Xiu Xiu plays “Under the Blossoming Cherry Trees” @ ZdB (09.02.2017)

Xiu Xiu performing “Under the Blossoming Cherry Trees” @ ZdB (09.02.2017)

Uma galeria bem composta, de aquário fechado aos habituais olhares curiosos vindos da rua, aguardava a prometida viagem industrial por uma das bandeiras da sétima arte japonesa. Discutia-se o jantar, maratonas de sete horas de cinema japonês e aquela vez em que se viu Xiu Xiu antes de qualquer outra pessoa da sala sequer saber quem eram os Xiu Xiu. De entre as várias línguas, destacava-se um denominador comum: ninguém parecia saber bem ao que vinha. E ninguém parecia particularmente importado com isso.

Aqui reduzido ao formato de duo, o projecto de Jamie Stewart demorou pouco mais de quinze minutos a arrumar-se à direita do palco, sombrio e recatado, entre uma parafernália de fios, objectos espaciais e um set de percussão de encher o olho. Se o evento antevia um público expectante, ainda a pairar na tomada de assalto à banda-sonora de Twin Peaks, rapidamente se instalou a frustração daquilo que – pasme-se – ninguém tinha bem a certeza mas desconfiava que iria acontecer: a projecção integral do filme. Uma hora e trinta e cinco minutos de diálogos em japonês e legendas bem coladas ao chão do palco. Daqui para a frente, desenrolou-se um espectáculo exclusivo para as primeiras filas. Havia quem se empoleirasse nas pontas dos pés e fizesse um ditado ao vizinho do lado, quem simplesmente tivesse desistido e trocado a tela do filme pelo ecrã do telemóvel, e ainda quem lamentasse não conseguir sair para lavar a desilusão numa rodada de imperiais. Não há, de facto, forma de justificar o sucedido. Ainda que fosse uma estreia – como a organização defendeu na página do evento, mais tarde – a verdade é que o mesmo espectáculo se realizou no dia anterior, em Braga, com as devidas condições. Naturalmente, as queixas choviam no rescaldo do concerto e alguém lançava o repto: make ZDB great again. Adiante.

Apesar de um início algo hesitante, com feedback q.b. a interferir na fluência da performance, o duo desdobrou-se em cânticos de guerra, crescendos ensurdecedores e loops electrónicos impossíveis, mostrando um à vontade e uma cumplicidade de quem, realmente, já cá anda há mais de uma década. Uma coisa não podemos negar-lhes: a intensidade que imprimiram a um filme já de si intenso. No entanto, quando duas dimensões tão ricas se unem, torna-se ingrato ter de dividir os sentidos entre ambas e acaba por se perder a harmonia que se espera de um cine-concerto. Tanto somos transportados em transe para uma corrida entre as cherry blossoms como damos por nós a tentar – sem sucesso – ouvir um diálogo ou uma interpretação musical das próprias personagens. Destaque para o final, em que, enquanto uma tela repleta de cor e drama nos enchia todas as medidas sensoriais, Shayna Dunkelman se lançava numa cavalgada suada de percussão, tão acelerada quanto o ritmo de decapitações ao longo do filme. E foi assim, de cabeça perdida, que continuamos a não saber bem ao que fomos – mas ainda bem que lá estivemos.



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