You Can’t Win, Charlie Brown

You Can’t Win, Charlie Brown

O suave agridoce mais esperado do ano. Entrevista com Luís Costa em torno do novo registo "Diffraction / Refraction"

A música tem uma história, milenar, e tornou-se uma ciência exata. Estuda-se a sua concepção, a sua forma e até a sua textura. Foi com base em terminologias da lei da física que os You Can’t Win, Charlie Brown (YCWCB) deram o título ao seu segundo álbum – “Diffraction / Refraction” – prometido no final de 2013 com o seu lançamento previsto para Janeiro deste ano (está nas lojas dia 20).

Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, David Santos, Tomás Sousa e João Gil são o sexteto que compuseram as onze músicas deste novo álbum que, ao contrário do seu antecessor “Chromatic”, é um disco mais intenso, cheio de dicotomias, mas que nos obriga a reflectir e, ao mesmo tempo, a dançar. O grupo prepara-se para mais um grande desafio; dia 18 de Janeiro sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) no qual optaram “pelo caminho inverso de tentar fazer uma coisa mais “intimista”, só mesmo com os membros da banda. Iremos focar-nos neste último álbum, mas também vai haver tempo para revisitar alguns temas do álbum anterior e do EP de estreia”, confessou Luís Costa à RDB.

Dizem que os segundos discos são a confirmação das bandas. Este segundo disco é muito mais do que isso, pois os YCWCB conseguiram alcançar todo o mérito já há muito.

Iniciaram o vosso percurso musical enquanto colectivo em 2010 com um EP editado pela Optimus Discos e em 2014 estreiam o vosso segundo álbum de originais. Passados quatro anos, o que mudou nos YCWCB?

Luís Costa – Muita coisa mesmo, começando pela formação que cresceu desde esse EP de estreia (passámos de 4 para 6).

Como em qualquer outra banda, houve um processo de evolução natural, de construção de uma identidade que só se consegue com o tempo. Conhecemo-nos muito melhor uns aos outros enquanto músicos e indivíduos, os nossos pontos fortes e pontos fracos, e penso que isso se reflecte numa maior coesão da música que fazemos.

Ao longo destes quatro anos, para além dos concertos habituais, têm tido um percurso interessante: foram ao South by Southwest, já fizeram uma pequena tournée por Inglaterra… Por cá, recentemente fizeram uma versão dos Velvet Underground and Nico no Lux, entre outras coisas. Sendo uma pergunta difícil, qual destas experiências vos marcou?

Todas as experiências nos marcam de uma forma ou de outra, mas acho que aquelas de que mais nos orgulhamos foi todo o processo de ir tocar ao South by Southwest e a participação no Black Balloon com o álbum dos Velvet Underground. Ambas estas experiências pareciam montanhas intransponíveis ao início, e só com o esforço de todos e um trabalho de equipa excepcional é que as superámos. No fundo, acabaram por cimentar muito mais a amizade e cumplicidade entre os membros da banda e isso acabou por se reflectir no novo álbum.

“Diffraction / Refraction” é o título do novo álbum. Porquê esta dicotomia?

Penso que de alguma forma representa bem os dois pólos do álbum: um lado mais calmo e um pouco melancólico, e o outro lado para o pop e mais festivo. Para além disso, os termos Diffraction e Refraction dizem respeito à forma como as ondas (de luz ou sonoras) se comportam quando encontram objectos e achámos que isso era uma boa metáfora para o processo de fazer música e partilhar com os outros.

«Be My World» é o primeiro single de “Diffraction / Refraction”. Porquê a escolha deste tema como single de apresentação do álbum?

A escolha do primeiro single é sempre uma decisão difícil e nada pacífica, mas acabámos por escolher esta música porque sentimos que representa bem duas das principais componentes do álbum, o lado mais electrónico e o lado mais pop-cantarolável. Por outro lado também achámos piada a escolher uma música pouco óbvia como single de rádio; nunca gostámos de ir pelo caminho mais fácil.

Entretanto, lançaram um segundo single, «After December», da qual dizem mostrar a dicotomia entre o calmo e o frenético, o apaixonado e o amargurado, o novo e o velho, o acústico e o eléctrico, o analógico e o digital. São estas dicotomias que procuraram explorar em todo o álbum?

Realmente acabámos por explorar muito essas dicotomias no álbum, embora não tenha sido algo planeado. Acho que tem simplesmente a ver com a forma como gostamos de ouvir música; não é muito interessante para nós ouvir um álbum que mantenha sempre o mesmo registo do início ao fim, aborrecemo-nos facilmente.

Para além disso, a música é forçosamente uma representação – ainda que indirecta – das nossas vivências e emoções, e ninguém está sempre com o mesmo estado de espírito todos os dias – às vezes nem mesmo ao longo de um único dia.

De que forma surgiram as 11 faixas deste álbum? De forma natural ao longo dos meses? Ou houve algum processo de isolamento?

O processo de composição foi muito espaçado no tempo. O Afonso mostrou-nos esboços das duas primeiras músicas do álbum logo a seguir ao “Chromatic”. Durante algum tempo fomos trocando esboços de músicas por email, mas só em 2013 é que nos começámos a juntar presencialmente para trabalhar nesses esboços. Acho que se pode dizer que as ideias base das músicas partiram sempre dum isolamento individual de cada um, mas depois foram trabalhadas pela banda ao longo de vários meses.

Ao escutar o novo disco, encontra-se algumas semelhanças ao vosso álbum anterior, “Chromatic”, em termos das melodias. Todavia, pergunto-te, quais as semelhanças e as diferenças comparando os dois discos?

A maior semelhança será talvez as harmonias vocais. De certa forma acabaram por se tornar na nossa “imagem de marca” e é algo de que todos gostamos, por isso continuam muito presentes neste álbum.

As maiores diferenças… talvez o menor imediatismo da maioria das músicas; temos muito poucas com estrutura convencional de verso-refrão. Acho que é um álbum que demora mais tempo a “entrar” mas que possivelmente terá mais a revelar em sucessivas audições, comparativamente ao primeiro.

Falemos um pouco sobre a ideia retratada pelo vosso artwork – escolha das fotos para a capa do disco e o vosso site.

Curiosamente, a ideia da capa e a ideia do vídeo «Be My World» apareceram mais ao menos em simultâneo mas de lados diferentes. A banda estava a começar a falar um pouco sobre o vídeo (o Tomás pensou mais nisso, foi ele que fez o vídeo todo), enquanto isso acontecia, o Pedro Gaspar, que fez o design da capa, andava em conversas com o João Paulo Feliciano e o Rui Toscano. Tanto o João Paulo como o Rui são artistas plásticos, e surgiu a ideia de usar trabalhos do Rui na capa. Traduzia bem para imagem aquilo que sentíamos no disco.

Dia 18 janeiro sobem ao palco do grande auditório do CCB. Muita ansiedade e adrenalina?

Ansiedade sim, claro, vai ser o nosso maior concerto em nome próprio até à data. Felizmente, temos andado tão ocupados nas últimas semanas com os ensaios e a promoção do disco que nem temos tido tempo para ficarmos nervosos!

E mais datas a assinalar?

Temos algumas coisas em vista mas ainda por confirmar, por isso não podemos divulgar já. Brevemente daremos notícias nesse departamento!

A RDB tem a certeza de que o futuro dos YCWCB tem muita cor, muita alegria e sucesso. As onze músicas de “Diffraction / Refraction” têm singularidades e particularidades. Têm uma vida para além disto que se difunde nos nossos ouvidos.



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