wilco-by-Peter-Crosby_2-

Wilco | Entrevista

Falámos com com Glenn Kotche (bateria), Nels Cline (guitarra) e Mikael Jorgensen (teclados) dos Wilco, uma horas antes de subirem ao palco em Paredes de Coura.

Os Wilco não precisam de apresentações. A banda de Chicago é uma instituição americana no que ao rock com raízes mais alternativas e folk concerne. A pouco tempo de editar o décimo terceiro álbum de estúdio, “Cousin”, a banda passou pelo palco principal do Vodafone Paredes de Coura, onde nos ofereceram 75 maravilhosos minutos de música, com foco apenas no material já editado, até porque, segundo a própria banda nos confidenciou, está cada vez mais complicado montar a setlist, dada a quantidade de canções disponíveis.

Tivemos a oportunidade de conversar um pouco com o baterista Glenn Kotche, o guitarrista Nels Cline e o teclista Mikael Jorgensen. Uma conversa curta, é certo, mas não menos interessante. Falou-se sobre o novo álbum, sobre como foi trabalhar com a Cate Le Bon, sobre os 20 anos do “Yankee Hotel Foxtrot” ou o processo de trabalho de Jeff Tweedy, que mesmo ausente do camarim, foi quase como se estivesse estado ali, tal o impacto e presença que tem na banda.

Rua de Baixo (RDB): Em primeiro lugar, bem-vindos de volta. Passou demasiado tempo desde o vosso último concerto cá (N.E.: foi no Primavera Sound no Porto em 2012). Estão quase a lançar um novo álbum, “Cousin”. O primeiro single chama-se «Evicted», e é um bonita e melancólica canção, bem ao estilo dos Wilco. O que mais podemos esperar do álbum?

Mikael Jorgensen: Acho que essa música é uma espécie de anomalia no disco, para ser honesto. Para mim, é a que soa mais fora do disco, como as coisas anteriores que poderíamos ter feito, mas é uma bela canção. Tem uma ponte fantástica, mas acho que o resto das canções, sim, são um território sonoro diferente neste disco, e que não soa como nenhum dos discos anteriores.

RDB: A próxima pergunta tem mesmo a ver com isso. Foi uma surpresa quando soube que seria a Cate Le Bon a produzir o novo disco, principalmente porque vem de um quadrante completamente distinto. Como é que tudo aconteceu? Como foi o processo de produção?

Nels Cline: Bem, a ideia foi do Jeff. Ele passou-a por todos nós; se queríamos que a Cate Le Bon entrasse e todos dissemos que sim. Acho que isto é bastante indicativo da forma como o Jeff trabalha e pensa. Por vezes, ele só quer experimentar coisas diferentes. A experiência foi muito agradável. A Cate tinha muitas ideias sobre o som que queria da guitarra. Por vezes conseguia descrevê-lo de três formas específicas, outras vezes era mais uma metáfora ou uma comparação com outra coisa qualquer. Ela gosta de pedais japoneses e o Jeff tem um monte de pedais no loft. Por isso, experimentei diferentes pedais e diferentes sons e tentei tornar o sonho dela realidade. E depois ela e o Jeff trabalharam depois de gravarmos tudo, acho que durante bastante tempo, a mexer no som.

Glenn Kotche: OK, sim, quero acrescentar que ela actuou no nosso festival “Solid Sound” (N.E.: Trata-se de um festival organizado e curado pelos próprio Wilco que ocorre no sopé das Montanhas Berkshire, no Massachussetts), e gravou uma canção nossa para uma compilação (N.E.: «Company In My Back», editada em Novembro de 2019 pela revista Uncut), por isso éramos amigos dela e sabíamos que a sua personalidade iria funcionar, mas fiquei bastante surpreendido com a quantidade de trabalho de casa que ela fez. Porque, sabes, há 12 canções no disco, mas havia talvez umas 20 canções. Ela conhecia cada uma delas de trás para a frente, sabia o que queria nelas… ideias muito específicas, detalhes como letras, partes de percussão e outros sons, por isso, sim, diverti-me imenso.

RDB: Em 2022 assinaram os 20 anos do “Yankee Hotel Foxtrot”. É um álbum de referência na carreira dos Wilco, não só pelas canções que tem, mas também pela história à sua volta. Como se sentiram ao tocar essas canções, volvidos 20 anos?

Mikael Jorgensen: Para mim, foi um pouco diferente. Quando entrei na banda, estava a trabalhar no estúdio de gravação onde o disco estava a ser misturado. Fui uma das primeiras pessoas de fora a ouvir aquele disco a ser gravado e lembro-me de me sentir tão impressionada com ele. Apenas a sensação geral dessas gravações e dessas canções e o facto de as termos tocado com o maior rigor possível. Diverti-me imenso a nível técnico, voltei a usar uns samplers antigos da Akai e umas drives zip, e arranjei um software que me permite pegar nas samples antigas que costumavam ser activadas e colocá-las no meu computador, como algumas amostras realmente vintage, por isso, nessa parte, foi divertido, foi muito agradável.

RDB: De álbum para álbum, embora sempre reconhecíveis, há algo que muda nas vossas canções. É algo deliberado, que procuram sempre ou que simplesmente acontece?

Nels Cline: Sim, acho que muitas vezes a maioria das canções vem na forma de uma canção folk básica, que o Jeff escreve em casa e há outros casos em que criamos coisas juntos, mas muitas delas vêm assim e algumas são gravadas dessa forma. Como, por exemplo, “Cruel Country”, em que muitas vezes “vestimos” as canções para serem muito diferentes. Viramo-las de cabeça para baixo e do avesso, tentando levá-las para um sítio diferente, que está longe de ser uma simples canção folk.

Glenn Kotche: No fundo, há sempre uma canção no centro e depois é um pouco como decoramos a árvore de Natal.

“Cousin”, foi editado dia 29 de Setembro e está disponível nas lojas e em todas as plataformas digitais.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This