Vodafone Mexefest 2015 | Antevisão
O dom da ubiquidade
Se pudesse ter algo durante os dois dias do Vodafone Mexefest escolheria o capacidade de ser ubíquo. Sim, omnipresente. Estar em todo o sítio. Quando quisesse. O tempo que quisesse. Seria perfeito e a única forma de não deixar escapar nada. E como imaginar não custa, as linhas que se seguem assumem que isso é possível.
Quinze. É esse o número de espaços que vão dar corpo ao Mexefest deste ano. Alguns espaços encerram em si uma beleza ímpar, como a Sociedade Portuguesa de Geografia. Outros guardam entre as suas paredes inúmeras memórias de concertos passados, como o Coliseu dos Recreios. Outros são tão improváveis quanto apetecíveis, como o Tanque, que é nada mais nada menos que a antiga piscina do Ateneu Comercial de Lisboa. Em comum este locais têm a música, muita música a ligá-los e a Avenida da Liberdade vai ser a artéria que nós vamos percorrer, freneticamente, que nem sangue nas veias.
Respirem fundo… Prontos? Vamos a isso.
É Sexta-Feira. Pode ou não chover. Não irá importar em demasia porque vamos estar felizes, de espírito aberto e prontos para partir à descoberta. 20h. Na Sala Montepio do São Jorge toca El Salvador, projecto paralelo de Salvador dos mui recomendáveis Capitão Fausto. É punk lambido por psicadelismo a abrir. Ao mesmo tempo na casa do Alentejo toca Janeiro que é o apelido do Henrique e que canta a certa altura “às vezes dizes tanta merda / embora não saiba viver sem ti / acho que sais fora de mim”, tudo servido numa embalagem de pop com pinceladas de influência brasileira. É para começar bem a noite. 20h30. Sociedade Portuguesa de Geografia. Tó Trips, meia parte dos Dead Combo, serve o seu cocktail de influências, que vai do fado, ao rock, passando pelos blues. Anna B Savage estará na Igreja de São Luís dos Franceses pela mesma hora e algo me diz que será memorável. 20h45. Na Garagem da EPAL tocam os Cave Story, sinónimo de rock. Os Villagers e LA Priest dividem protagonismo pelas 21h20,os primeiros no São Jorge e os segundo mesmo do outro lado da rua, no Tivoli. Não fosse o dom e teria de atirar uma moeda ao ar para decidir o que ver. Pelas 22h o protagonismo será repartido entre os Do Amor e os Chairlift. Se os primeiros orbitam em torno do tropicalismo rock made in Brazil, já os segundos deixam os teclados e os sintetizadores falar mais alto. Em comum há o propósito de nos colocar a dançar. Assim seja.
A partir das 23h há Ducktails, ou seja Matt Mondanile, um nosso velho conhecido, com a diferença desta vez trocar o aquário da ZdB pelo espaço bem maior do Tivoli. Também há uma lenda viva que dá pelo nome de Roots Manuva pela mesma hora na Estação do Rossio e às 23h30 há os Bully de Alicia Bognanno na Garagem da Epal trazem o rock dos 90 de volta à nossa memória.
É nesta alturas que agradeço do fundo do meu coração pelo dom da ubiquidade. Quando passarem 20 minutos da meia-noite é esperado um terramoto no Ateneu; os responsáveis serão os Titus Andronicus. 10 minutos depois e com um Mercury Prize acabado de ganhar, actua ali mesmo ao lado, no palco do Coliseu dos Recreios, Benjamin Clementine.
Sábado. Jenny Hval terá, por ventura, um dos objectos mais estranhamente sedutores editados este ano, que dá pelo nome de “Apocalypse, girl”. Não a ver deveria ser punível com uma coima (no mínimo!).
Mas a verdade é que ao mesmo tempo também há They’re Heading West na Casa do Alentejo. Felizmente a ubiquidade não me abandonou de um dia para o outro. 21h. A Sociedade Portuguesa de Geografia vai receber o brasileiro Castello Branco naquele que tem tudo para ser um dos momentos mais bonitos da noite. Quem conhece um álbum que dá pelo nome de “Serviço” compreenderá, com toda a certeza, o que quero dizer. O celebrado “Auto Rádio” do Benjamim marca presença na Estação do Rossio a partir das 21h20 e os regressados Best Youth estarão pelo São Jorge. O Coliseu recebe Ariel Pink a partir das 22h, sempre imprevisível e inclassificável. O funk de Da Chick tratará de encher o Tanque a partir das 22h20 e os Glockenwise testam a resistência das paredes do Ateneu alguns minutos depois. Bombino é sinónimo de virtuosismo na guitarra pela mão de um tuaregue e é imperdível, acreditem. Quase que poderia dispensar a ubiquidade aqui, não fosse Nicolas Godin estar ao mesmo tempo no palco do Tivoli. A Peaches estará pelo Tanque a partir das 23h30 a ser igual a si própria e o Palácio da Foz recebe os fantásticos Cachupa Psicadélica com o seu rock experimental criolo.
Patrick Watson é um caso singular, pela forma como mantém uma relação discreta mas tremendamente saudável com o público nacional. Para ser ainda um daqueles segredos bem guardados. Para (re)descobrir, quando passarem 20 minutos da meia noite. E como Mexefest que é Mexefest se termina a dançar, há Seven Davis Jr no Palácio da Foz e Meu Kamba, o mais recente projecto do incontornável D-Mars, desta vez a pegar em sonoridades de Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe e a baralhar para nos trocar as voltas da melhor maneira possível.
E agora sim, podem descansar…
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados