Why Not You

Alla Polacca e Stowaways em discurso directo sobre o mais recente trabalho.

“We have made thousands of lonely people happy: Why not You?”

Este é o título do registo que une dois projectos num só álbum e que é indicativo daquilo que as duas bandas tencionam mostrar. Duas bandas amigas, vencedoras de festivais e, principalmente, dois projectos com muita qualidade e profissionalismo, que vêm provar que a produção nacional é, na maioria dos casos, muito superior àquilo que importamos. Se fossem ingleses ou até islandeses, tinham muito mais probabilidades de sucesso mas, felizmente para nós, são portugueses.

O álbum é um “split-cd” que nos mostra os dois lados da vida. A melancolia, introspecção e o lado mais sombrio da nossa existência é-nos trazido pelos Alla Polacca, com sonoridades inspiradas no frio do norte da Europa que vêm provar a grande evolução da banda ao longo destes últimos tempos. Contrastando com estes ambientes mais intimistas, os Stowaways apresentam-se cheios de alegria e cor, misturando ritmos e sonoridades, criando um clima de festa e bom astral.

Um álbum perfeito para o Outono onde os Alla Polacca representam aqueles dias mais nevoados e escuros, enquanto os Stowaways são o sol e a claridade.

No âmbito desta cumplicidade entre as bandas, convidámos as duas a responderem às mesmas questões, criando assim uma “entrevista-a-meias”, onde nos explicam um pouco a sua história e os motivos pelos quais resolveram editar este registo em conjunto.

RDB: Podiam fazer um breve resumo da vossa carreira?

AP: Os Alla começaram em Setembro de 2001, com muita vontade de compor, tendo mais tarde lançado uma maquete/ep a “meias” com o projecto old jerusalem. Depois de alguns concertos ao vivo em 2002, e das participações em alguns concursos de música, entraram em algumas compilações (borland, low fly), e em Janeiro de 2003 começaram a preparar a edição dupla “why not you” com os stowaways.

SW: Conhecemo-nos desde a escola secundária. Já tocamos musica juntos há alguns anitos, mas só há cerca de dois, três anos (não me lembro bem) é que começamos com os Stowaways. Fomos vencedores do festival “Termometro unplugged”, participámos na colectânea “Pop up songs 2002” (editada em 2003) e durante os últimos dois anos demos vários concertos pelo país fora. Entretanto, editamos agora um cd juntamente com os alla polacca.

RDB: Conseguem catalogar o vosso som e o vosso estilo musical?

AP: A nossa música entra no pote do pop/rock independente.

SW: É um pouco complicado fazê-lo. Creio que acima de tudo gostamos de escrever canções. Neste momento ainda estamos a descobrir o que queremos realmente fazer. Estamos a dar os primeiros passos.

RDB: Qual a importância dos festivais (concursos) em que participaram, no desenrolar da vossa carreira?

AP: Em relação aos festivais (concursos) creio que foram só uma espécie de empurrão, pois apesar de ajudarem na aproximação à imprensa, nunca influenciaram a forma como nós trabalhamos desde o primeiro dia.

SW: Bem, eu acho que nós ainda não temos uma “carreira”. Temos uma pequena história. Os festivais em que participamos foram importantes assim como tudo que fizemos nestes últimos dois anos. Foi muito bom para nós termos ganho o “termometro”, assim como foi importante termos tocado no palco secundário de Vilar de Mouros, Paredes de Coura, Festival do Tejo e em todos os lados em que tocamos
enquanto “stowaways”.

RDB: O que acham do mercado português e das novas bandas e projectos que têm aparecido? Destacam algum?

AP: Sem dúvida que está a nascer uma nova geração de bandas cá em Portugal, algumas delas com muito potencial. Sim, vários , old jerusalem, stowaways, fat freddy, stealing orchestra, the unplayable sofa guitar, entre outros.

SW: Destaco muitos. Quer dizer, primeiro temos de definir o que significa “projectos que têm aparecido”. A maioria dos “projectos” interessantes que circulam pelo circuito musical português (seja lá o que isso significa) não tem “aparecido. Existem para aí dezenas de projectos interessantes que nunca chegam a sair cá para fora. Gostava de ver um disco dos “Projecto é Grave” ou dos “Essay Collective” nos escaparates. Gostava que os “Sons de Cá” tivessem o disco disponível em todo o país. Existe além de criatividade e competência, muita boa vontade e dedicação da maior parte dos músicos, ou da grande parte das pessoas que fazem música em Portugal.

RDB: Como surgiu este álbum conjunto? Porque não um em nome próprio?

AP: Toda a gente nos pergunta o mesmo. Achamos bem mais interessante fazer uma coisa deste género, pois estamos a juntar 2 projectos que estão a começar. A ideia surgiu algures em Janeiro de 2003. A vitória no termometro unplugged 2003 facilitou as coisas pois apresentámos uma alternativa à organização (juntar os prémios), o que acabou por ser bom para todos.

SW: A ideia do álbum conjunto já existe há mais de um ano. Antes mesmo dos Alla terem ganho o termómetro. Seria uma edição de dois EPs num único cd, e planeámos inclusive compor algo em conjunto. O nosso interesse era sobretudo editar um disco de cada banda e este formato, além de nos parecer interessante, era o mais indicado para as nossas possibilidades no momento. Acima de tudo, enquanto autores, queríamos e queremos publicar aquilo que fazemos. Encaro este disco um pouco como encaro um livro de banda desenhada com dois contos, de dois autores.

RDB: O que acham dos vossos colegas de álbum? Uma opinião sincera.

AP: São fabulosos. têm melodias contagiantes. e são músicos muito criativos.

SW: Temos uma grande consideração e admiração por eles. Caso contrário, não teríamos alinhado nesta ideia de livre vontade. No entanto, o facto de termos uma edição conjunta não significa que as duas bandas são extremamente próximas musicalmente. Não seria tão interessante se assim fosse. Existem pontos de contacto entre nós que a meu ver não são necessariamente óbvios.

RDB: Vão promover o álbum em conjunto?

AP: Sim, é uma das vantagens duma edição deste género, a facilidade em promover duas bandas ao mesmo tempo.

SW: Já o começámos a fazer. Os dois concertos de lançamento foram em conjunto e planeamos fazer mais.

RDB: Estrangeiro é uma hipótese?

AP: Neste momento isso não terá muito interesse, pois achamos ser mais importante focarmo-nos na promoção cá. Aliás, por enquanto não faz sentido pensar de outra maneira.

SW: Depende do ponto de vista. Acima de tudo, a questão da exportação é uma questão de política económica. O nosso país nem consegue apoiar a indústria musical interna, muito menos tem a capacidade financeira de investir em mercados externos. Temos de pensar uma coisa de cada vez, e a nossa preocupação agora é conseguir fazer uma segunda edição do disco. E este disco pagar o próximo. E que o próximo seja melhor e chegue a mais gente, criando assim um ciclo. Apesar de tudo, acho que é possível chegar a alguns circuitos ditos “alternativos” noutros países da Europa. Só a título de curiosidade, ate temos contactos para tocar nos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e noutros países, só que não temos estrutura
financeira que nos suporte o investimento.

RDB: A parceria é para continuar em próximas edições ou foi só uma experiência?

AP: Estas coisas são sempre uma experiência nova (apesar de já termos lançado um ep com o projecto old jerusalem), esperamos no futuro lançar mais discos no formato “split” com outros projectos que achemos interessantes.

SW: Não sabemos ainda. Queremos é continuar a escrever canções e a editá-las. Não temos preconceitos em fazer discos com outras pessoas, assim como os Alla Polacca. Gostaríamos de gravar outro disco em 2004 e ainda não sabemos como vai ser. A nossa intenção era escrever canções para a Disney ou para alguma cantora romântica com problemas de dependência alcoólica. Podemos, no entanto, acabar
por fazer um disco com uma banda de coreto, ou gravar uma série de canções despidas num gravador de 4 pistas. A ver vamos.
RDB: O que destacam musicalmente do ano de 2003?

AP: Temos a destacar alguns discos muito bons, como o de old jerusalem, que sem dúvida é um dos melhores do ano, também acho muito interessantes os discos de bildmeister, norton, fat freddy, stealing orchestra, e o vrz da editora Matarroa.

SW: Além da “Operação Triunfo”, do “Ídolos” e dos debates acerca da reabilitação da música portuguesa cantada em português, inspirada nas raízes culturais portuguesas e tocada com instrumentos tradicionais portugueses, acho que houveram muitos bons discos e concertos de músicos portugueses neste ano. Old Jerusalem, Mesa, Legendary tiger man, Coldfinger, Azembla´s Quartet, Ovo, O projecto é grave, Insert Coin, Grace, Fausto, Belle Chase Hotel, Radio Macau, Loto, Gomo, Sons de Cá, Gift, Essay Colective, David fonseca, In Her Space, Fat Freddy, Stealing Orchestra,Toranja, etc…

RDB: Digam uma mensagem que queiram transmitir aos vossos colegas de álbum.

AP: Desejo que continuem a trabalhar como fizeram até aqui, sempre sem perder motivação.

SW: Não há necessariamente nada que não possamos dizer pessoalmente, mas desejo o melhor para o futuro deles enquanto banda e espero que continuem a fazer boa música.



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