“Xenia”
Odisseia onírica
O cineasta grego Panos H. Koutras apresentou em Cannes o seu mais recente trabalho, no qual tenta responder à pergunta: Como dizer adeus à nossa juventude? A resposta chega-nos envolta pela crise económica grega (e europeia) e pelas crises existenciais subjacentes à juventude. Contudo, o realizador não se fica por aí e decide tomar como protagonistas da sua história adolescentes apátridas ou imigrantes. Este facto torna tudo mais interessante, pois o foco cai sobre um grupo minoritário abusado pelo governo grego e abusado e perseguido pelos movimentos nacionalistas em expansão, como é o caso do partido neonazi e fascista Chryssí Avguí liderado por Nikolaos Michaloliakos. Trata-se de um partido que se posiciona contra qualquer forma de imigração e que se declara, abertamente, anti-semita, anti-islâmico e, como não poderia deixar de ser, homofóbico.
Para encarnar os dois irmãos foram escolhidos dois actores não-profissionais, que nas suas vidas lidam diariamente com os problemas retratados nos filmes, por entre uma luta constante de forma a garantir um lugar na referida sociedade. Esta decisão relativamente ao elenco era de esperar uma vez que já anteriormente o realizador grego tinha reunido actores profissionais e não profissionais. Kostas Nikouli e Nikos Gelia são incríveis no seu retrato, entregando-se completamente ao filme e elevando o nível de sinceridade nos momentos de alteridade.
A personagem de Kostas Nikouli tem uma presença mais abrasiva, carismática, cativante e exasperante. À primeira vista fará muitos cinéfilos recordarem Xavier Dolan, ainda que de forma mais exagerada e ligeiramente falsa. Nikos Gelia cria uma personagem discreta, que transporta para a história o nível certo de ternura e jocosidade tácita.
O título do filme é significativo, uma vez que significa ‘hospitalidade’, um antigo costume grego caído em esquecimento, aparentemente, nos recentes debates sobre a imigração. Além disso, é ainda o nome da falida cadeia de hotéis que surge no filme e que serve como metáfora visual para o estado de hospitalidade de um país dividido.
Xenia é uma odisseia contemporânea, excêntrica e tingido de fantasia, por entre ângulos de um retrato a uma geração sem leis num país duramente atingido pela recessão. Através de uma viagem, o filme tece uma relação comovente entre dois irmãos adolescentes à porta da vida adulta e das suas consequências.
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