Warsaw Village Band

Folk báltico no Fórum Lisboa.

Depois de uma dose nitidamente “hardcore” em Sines, com direito a muita dança ao ar livre, no passado ano, os Warsaw Village Band regressaram a Portugal, dia 23 de Março, para um concerto único na bem recheada sala do Fórum Lisboa. Premiados pela BBC em 2004, com o prémio Novos Valores no capítulo da World Music, traziam já o calo de mais de 150 concertos por mais de 20 países feitos até agora.

O sexteto polaco, constituído por três rapazes (Wojtek Krzak, Maciej Szajkowski e Piotr Glinski) e três raparigas (Maja Kleszcz, Sylwia Swiatkowska e Magdalena Sobczak), bebe inspiração na música tradicional da Masóvia, cuja origem remonta à Idade Média, região historicamente pobre e isolada, facto que explica o recurso a instrumentos de baixo custo como violinos ou a percussão.

Desde logo, pela configuração do espaço, prometia-se um espectáculo mais intimista. Porém, os WVB não se coibiram em mostrar-nos desde o início os dotes na percussão, sendo aos tambores ou ao dulcimer (centenário, da família do banjo, mas tocado com martelos, como se fosse um xilofone) que iam evocar a batida, entrando em força simultânea com as cordas do violoncelo e violinos.

O canto que se faz ouvir, entoado projectando longamente a voz, geralmente em feminino uníssono, fez-nos chegar ao telurismo, relembrando-nos o instinto campestre das bases criativas da banda. Esse canto domina-se de “White Voice”, canto da montanha, divulgado por toda a Polónia, usado na sua maioria pelos pastores.

O momento alto da noite aconteceu com o hipnótico tema “In the forest”, do álbum Uprooting, onde foi posta à prova a mestria de Maja Kleszcz, uma das poucas tocadores de dulcimer na Polónia: o som metálico e simultaneamente doce das cordas desafiou os restantes instrumentos numa melodia que se desenvolveu num crescendo climático.

Mais meditativo e recatado, mas igualmente sedutor, terá sido um despique a duas vozes, violoncelo versus suka (violino do séc. XVI que requer a perícia de se executar a necessária pressão das cordas com as unhas em vez de com a ponta dos dedos), num diálogo com várias tonalidades, em momentos ameno, tomando um trilho rumo a frases mais exaltadas.

A amplitude sonora do conjunto pede ar livre, ou se não, espaço para dançar. A prova disso é que Maciej Szajkowski teve de apelar a que o público se descolasse dos assentos e se aproximasse do palco. Também não foi necessário repetir. Primeiro deram-nos a música sobre a guerra para depois voltarem e devolverem ao público a polka que não tinham dançado anteriormente por estarem colados às cadeiras. Foi na posição vertical que os WVB se entenderam melhor com a audiência.

Há algo no seu estilo que já os faz ir mais longe que o objectivo, já de si muito louvável, de divulgar a sua música de inspiração tradicional: acreditam na simplicidade de cada instrumento, na alma do tocador, não se limitando a seguir a tradição. Enfatizam o espírito de inovação, de madura suplantação, o que mostram na música que fazem e nos espectáculos que apresentam.



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