Vodafone Paredes de Coura 2013 | Dia #2 (14.08.2013)
Paredes de Coura ajoelhou-se perante os Alabama Shakes e saltou perante o tuaregue Bombino.
A segunda noite do Festival Paredes de Coura arrancou perto das 20h00. Em palco, a crew Moullinex, Xinobi, Da Chick e Miguel Vilhena (também baterista de Savanna) que compõem a The Discotexas Band. Depois de Moullinex trazer as hostes dançantes às margens do Rio Coura na primeira noite de festival, repetiu-se ontem a dose funky no Palco Vodafone FM. Em pouco mais de uma hora de actuação, os músicos e produtores que estão internamente mais ligados à composição em estúdio, provaram, em formato live act, que conseguem agitar o mais duro dos esqueletos.
A vitalidade deste projecto está essencialmente na fibra da construção musical, grande parte dela composta pelo funk e o electro, mas que também aspira muito da discothèque e onde, pontualmente, também se explanam as guitarras do punk-rock. Uma mistura exótica e tropical, sombreada de forma florida pelo inegável poder da frontwoman, Da Chick, que entre o calão urbano e o poder vocal que tão depressa está no blues como no core, atribuí ao instrumental uma dinâmica que acaba por captar e impulsionar a atenção de todos; neste caso, dos poucos que acorreram cedo ao recinto, muito por culpa do calor abrasador que ainda se faz sentir nos finais de tarde e que ao rio convida.
Perto das 21h00, os Unknown Mortal Orchestra.
O projecto do multi-instrumentista e songwriter Ruban Nielson, é uma teia psicadélica e surrealista carregada de um groove que foi paulatinamente em crescendo até conquistar todos.
Os muitos aplausos que a banda arrancou dos que se deixaram levar pela energia dos solos de guitarra e dos efeitos saídos dos pedais, e que tanto nos dizem sobre o mais clássico do rock e o mais forte dos slow’s. Tudo e, acima de tudo, completado com o turbilhão emocional das fortes letras escritas em diário pessoal durante as viagens de Nielson . As letras de “II”, o segundo álbum da banda constituída por americanos e neozelandeses, é um refúgio saturado de emoções cantadas sobre um instrumental a trio de baixo, voz/guitarra e bateria.
O concerto acabou em alta com o público rendido à banda e a banda rendida ao público, manifestando no seu instagram um comentário semelhante ao que muitas outras bandas têm já vindo a manifestar nas várias edições do festival: “First time in Portugal! Maybe the best crowd of our career so far”, e com a promessa de um regresso em Novembro próximo.
Das profundezas dos Estados Unidos chega o nome mais aguardado neste segundo dia de uma semana de felicidade. Falamos dos Alabama Shakes.
Os Alabama Shakes, que até há pouco mais de um ano permaneciam desconhecidos aos olhares de todos, mostraram-se pela primeira vez na edição passada do Super Bock Super Rock, e chegaram ontem a Paredes de Coura com uma legião de fans que os aguardava ansiosamente, já longe dos rótulos de banda revelação. Um reconhecimento veloz e repentino que a banda de Brittany Howard julgaria inimaginável.
Das profundezas do sul dos Estados Unidos até à vila minhota, os Alabama Shakes apresentaram todas as “pérolas” do seu álbum de estreia, “Boys & Girls”, acertadamente considerado um dos melhores de 2012. Os graves do blues que tonificam e contrastam com os agudos gospel, fazem da voz de Brittany uma voz de velhos e novos tempos muito a remeter para vozes como as de Aretha Franklyn ou Janis Joplin. Uma voz que encaixa na perfeição sobre guitarras crescentes e feitas de tonalidades vintage, oriundas do bom rock n’ roll e do rhythm.
Canções como «Hold On», «I Found You» e «Hang Loose» têm estruturas simples mas viragens complexas e absolutamente doces, carregadas de uma enorme dose de sentimento, de feeling, tal como o público que co-habitava um palco secundário que se mostrou demasiado pequeno para acolher todos os que queriam ver e ouvir a roca e incomparável voz de Howard. O mais fácil quando temos um poder vocal tão próprio em palco é que o instrumental fique ofuscado. Pois bem, a surpresa deixou-se vir ao de cima com a banda que a acompanha e que não lhe fica nada atrás. Uma questão de uniformidade e rigor, de equilíbrio, de alma e amor. Tão bem que aqui caíram, e tão bem que têm de cá voltar!
Por volta da meia-noite : Bombino.
Oriundo do Niger e tuaregue da tribo Ifoghas, chega-nos Omara “Bombino” Mactar.
Depois de uma boa receptividade na edição do ano passado do FMM (Festival Músicas do Mundo de Sines), o songwriter chega-nos no pico da sua expansão mundial, na mesma altura em que no norte de África se vivem fortes tumultos sociais e políticos.
Muitos dos festivaleiros que ontem acorreram ao palco Vodafone FM, dizem inclusive que se um nome existisse ontem, esse nome seria Bombino. O artista de world music, que por muitos é tido como o Jimi Hendrix do deserto, trouxe consigo as guitarras ocidentais, os riffs, e o post rock, os avanços e os recuos de acordes que estabelecem pontes onduladas e preenchidas com uma batida presencial a todo o momento e especificamente desordeira em certos momentos para equilibrar ou desequilibrar atitudes, rescindir sonoridades uníssonas e dizer que do experimentalismo moderno e dos sons tradicionais pode advir uma das influências sonoras mais interessantes do nosso tempo. É importante que se catapultem nomes recônditos para os palcos dos grandes festivais. Recordemos, por exemplo, o caso prático do sucesso de Omar Souleyman neste mesmo palco, neste mesmo festival, em 2011.
A noite terminou com o dj set de Headbirds, a contribuir com o minimalismo e o tech-house para delícia de alguns e profundo desgosto de outros. Uma má decisão de programação numa noite que se pode tornar numa das noites inesquecíveis da edição deste ano.
Hoje inaugura-se o anfiteatro natural da Praia Fluvial do Taboão. E no fecho deste texto, faz-se lá fora o sound-check de Jagwar Ma. A partir das 18h00 o dia pertence, entre outros, aos The Knife, Hot Chip, The Vaccines, Everything Everything, John Talabot, The 2 Bears e Veronica Falls.
Fotografia de Graziela Costa
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