Wolf Alice @ Coliseu dos Recreios (31.10.2022)
É dia de Halloween e há gente mascarada no Coliseu. O concerto acontece cedo, às 20h, tendo em conta o que são os horários habitualmente seguidos por cá e a noite é longa e cheia de festas e eventos. Para além disso, segue-se um feriado. Mas está pouca gente. Vivemos tempos de incerteza e este cenário será certamente um reflexo disso. No entanto, também nos passa pela cabeça se o espaço em si não terá sido um pouco ambicioso à partida. A banda de Ellie Rowsell, Joel Amey, Joff Oddie e Theo Ellis, passou por Portugal este ano, na primeira parte de Harry Styles na Altice Arena, o que certamente lhes terá granjeado mais alguns fãs.
Passam poucos minutos das 20h quando o concerto arranca ao som do tema dos Ghostbusters. Uma daquelas canções que toda a gente conhece, mas quase ninguém sabe quem é o autor. É Ray Parker Jr., caso estejam curiosos. A banda surge em palco pintada a rigor e lançam-se a «Smile». Passaram cinco anos desde a última vez que nos cruzámos, então no palco secundário do NOS Alive!, e o crescimento é evidente. A todos os níveis.
Segue-se um regresso ao passado, com «You’re a Germ» com uma teenage angst palpável. É uma entrada a varrer. Em palco Ellie Roswell começa a mostrar a sua versatilidade. Se com a guitarra demonstra uma pujança incrível, quando não a tem, continuam a não lhe faltar argumentos.
As canções de “Blue Weekend” permitiram-lhes subir mais uns degraus. E fazem-no sem perder a sua identidade. Outro aspecto que salta à vista (e ao ouvido), é o protagonismo saudável que os teclados ganham ao vivo nalgumas das canções. Estará pouco mais de meia casa e a plateia apresenta uma heterogeneidade etária um pouco surpreendente, e que recebe com um sorriso, a belíssima «Lipstick on the Glass».
O volume da voz tem sempre a tendência de começar sempre mais baixo do que os restantes instrumentos, e quando o corrigem parece que tudo melhora. Com «Bros», o chão do Coliseu estremece, tal o entusiasmo com que é recebida. «Safe From Heartbreak (If You Never Fall in Love)», é interpretada com um foco de luz a projectar a sombra de Ellie no pano ao fundo do palco. Continua-se por “Blue Weekend”, desta vez ao som de «How Can I Make It OK?» e soa bem. As letras estão na ponta da língua de muita gente. A entrega que se observa compensa a falta de ocupação de espaço e isso acaba contagiando a banda ao longo da actuação.
Há canções que nos levam aos píncaros, outras que nos fazem parar um pouco, mesmo que por um par de momentos, antes de seguirmos com as nossas vidas. Não é algo mau nos dias que correm. Alguns até o consideram um bem precioso. Segue-se a grandiosidade e delicadeza de «Silk».
«Visions of Life», tema título do álbum homónimo que valeu à banda o Mercury Prize, é uma boa demonstração para perceber como o contributo de cada elemento torna a soma das partes em algo ainda maior.
Para o fecho ficam «No Hard Feelings» e «Giant Peaches» e um longo aplauso, apenas interrompido com o regresso ao palco onde, pela primeira vez desde que “Blue Weekend” é tocado ao vivo, tocaram «Lisbon». Naturalmente. Para o final ficaram, a bela «The Last Man on Earth» e o medo de compromisso perante o amor que «Don’t Delete the Kisses» nos traz.
Os Wolf Alice revelaram-se uma banda extremamente competente em palco, que sabe gerir muito bem os vários momentos do concerto, e que sobressai com pequenos detalhes e pormenores, como o uso eficaz da luz sobre uma simples cortina sobre o fundo do palco, ou a forma simples e directa como se dirigem à assistência. Um belo concerto. Honesto e intenso em doses muito bem equilibradas e que teria sido ainda melhor numa sala mais pequena.
Texto por Miguel Barba e fotografia por Andreia Carvalho.
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