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Zoetrope

Colaboração artística tão improvável como bem sucedida entre o coreógrafo Rui Horta e o grupo pop Micro Audio Waves.

“Zoetrope” é um daqueles óvnis culturais surgidos de surpresa para marcar uma época. “Zoetrope”, o Óvni, anda em digressão, e merece ser descoberto.

O espectáculo “Zoetrope” teve antestreia a 10 de Dezembro de 2008 no Theatre Centre de Moscovo, cabendo ao Teatro Experimental Carlos Alberto do Porto, a 8 de Janeiro de 2009, a primeira apresentação nacional da improvável – e desafiante – colaboração entre Rui Horta e os Micro Audio Waves.

E que colaboração é esta? “Zoetrope”, avançamos, não é um concerto. “Zoetrope” não é um espectáculo de dança. “Zoetrope” é tudo isto e mais: “é um encontro poderoso, que se adivinha orgânico na fusão dos universos artísticos destes criadores e na partilha de interesses performativos comuns”, assinala nota de lançamento do espectáculo. É um misto de sensações, rematamos nós. Cruzamento de luz, música, imagens e dança, “Zoetrope”, 12 temas inéditos dos Micro Audio Waves com um espectáculo criado por Rui Horta “à volta da ideia do zootrópio, uma das primeiras máquinas de animar imagens, uma forma primitiva de cinema”. “Zoetrope”, em jeito de remate, é então um “espectáculo em conjunto, sob a forma de um concerto encenado, um híbrido entre a música, o movimento e a multimédia”.

Nascido em Lisboa, o coreógrafo Rui Horta acabaria por sair do país para continuar a formação em Nova Iorque, onde participou em vários projectos e foi professor em diversas escolas. O coreógrafo é responsável pelo envolvimento visual, o desenho de luz e a componente multimédia de “Zoetrope”. Nos anos 80 destacou-se como um dos pioneiros da nova dança portuguesa e nos anos 90 foi para a Alemanha dirigir o Soap Dance Theatre, grupo de referência da dança contemporânea europeia, apresentando os seus trabalhos nalguns dos mais importantes teatros e festivais por todo o mundo.

Já os Micro Audio Waves surgiram no ano 2000, originalmente formados por Flak (guitarrista dos Rádio Macau) e C. Morgado (instrumentos electrónicos), criando composições com uma orientação minimal e experimental. A sensual/sexual (não riscar nenhum, ambos assentam) vocalista Cláudia Efe completa a banda. “Zoetrope” é um espectáculo que “faz pensar de outra forma o mundo dos sons e o mundo das palavras, numa relação mediada pelo corpo”, definiu Flak em entrevista recente.

O último disco de originais do grupo, “Odd Size Baggage”, data já de 2007, sintetizando o disco de então grande parte do crescimento pessoal, artístico e sonoro dos Micro Audio Waves, num trabalho de cruzamento entre deambulações passadas (sonoridade elegante, electrónicas minimalistas com pontuais pé fora de água em momentos mais pop) e uma muito saudável e permanente inventividade cada vez mais personalizada e intransmissível.

Antes do arranque da digressão “Zoetrope”, Flak confessou à Rua de Baixo o “natural entusiasmo” por esta nova aventura. Fugindo à colaboração com Rui Horta, o guitarrista descreveu ainda o actual momento dos autores de “Fully Connected”; “A estrada deu aos Micro Audio Waves consistência, e as músicas novas que estamos a fazer são o reflexo disso mesmo. É um trabalho cada vez mais de grupo, tem sido sempre a crescer. A entrada da Cláudia Efe foi decisiva porque mudou a nossa visão enquanto grupo, e se ela a começo não tinha grande experiência a verdade é que com o tempo e o conhecimento mútuo tem tido uma muito maior participação na parte da criação. Em estúdio trabalhamos de forma intuitiva, podemos estar 20 minutos a tocar de forma livre e depois vamos analisar o que gravámos e provavelmente só aproveitamos 2 minutos para uma qualquer ideia”.

No rescaldo do espectáculo na Culturgest, no final de Fevereiro, Cláudia Efe sublinhou à Rua de Baixo a “forma inesperada e imprevisível” como o espectáculo tem sido recebido. Sobre uma nova colaboração no futuro com Rui Horta, a cantora não hesita: “Sim! Claro que sim! As possibilidades que existem nestas colaborações são tão diversas e enriquecedoras que não hesitaria em pensar duas vezes. O desafio da interdisciplinariedade tem demasiado sumo para se recusar uma boa aventura. Por outro lado, com esta experiência e com tudo o que aprendemos nos últimos meses, o nosso nível de exigência quanto aos nossos próximos espectáculos irá óbviamente aumentar, o que implicará sempre colaborações com artistas de várias áreas”, remata.

Em Março, “Zoetrope” estará a 14 de Março no Teatro Virgínia (Torres Novas). Já em Abril, as Caldas da Rainha recebem no dia 4 de Abril o espectáculo, que decorrerá também a 1 de Maio no Laboral Escena de Gijón, em Espanha, e a 16 de Maio no Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre.



Existe 1 comentário

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  1. baguinho

    a música dos micro audio waves é muito boa. dá para perceber que houve evolução desde as actuações no intervalo da moda lisboa. souberam encontrar um lugar, ali algures entre a marianne faithfull do sex with strangers e o porno chic de goldfrapp com laivos de björk que lhes assenta na perfeição. o último álbum, odd size bagage, é bom para ouvir no carro, no trabalho, durante o banho ou no passeio do cão.

    do rui horta já aqui se disse muito bem. parece que este tem olho para os novos talentos. onde houver um projecto interessante ele está lá a colaborar. mas aqui, se calhar, mais lhe valia não estar.
    o que se quer em espectáculos contemporâneos, experimentais ou vanguardistas é o efeito wow, o novo, acabado de inventar, em primeira mão. o mise en scéne do espectáculo zoetrope é muito pouco diferente de uma qualquer outra actuação de um grupo do mesmo género num qualquer club urbano. alguns efeitos visuais lembram mesmo o screen saver do windows inspirado na guerra das estrelas. a utilização da mini câmara de filmar pelos interpretes para captação de imagens do espectáculo em tempo real e das lâmpadas fluorescentes acopladas aos microfones são dois elementos que já tinhamos visto em scope, do mesmo autor. e aí funcionavam. o rui horta do zoetrope é um vj assim assim.


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