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Yann Tiersen

Uma fatia de céu.

Chega hoje às lojas “Skyline”, o sétimo disco de originais de Yann Tiersen, sucessor do poeirento, cru e muito rocker “Dustlane”, editado no ano de 2010.

Se há dez anos o piano, o órgão e as cordas eram os brinquedos com que Tiersen se divertia a compor, nos dias de hoje é o rock tradicional que o move enquanto músico e experimentalista curioso, com o uso e abuso de guitarras eléctricas e acústicas que dançam ao lado de sintetizadores tresloucados e de vozes que flutuam como fantasmas.

“Skyline” parece ser uma banda sonora composta para um filme de autor de baixo orçamento, daqueles a que só conseguimos assistir se pusermos os pés numa sala de cinema a sério como o King. Uma batalha eterna entre a acústica e a electricidade.

«I´m Gonna Live Anyhow» e «Hesitation Wound» recordam a leveza dos Air, «Exit 25 Block 20» a insanidade sempre bem vinda dos Animal Collective, «Another Shore» a épica e lacrimejante música dos Sigur Rós. Há temas quentes e incendiários, outros de uma calma tranquilizadora que nos fazem descansar em nuvens que são como redes suspensas sobre os telhados do mundo.

É um disco que mostra um Tiersen incansável na arte da experimentação, motivado por uma necessidade constante de ir mais além na sua ideia de paraíso musical. E que mostra, além do talento e da mutabilidade com que o músico francês tem construído a sua carreira, uma faceta humana que não esconde um subtil olhar político sobre o mundo.

Há cerca de uma semana a Rua de Baixo tentou uma entrevista com Tiersen, o que acabou por conseguir mas apenas nos moldes de correio electrónico. Seguem-se as perguntas e respostas que resultaram desta entrevista electrónica.

Luminoso por fora, escuro por dentro. Pode este chavão servir para descrever “Skyline”? Parece que quanto mais bonitas as músicas se tornam em termos sonoros, mais negras soam as letras.

É um disco bastante optimista e positivo, mas é difícil encaixá-lo por inteiro apenas numa linha. É certamente mais coeso e um passo em direcção à luz depois do anterior “Dustlane”. E também pode haver algo escondido nas profundezas das letras que aparentam ser mais escuras. A escuridão e a luz apenas podem existir em conjunto, por decidir qual será o lado bom e qual será o lado mau caberá ao ouvinte.

Para um miúdo que ouça “Skyline” como o primeiro disco de Yann Tiersen, provavelmente falará em influências dos Air, dos Sigur Rós ou dos Animal Collective. Mantém o contacto com a música que está a ser “inventada” nos dias de hoje?

Ouço todos os tipos de música, nova e antiga – boa música é sempre boa música! Diria que enquanto as coisas não me influenciam directamente gosto de estar rodeado por música de excelência. Adoro bandas como TuneYards, Animal Collective ou Deerhoof.

Durante o processo de gravação passa a maior parte do tempo sozinho em estúdio, e só depois disso toca os temas com os outros músicos. Podemos dizer que para si o trabalho de estúdio é como o de um relojoeiro, algo meticuloso para o qual é necessário silêncio e isolamento, e que as actuações ao vivo são o lugar para improvisar e esquecer a forma clássica de composição?

Digamos que adoro disparatar e brincar com os sons quando estou no estúdio, sem caminhar em nenhuma direcção específica, e que isso é mais fácil de conseguir quando estou sozinho; e que quando a canção está terminada gosto de estar numa banda, transmitindo na gravação dos temas um sentido novo e colectivo.

Em «Monuments» ouvimos sussurrar “all monuments of men, they´re sinking in vain”. Como podemos impedi-los de afundar? O que está a humanidade a fazer de errado?

Acabem com o capitalismo hardcore! Obviamente não sou eu que tenho as respostas, mas penso que algo como “capitalismo global ligado a capitalismo local” parece ser um caminho sensível a seguir.

«The Gutter» inclui um fragmento de um discurso que Che Guevara fez nas Nações Unidas há exactamente 50 anos atrás. Está insatisfeito com o estado da democracia moderna? Precisamos de uma revolução?

Sim, certamente precisamos de uma mudança. O quê precisamente permanece a GRANDE questão, mas uma mudança seria bem recebida.

No videoclip para «The Gutter» vemos simultaneamente uma gelatina a ser pregada à parede e um elástico a ser cortado, substituído e esticado. Parece que de alguma forma está a falar de corações que sangram e de ideias – e ideais – que não podem ser silenciados. Pode partilhar a ideia e o conceito que estiveram por detrás deste videoclip?

Penso que é excitante ter as opiniões pessoais das pessoas que assistem ao vídeo – para mim é sobre suspense, o desconhecido e o medo. Mas o medo não tem de ser uma coisa má – é uma emoção humana importante e sem ela estaríamos tão perdidos como se não existisse a felicidade. Também é absurdo e pateta, quer dizer, quem se lembraria de pregar uma gelatina à parede – é simplesmente pateta!

Imagine que o convidavam para compor a banda sonora original de uma sequela de “Amélie”. Fá-lo-ia? Ou, digamos, apenas diria “sim” se a Amélie perdesse o ar de dona de casa intelectual e se transformasse numa assaltante de bancos?

Sem comentários ☺



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