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Vodafone Paredes de Coura | Dia 4 (19.08.2023)

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Texto por Álvaro Graça e fotografia por Rui de Freitas.

Depois de 20 horas de chuva, ora grossa ora branda, os pingos pararam exactamente à hora que soavam os primeiros acordes do dia de fecho da edição de 2023 do Vodafone Paredes de Coura. O céu pareceu querer oferecer tréguas para que todos se deleitassem ao máximo na hora da despedida.

Às 17h30 ecoaram os instrumentais profundos e misteriosos dos indignu no Palco Yorn, quase que preparando o terreno para os Explosions in the Sky mais tarde, embora ainda houvesse muita coisa diferente nos entretantos. Sempre em tons soturnos, as composições da banda nascida em Barcelos crescem com calma, preparando-nos para fins mais apocalípticos e quase sempre surpreendentes, com os cambiantes de ritmo e de sonoridade proporcionada pelo naipe de instrumentos em acção.

Fomos obrigados a sair durante o concerto inaugural pois aprestava-se para brilhar no palco principal Lee Fields e os seus The Expressions. E foi indubitavelmente o concerto mais amoroso do trigésimo Vodafone Paredes de Coura. O crooner vindo dos blues, sempre cheio de alma, distribuiu mensagens de amor, carinho e atenção a cada canção que deu vida com o seu timbre rouco tão marcante. É caso para dizer que Lee Fields tornou o pôr-do-sol ainda mais bonito e emocionante.

No palco secundário assistir-se-ia à banda revelação desta edição. Os neerlandeses YĪN YĪN merecem esta distinção, com a qual ficaram mais uma vez boquiabertos, tal e qual foram estando ao longo do concerto, perante tão efusiva e festiva reacção à frente dos seus olhos. Tocando sempre em ritmos contagiantes, repescados e apreendidos em diversas paragens do globo, este quarteto assemelha-se a uns Khruangbin em esteroides.

Cada vez mais desgostosos com a sua Grã-Bretanha, foi esse o espírito que os Sleaford Mods tentaram derramar a cada gota de suor da sua prestação. Jason Williamson transpirando rimas ácidas em modo imparável, e Andrew Fearn suando a cada passo de dança mais mundano que o anterior, aos quais se entrega logo após carregar no Play a cada faixa. Para quem já assistiu a espectáculos desta dupla não há muito mais a acrescentar, a não ser apreciar os temas novos e voltar a desfrutar daqueles que mais prezamos do seu catálogo.

Assinalar os vinte anos do seu álbum “The Earth Is Not a Cold Dead Place” era o móbil da vinda dos míticos Explosions in the Sky ao festival minhoto. E que celebração portentosa assinaram no Palco Vodafone, rodeados de uma admirável falange de melómanos que conhecem o disco de fio a pavio, como se comprovava facilmente através da linguagem corporal com que ia deglutindo o espectáculo. Com uma atenção e dedicação excepcional a todos os detalhes das magnânimas composições que «The Earth Is Not a Cold Dead Place» abarca, o grupo texano mostra que as mesmas não perderam poder de fogo, e que é a sua intemporalidade que faz cada elemento da banda abraçá-las com este carinho palpável.

E, para que os monstros anteriores não ficassem a sós em termos de superbandas neste suculento Sábado em Paredes de Coura, o palco principal acolhia os ansiados Wilco, que haviam passado demasiados anos afastados deste rectângulo à beira-mar (a Rua de Baixo teve a honra de poder entrevistar alguns elementos da banda, e podem ler tudo aqui). Reconheçamos que não deve ser fácil seleccionar um alinhamento, por entre tantos tesouros que Jeff Tweedy e companhia têm coleccionado ao longo da carreira. Ou, então, é fácil, dado que funcionará de qualquer forma. Em Paredes de Coura os Wilco demonstraram precisamente a riqueza do seu portefólio, soando a superbanda a cada canção entoada, independentemente da etapa da carreira donde estas viessem, sabendo-se que o seu compasso nunca está igual. Dado que não estrearam nenhuma do trabalho que estava por vir, “Cousin”, pede-se que os Wilco regressem em breve à nossa companhia para nos apresentarem os novos êxitos em carne e osso.

E, de um elenco de músicos em palco, o palco Vodafone transitou para uma mega intérprete, sozinha em palco. Talvez não pudesse ser mais opostos estes dois concertos. Lorde abriu a actuação ainda em pleno camarim, projectando em directo uma abordagem bem intimista de «Royals» com o mini-teclado a acompanhar. É de salutar a coragem da artista neozelandesa, que “despachou” desta maneira o primeiro super êxito da sua carreira, o que transparece imensa confiança no conjunto de demais trunfos que tinha para cantar. Porém, reconhecendo os dons a Lorde, não deixa de parecer fora de habitat um espectáculo com estes contornos em Paredes de Coura. Uma estrela sem qualquer executante a acompanhá-la em palco, debitando de forma invariavelmente superficial as suas canções, por mais que seja a sua entrega e o modo arrebatado com que os fãs as abraçam. No entanto, e visto que muito boa gente bradava por nomes grandes para o cartaz do trigésimo Vodafone Paredes de Coura, Lorde foi uma escolha eficaz.

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Leiam aqui a reportagem do primeiro, segundo e terceiro dia de festival.



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