Zen @ Musicbox (06.12.2019)
No final prevalece aquela sensação de que é Sexta à noite e que estivemos no sítio certo.
Dizem-nos que o último concerto dos Zen em Lisboa tinha sido há mais de 20 anos na Expo 98(!). É certo que pelo meio se verificou um longo hiato mas é muito tempo. O dia 6 de Dezembro colocou termo a isso, num dia em que os Ornatos Violeta davam um concerto no Campo Pequeno. Não foram muitos os que marcaram presença na sala da Rua Nova do Carvalho mas o que faltou em números sobrou em entusiasmo e entrega. De parte a parte.
O relógio diz-nos que são 22h45 quando Jorge Coelho, Miguel Barros e André Holanda ocupam os seus lugares à guitarra, baixo e bateria, respectivamente. Há que criar o clima apropriado para recebermos Rui “Gon” Silva e é exactamente isso que fazem e quando o quarteto ganha forma atiram-se sem cerimónias a «Redog». Ali ao lado alguém grita um bem humorado “toca Xutos!”. Mas o que se segue-se é mesmo «Mass».
No espaço em frente ao palco há espaço para dar tudo. Há quem faça air guitar, dança-se, abana-se a cabeça e elevam-se copos de cerveja bem ao alto. Podíamos estar em 1998. A bateria é frenética, a guitarra imparável e o baixo é cirúrgico. E depois há a voz incrível presença de Rui Silva em palco, num registo de constante provocação. Os pedidos para que o pessoal se aproxime começam cedo e mais à frente materializam-se. Mas lá chegaremos.
Antes temos o funk de «Trouble Man» e «Step On» é dedicada por Rui Silva a quem conduz, ele que nunca se sentou ao volante de um carro. Cá em baixo e lá em cima no palco aceleramos juntos até ao clímax: “I got a hundred sleepless nights / I got 200 horses powered by the will to live”. Algures a meio surge «Mutant», para deixar brilhar os três instrumentos. Agora a guitarra rasga, o baixo coloca-nos em sentido e bateria dá uma coesão inabalável.
“Agora vai dar merda. Cheguem-se para a frente que eu quero atirar-me para cima de vocês!”. Não aconteceu logo, mas aconteceu pouco tempo depois. Em vez diss lança-se a «Not Gonna Give Up». Está certo. «Power Is Evil» frenética como sempre, marca o momento em que a t-shirt se torna um empecilho, e como empecilho que é, é removida da equação. Está dado o mote. Passou muito pouco tempo quando se ouve Rui Silva a gritar um singelo e bem intencionado “anda p’raqui caralho!”, pedindo ao público para se juntar à frente do palco, para ele poder fazer o seu crowd surfing. E assim foi. Provavelmente o crowd surfing mais localizado de que há memória, mas não menos eficiente por isso. Memorável foi, com toda a certeza!
É incrível como de tempos em tempos damos por nós num concerto em que o número de pessoas a assistir fica um pouco aquém das expectativas, mas que dada a imensa entrega de quem lá está acabamos por nos esquecer disso logo após alguns minutos. Foi incrível e foi também uma das chaves para o concerto ter sido tão bom. As canções que dão corpo a “The Privilege of Making the Wrong Choice”, dúvidas houvesse, continuam bem vivas na memória e na ponta da língua (é justo dizê-lo). Um bom exemplo disso é «Golden Fools», mais falada do que cantada, a espaços num tom quase gutural, é acompanhada do início ao fim: “amazed with the power of my own voice and the privilege of making da wrong choice”.
A fechar vem a inevitável «U.N.L.O.» e olhando em redor conseguimos encontrar gente a saltitar, que nem um boxeur, como que a invocar o ringue de boxe do vídeo da canção. E mesmo sem encore e quiçá a saber a pouco para muitos, não havia uma cara ali que não tivesse um sorriso estampado.
No final prevalece aquela sensação de que é Sexta à noite e que estivemos no sítio certo.
Texto por Miguel Barba e fotografia por Andreia Carvalho.
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