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Wolfenstein 2: The New Colossus | Análise | Switch

Surpreendente mas sem fio condutor.

O sucesso do DOOM na Switch foi a mensagem que o estúdio Bethesda precisava para ter fé na nova consola da Nintendo. Portanto, não foi muito surpreendente saber que a sequela da outra antiga franquia que o estúdio está a reviver, Wolfenstein 2, também iria sair para a consola, embora mais tarde. A equipa responsável pelo transporte do jogo para a Switch, a Panic Button, tinha grandes expectativas para superar, pois o “port” do DOOM é considerado quase como um milagre tecnológico, visto que o jogo manteve uma excelente qualidade visual mesmo numa consola com menor capacidade gráfica que a dos concorrentes. Infelizmente, a equipa não foi capaz de repetir a façanha. Apesar da experiência funcionar bastante bem (na maior parte do tempo), o jogo não é bonito, mesmo quando a consola está conectada à televisão. Quando em modo portátil, chega a ser frustrante – por vezes parece que estamos a jogar no meio de um nevoeiro de texturas desfocadas, intervalado por quedas da framerate que distorcem, embora raramente, cutscenes e segmentos de jogabilidade. Isto não foi suficiente para me fazer desistir da experiência, mas a Switch não é a melhor consola para este jogo. No entanto, pondo de lado o aspecto visual, Wolfenstein 2 é um título cativante com uma das histórias mais loucas que vi num vídeo-jogo moderno. Foi, sem dúvida, uma trip memorável, todavia acho que havia muito espaço para melhorar e, neste caso, não uso “memorável” como um termo totalmente positivo.

No início do jogo é-nos dada a opção de ver um “resumo” dos eventos do primeiro Wolfenstein. Como não joguei o título anterior, decidi aceitar, sem saber da espera que teria de aguentar. 3 minutos de flashback não é muito, mas agrava a já extensa duração do prólogo. Tudo junto resulta numa espera de 15 minutos até o jogo “realmente” começar. Uso as aspas porque, quando somos lançados ao primeiro nível, o protagonista está numa cadeira de rodas, algo que a jogabilidade reproduz fielmente, pois é uma chatice guiar a cadeira enquanto tentamos disparar contra os nazis. Mas antes, algum contexto: estamos no futuro de um passado distópico onde o exército do Hitler ganhou a segunda guerra mundial e conquistou meio mundo, se não todo. Nós controlamos o corpo de William J. Blaskowicz, um dos capitães das forças da resistência. Esta é composta por personagens de todos os tamanhos e feitios, sem poupar nos estereótipos. No entanto, as figuras principais foram bem desenvolvidas e é fascinante ver a sua evolução ao longo da experiência. As personagens terciárias também vão mudando ao longo do jogo, tendo quase sempre novos diálogos depois de uma missão; algo que dá vida ao navio onde todos residimos, mas isto não me ajudou a orientar-me pelos seus corredores idênticos – perdi-me várias vezes. Felizmente, é muito mais fácil andar pelos níveis do jogo – que alternam entre cidades de vários graus de destruição e bases alemãs com soldados nazis muito opinativos. Volta e meia podemo-nos encontrar em salas de julgamento, velhas barracas com um valor nostálgico para o protagonista e até sets de filmagem. Ou seja, apesar do design paisagístico ser um pouco permutável, em que o sentimento de deja vu  é comum, existem surpresas agradáveis que nos mantém investidos.

Há cenas que revi várias vezes pela performance sublime dos actores e pela realização

No entanto, a jogabilidade não consegue quebrar a sua monotonia. O jogo bem tenta incentivar abordagens diferentes ao dar-nos armas para cada situação e, mais tarde, upgrades ao nosso corpo para melhor servir as nossas preferências de combate – o problema é que o design dos níveis favorece quase sempre a táctica de “entrar (e sair) a matar”. Isto tornou-se super frustrante, pois, ao ver que existia um upgrade para melhorar a abordagem sorrateira, pensei que o próprio jogo iria acomodar melhor este estilo do que no início. Eu bem tentei alguns níveis sem nunca alertar os guardas; gravava sempre que matava um – e perdi horas a recomeçar várias vezes o jogo, porque qualquer coisinha e lá iam os alarmes, chamando todo o xenófobo nas proximidades. Foi sempre a abordagem mais difícil, com ou sem upgrade, nunca recebendo uma recompensa ou justificação apropriada pela minha escolha. Quando chegarem ao ponto de escolher o vosso upgrade físico, lembrem-se de que é, derradeiramente, uma escolha falsa. Não se preocupem, vão saber quando alcançaram este ponto quando virem uma cutscene que deixará qualquer jogador incrédulo ao ponto de paralisia. A narrativa é bastante para-lá-do-topo (over the top), mas esta cena em particular quase que arrasa a nossa suspensão de crença. Se há coisa que recomendo neste jogo é a história, não pela qualidade da narrativa mas pela sua criatividade enfática. Isto é, o jogo tem cenas absolutamente surpreendentes, mas não existe um fio condutor que faça o todo parecer melhor do que a soma das suas partes, antes pelo contrário – a conclusão é algo anti-climática em relação ao resto do jogo.

Talvez eu não seja o público alvo deste jogo. Confesso que cai um bocado ao lado dos meus gostos habituais. Ainda assim, consigo ver o que o torna apelativo para outros jogadores, os fãs de jogos sangrentos de tiros e de histórias Michael Bayistas – atenção, não digo isto no mau sentido. A razão principal por eu ter completado o jogo foi por estar tão embasbacado com a narrativa. Há cenas que revi várias vezes pela performance sublime dos actores e pela realização. Mas, em última análise, a jogabilidade não me motivou tanto quanto isso. Talvez me tivesse divertido mais se eu tivesse adoptado a estratégia de “não usar estratégia” e simplesmente matar tudo o que me aparecia sem método, mas quando um jogo nos convida a experimentar abordagens diferentes e só uma delas funciona, então mais valia estar calado. Portanto, se essa é a vossa estratégia preferida ou se estão a fazer uma lista das Top 10 cenas mais estonteantes nos vídeo-jogos, então não se arrependerão de jogar Wolfenstein 2: The New Colossus para a Switch. No entanto, se têm uma PlayStation 4 ou uma Xbox One e não abdicam de jogar na vossa sala por nada, então o melhor é comprar o título para uma dessas consolas.



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