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Vodafone Mexefest | DIA 1 (24.11.2017)

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Após a chuva que tinha caído durante os dias anteriores, pairava sobre a Avenida da Liberdade uma temperatura meio tropical, que prometia fazer suar as estopinhas ao público do Vodafone Mexefest que percorreria aquela veia da capital em busca dos seus nomes favoritos num cartaz bastante luxuoso. Se a natureza principal do Mexefest é dar a conhecer novos artistas ou bandas que estão a rebentar naquele preciso momento, não deixou de abarcar em 2017 um punhado de nomes bem conhecidos e amados pelo público nacional.

Às 18h, em frente ao Coliseu, já se formava uma pequena fila para apanhar a pulseira mágica que desbloqueia as portas dos diversos locais onde decorrem os concertos do festival. Apesar de contar com algumas dezenas de pessoas, a fila avançava a bom ritmo. Cumprida a formalidade, dirigimo-nos para o Capitólio, a única sala que tinha som por esta hora, onde estreámos a valiosa pulseira. Tendo por base o nome, será relativamente fácil descortinar o género de discos que os Funkamente giraram. A dupla constituída por Midnight (André Granada) e Bungahigh (Tiago Pinto) provocou os primeiros movimentos dançantes através de funk, maioritariamente old-school, em pleno terraço do espaço recentemente renovado.

Descemos até ao exterior do mesmo edifício para nos centramos no palco Bastidores, um dos novos poisos da edição deste ano. A cortina subiu para assistirmos à demonstração de poder dos Kilimanjaro, com o hard rock em todo o seu esplendor. Movidos por uma secção rítmica avassaladora, o power trio de Barcelos demonstrou que é uma locomotiva bem oleada, trazendo à baila nomes como Motörhead ou Metallica dos primórdios.

Descemos a avenida sob o signo da dúvida: escutar um dos discos nacionais mais bonitos deste ano ou aquecer ainda mais os ânimos. Abdicámos a muito custo da prestação de Tomara para rumarmos à Casa do Alentejo para bailar com os Fogo Fogo. E que festival de dança proporcionou este colectivo com os pés assentes em Lisboa mas a alma em África (tal como muitos dos projectos onde entram Francisco Rebelo e João Gomes). “Dancem o funaná como souberem e quiserem”, apregoava David Pessoa; apelo a que o público que lotava o lindíssimo salão da Casa do Alentejo seguiu à risca, até porque era humanamente impossível permanecer quieto.

Aproveitámos o curto trajecto até ao Coliseu dos Recreios para repor a temperatura e chegámos com o concerto de Washed Out já em andamento. Adaptando-se às dimensões da sala, o trio apostou numa veia mais electropop do que na sua igualmente adorada costela dream pop/chillwave, de forma a fomentar a dança no recinto maior do Mexefest. A banda liderada por Ernest Greene repartiu generosamente o alinhamento pelos diversos trabalhos, conseguindo certamente agradar à maioria.

Tentámos regressar à Casa do Alentejo, mas a fila para entrar saía largamente das portas do estabelecimento. Foi pena, porque o cruzamento entre Songhoy Blues e aquele palco era um dos mais interessantes em todo o cartaz, em nosso entender.

Como alternativa fomos até à Garagem EPAL onde pontificava àquela hora Hak Baker, artista saído das cinzas da B.O.M.B Squad. Apenas com o EP “Misfits” editado, o londrino largou a agressividade do grime para dar corpo a composições recheadas de alma, piscando o olho à folk, em que a cereja no topo do bolo acaba por ser a sua dinâmica voz, que tanto nos relembra o reggae como o R&B. Pena que o som da garagem não estivesse nas condições ideais para apreciar condignamente a sua arte.

De volta ao Coliseu, era hora de Destroyer ter os holofotes sobre si para interpretar algumas das novas canções presentes no recentíssimo “Ken”. Dan Bejar e a sua autêntica orquestra, com sete elementos, trouxeram-nos a doçura envolvida em eloquência. Sempre que chegavam as partes instrumentais, nas quais brilhou especialmente o saxofone, Dan agachava-se e permitia que a banda brilhasse, enquanto dava mais um trago nas cervejas que levou para o palco. O som tornou-se por vezes algo difuso, provavelmente devido ao elevado número de músicos em acção.

Seguiu-se uma escalada pela Avenida da Liberdade, tendo como objectivo o actuação de Samuel Úria e convidados especiais, nome eleito à última hora para suprir o cancelamento de Jessie Ware. No entanto, acabou por ser uma caminhada feita em vão dada a quantidade de pessoas que transbordavam do hall do Cinema São Jorge e que, após uma pequena espera, nos levou a desistir desta missão.

Restava retemperar forças e aguardar um pouco pelo início do espectáculo de Orelha Negra que encerraria da melhor forma o dia inaugural do Vodafone Mexefest. Abriram com o novo single «Ready» e seguiu-se uma série encadeada de temas, numa espécie de medley que deixou o muito público desde logo rendido. Apostando numa forte componente visual, o colectivo português demonstrou que não encarou de forma leviana a honra de encabeçar uma noite de festival na capital. Mais uma performance primorosa assinada pelos suspeitos do costume: Samuel Mira, DJ Cruzfader, Fred Ferreira, Francisco Rebelo e João Gomes (sim, novamente estes dois!).

Era altura para repousar o corpo para a etapa complementar do festival da Avenida.

Leiam e vejam a reportagem do segundo dia do Vodafone Mexefest 2017 aqui.

Fotografia por Raquel França



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