Vodafone Mexefest | Dia 2 (30.11.2013)

Vodafone Mexefest | Dia 2 (30.11.2013)

Nova incursão pela Avenida da Liberdade

A entrada para o Hotel Florida não é óbvia. É preciso dar umas voltas e subir umas escadas até se chegar ao local onde o Mexefest tem lugar, no bar do hotel que dá acesso à varanda com uma bela vista sobre o Marquês de Pombal. É no interior que as A.M.O.R., duo composto por Violet e Honey começam a mostrar o seu hip hop, com uma influência vincadamente norte-americana. Há alguns fãs, mas também há muitos curiosos. Violet e Honey surgem como Yin e Yang. Uma de preto e a outra de branco. Em palco, um equilíbrio perfeito que impressiona pela positiva. A prestar um auxílio fundamental está o DJ Shcuro, que segundo a dupla é “bué da fixe e parece o Drake”. Uma agradável surpresa e lembrem-se que “looser looser is the new cool”.

A próxima paragem é na Igreja de São Luís dos Franceses para ver Moonface, ou seja, no outro extremo da Avenida. É a altura ideal para apanhar um shuttle até lá, e passados 15 minutos estamos à porta da igreja. A parte de baixo está cheia, por isso vamos para a parte de cima. O cenário é magnífico. Uma iluminação minimalista, com um piano em frente ao altar. Spencer Krug encarrega-se do resto com as canções de “Julia With Blue Jeans” no centro do concerto. A dado momento Krug canta “I don’t know if can call this home” para de seguida confessar o seu amor por Lisboa, mesmo que um pombo lhe tenha cagado em cima, segundo o próprio confessa.

Os Daughter são os senhores que se seguem e logo ali ao lado no Coliseu. É a estreia da banda de Elena Tonra, Igor Haefeli e Remi Aguilella em Portugal e entre o público a expectativa é quase palpável. Há muita gente ali para os ver. Serão por ventura o nome mais sonante da noite (sim, eu sei que esta afirmação é sempre discutível) e a banda rapidamente se apercebe da responsabilidade que recai sobre si, logo que sobem ao palco e vêem a quantidade de público que ali está para os receber. A pop dos Daughter é atmosférica. Por vezes mais densa, outras mais rarefeita. Não esconde influências. A voz de Elena Tonra faz lembrar o registo mais suave de Florence Welch. É uma voz frágil e bonita. A guitarra por vezes traz à memória os The XX ou os Sigur Rós (e Jónsi em especial), quando é tocada com o auxílio do arco. As letras de Elena são daquelas que não deixam ninguém indiferente. Melancólicas, tristes, por vezes negras e carregadas de dor: “And if you’re still breathing, you’re the lucky ones”.

Segue-se o momento em que sei que me arrisco a ferir susceptibilidades mas sinto que devo ser sincero e partilhar a minha opinião. Sim, vou escrever sobre o Erlend Øye. O São Jorge, como seria de esperar, estava a rebentar pelas costuras para o ver. É bem conhecida a história de amor e cumplicidade que existe entre o norueguês e o público nacional, seja através dos Kings of Convenience, como Whitest Boy Alive ou simplesmente em nome próprio, como nesta ocasião. Grande parte do concerto foi exactamente aquilo que se esperava que fosse. Erlend igual a si próprio, com a sua viola e a música que lhe conhecemos. Actualmente Erlend vive na Sicília e uma das consequências disso é que se tem deixado influenciar por música italiana. Vai daí a começar a cantar e a escrever em italiano foi um pequeno passo… E foi também isso que veio cá mostrar, acompanhado de um clarinista e de um guitarrista italiano. Terá sido o momento awkward da noite e marcou também a saída de algumas pessoas da sala. Não resultou.

No Ateneu tocavam os peixe:avião, infelizmente muito prejudicados pelas condições sonoras do espaço. O novo álbum da banda não é simplesmente um acto de coragem, pela forma como corta com o passado. É um belo álbum e os bracarenses mereciam melhores condições para o mostrar.

De regresso ao São Jorge para ver o inevitável The Legendary Tigerman e mais uma vez o Mississipi desagua por Lisboa. Com Paulo Furtado já sabemos bem aquilo com que podemos contar. Rock e blues. Sem espinhas. Sem rodeios. Directos ao assunto. Mas também não é menos verdade que o efeito novidade já não é o mesmo. Daí que saiba bem ver as mudanças que Furtado procura fazer, primeiro com a presença de Rita Redshoes para cantar a nova «Wild Beast», depois com Felipe Costa nos teclados e com um jogo de pernas desconcertante. Por último, mas não menos importante, (antes pelo contrário!), Paulo Segadães na bateria. Se no Optimus Alive! ficou no ar a ideia de que o Tigerman tem muito a ganhar em passar a incluir pelo menos mais um elemento em palco, ontem isso ficou evidente. Houve «Naked Blues», «Big Black Boat», «And Then Came the Pain» e também uma investida de Furtado pelo meio do público, mesmo a fechar o concerto. Fica também a nota para a “guerra” travada entre Tigerman e os elementos do staff da sala que lutaram com todas as suas forças para manter todas as pessoas nos seus lugares e no final acabaram mesmo por conseguir levar a sua avante.

O encerramento das festividades ficou a cargo do pessoal da Discotexas e do seu Picnic. Por isso, após o final do concerto do Tigerman, houve ainda tempo para mais uma viagem até ao Coliseu dos Recreios onde Moullinex actuava em formato banda com um único objectivo: pôr toda a gente a dançar. Pois fiquem a saber que conseguiu.

Fotografia por José Eduardo Real.



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