Yeah Yeah Yeahs | «Sacrilege»

Yeah Yeah Yeahs | «Sacrilege»

Hino rock que parece capaz de abanar as fundações do Catolicismo

Quase quatros anos passaram desde que ouvimos falar dos Yeah Yeah Yeahs enquanto colectivo. Na altura ouvia-se o igualmente desconcertante e dançável “It’s Blitz”, que arrecadou alguns dos maiores sucessos da banda com «Zero» e «Heads Will Roll». Karen O tem sido vista apenas em colaborações para filmes, sejam elas com uma versão lancinante de Led Zeppellin em colaboração com Trent Reznor para “The Girl With the Dragon Tattoo” ou na composição e interpretação da encantadora banda sonora de “Where the Wild Things Are”. No entanto, o impacientemente aguardado “Mosquito”, quarto álbum de originais, tardava mas tem agora data de lançamento definitiva marcada para o dia 16 de Abril. E o primeiro single de apresentação foi também revelado o mês passado.

«Sacrilege» parece começar de forma familiar e reconhece-se imediatamente o já saudoso som da banda, totalmente irreprodutível e um dos mais singulares de qualquer banda deste lado do século XXI. A voz melíflua de Karen O é rasgada por um grito irado, como a fazer adivinhar o paradoxo de pureza e perversidade que se segue. Cedo a canção aventura-se por caminhos antes insondados e perto do final um coro gospel sobrepõe-se ao art punk, sofrendo uma metamorfose em prol de uma experiência transversalmente religiosa, num desavergonhado e transcendente hino rock que parece capaz de abanar as fundações do Catolicismo.

E é nesta devastação (i)moral que também que o recém lançado acompanhamento em vídeo assenta. Das mãos dos Megaforce – responsáveis pelo eviscerante vídeo para «The Greeks» dos Is Tropical e o alucinado «Gimme All Your Lovin» de Madonna – este conto quase Lynchiano segue a libertinagem da modelo Lily Cole de forma reversa; um exemplo raro do sucesso da subversão da montagem em prol de um maior impacto narrativo e um delicioso caleidoscópio de pecados carnais com a consequente penitência violentamente imposta pela hipócrita da “polícia religiosa”.

No final, resta a certeza que, se os Yeah Yeah Yeahs por tempo demais estiveram ausentes, voltam com as garras ainda mais afiadas e com a confiança omnipotente de Deuses vingativos e impiedosos.



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