vez que Cláudia Lucas Chéu nos propõe uma dramaturgia que exige espectadores emancipados e “violÊncia” não fica atrás. Depois de “Europa ich liebe dich”, que esteve em cena no Teatro Rápido durante o mês de Março, a TN21  ocupa a sala estúdio do Teatro Nacional com uma performance que aprofunda várias artes em simultâneo – Imagem (vídeo), música, luz, cenografia, dramaturgia, interpretação – criação em torno da ideia de que a violência é uma forma de sermos humanos e que aquela está à distância de uma palavra, apenas.

A inspiração para a peça surgiu, também ela, a partir de propostas essencialmente não teatrais:  «Inspirei-me em músicas de Bach, no filme Funny Games. A primeira parte da peça colhe muito desse filme. A inspiração também surgiu de coisas como a Bíblia e a bondade de Jesus. Trabalhei sobretudo ideias que se encontram na base de cada cena», contou-nos Cláudia em conversa após o ensaio de imprensa. A dramaturga confessou que o texto tinha, inicialmente, o dobro do que tem agora e que foi através do processo de ensaios que acabou por eliminar texto. «Os ensaios demoraram um mês», disse Albano, «mas este é um processo que nunca acaba. Certamente que até à estreia vamos continuar a afinar coisas. O desafio é permamente.»

TN21 propõe-nos um teatro de performance; mais do que contar estórias, o propósito de Cláudia é provocar, fazer pensar, convocar o espectador a fazer parte do que está a assistir.

Miguel Raposo, Solange Freitas e Rúben Gomes partilham o palco com Albano.  Solange já tinha partilhado um projecto com Cláudia, em Poltrona – monólogo para uma mulher (2011), pelo que já se sentia “por dentro” da linguagem da dramaturgia. Já Miguel chegou aqui através de um casting: Rúben foi convidado para participar nesta produção. «Desconhecia os trabalhos da Cláudia até ver Europa no Teatro Rápido. Quando recebi o convite para participar entrei num processo  de profunda aprendizagem. Já me tinha questionado se seria capaz de fazer este tipo de trabalho. E ainda hoje me questiono se serei capaz!», confessou Rúben, um rosto que, inevitavelmente, associamos aos trabalhos dos Artistas Unidos.

Para além dos nomes que já aqui referimos, a equipa violÊncia conta ainda com Tiago Pinhal Costa e Tiago Cadete (espaço cénico e figurinos), Rui Monteiro (desenho de luz), Vítor Rua (espaço sonoro), Alexandre Azinheira (vídeos), Eduardo Cunha (operação de vídeo), Sara Chéu e Francisco Leone.

“Violência fetiche do homem bom” é uma proposta inquietante, que desassossega e desenraiza. Não nos conforta nem nos proporciona finais felizes em tons de cor de rosa. É uma viagem que começa por assumir que a violência é a própria linguagem e termina na desconstrução desta última. É uma peça onde o branco se usa e se assume para que se possa sujar e ensaguentar. Para que possa ser violento e violentado. E assim se torna humano. Demasiado Humano, diria Nietzsche.

A peça encontra-se em cena de 28 de Junho a 21 de Julho, de quarta a sábado, às 21h15m, e aos domingos às  16h15m. No último dia a sessão acontece com interpretação em língua gestual portuguesa. Os bilhetes custam 13,50€ (sujeito a desconto).

 

 



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