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Gonçalo Ribeiro

Fomos ao Oceanário ter com o MAR

Gonçalo Ribeiro é “MAR” e artista também. Considera-se um “muralista contemporâneo” e MAR vem da paixão pelo surf, pelas ondas e pela tranquilidade que o mar lhe transmite. Então, levámo-lo até ao Oceanário de Lisboa e, depois de o termos enquadrado com peixinhos e pinguins, conversámos à luz azul do Aquário principal.

Desde cedo que a paixão pelas artes é evidente e aos 12 anos começou a pintar o chão com giz. A tia que o levava a exposições e a conhecer artistas teve um papel importante na sua consciencialização artística e foi influente nesse futuro. Rapidamente passou do giz para as latas e, sempre sem perder a lata, foi estudar Design de Moda para a Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Hoje em dia é considerado uma referência no mundo da arte urbana e para os da nova geração.

Gonçalo caracteriza-se pela desconstrução de um quotidiano que o leva a construir o seu próprio mundo. “Tento criar um mundo onde todas as minhas personagens possam viver”, diz-nos.

Isto dá no total 14 anos a explorar matéria, a explorar o mundo exterior e a completar o seu mundo interior. 14 anos que fazem as delícias do seu dia-a-dia e deliciam quem vê e aprecia a sua obra.

Confessou-nos que adora ver filmes de biografias de artistas e que conhecer quem está por detrás da obra é importante: “Às vezes posso gostar do trabalho de uma pessoa, mas o que mais me importa é o caminho que ela levou até chegar aí.” Nós também, e foi por tudo isto que quisemos conhecer o Gonçalo e o MAR.

Como é que surgiu a ideia de ires estudar Moda para a FAL?

Na altura havia aquela consciência de que para te conseguires impor no mercado de trabalho tinhas que ser arquitecto, ou médico, ou engenheiro. Essa ideia foi quase saturada pela nossa geração anterior, porque toda a gente decidiu ser arquitecto, médico e engenheiro e isso fez com que houvesse um boom e o mercado começasse a ter um excesso.

Entretanto, um senhor que se chama Tomás Taveira decidiu implantar na Faculdade de Arquitectura seis cursos novos. Eu tinha média para entrar na Faculdade de Arquitectura, mas não para o curso de Arquitectura, então fui para Design de Moda que foi a minha terceira opção, porque a minha ideia era depois fazer uma permuta para entrar no curso de Arquitectura.

Quando cheguei ao segundo ano, apercebi-me que estava a gostar do curso; achei interessante. Passei a conhecer pessoas que tinham uma perspectiva muito louca da vida e do mercado de trabalho, nomeadamente a Eduarda Abbondanza. Acho que ela é uma pessoa que tem uma visão muito própria do que é a moda, a corrente artística e todas as tendências que flutuam ali à volta e fez com que eu terminasse o curso.




A moda ainda te entusiasma?

Muito, muito, muito.

Chegaste a fazer alguma coisa na área?

Antes de acabar a faculdade ainda fiz uma incursão pelo estúdio de animação durante dois anos, voltei para acabar o curso e comecei a trabalhar na área de moda, num atelier de fardas, e depois fui para uma marca de streetwear.

E foi aí que se deu a passagem da moda para o graffitti…

Já tinha começado nos tempos de faculdade, ia pintando na rua porque isso já era uma paixão muito antiga. Já estava dentro do graffitti e apareceu essa oportunidade, fui mostrar os meus trabalhos ao dono dessa marca portuguesa, ele aceitou, e começámos um trabalho que durou cinco anos.

Entretanto achei que, depois de acabar essa “travessia do deserto”, devia continuar por mim, achei por bem que devia começar um trabalho mais pessoal e criar um corpo de obra mais “artístico”.

Achas que o que representas hoje em dia é influenciado por aquilo que aprendeste durante os anos na faculdade?

Sem dúvida. Tudo. Acho que o percurso académico faz com que cresças muito, como pessoa, como artista. As tuas referências acabam por ser muito mais amplas.

 



O que é que te inspira?

Tudo. Qualquer coisa que eu veja. Tenho que estar sempre muito atento. Quem quer retratar o quotidiano, ou fazer referências a isso, tem que estar muito alerta, muito desperto…

Fazes sempre essas mãos, que são um pouco a tua imagem de marca. Mas o teu trabalho é quase uma desconstrução que constrói novas coisas, como a tua peça no LxFactory, onde podemos ver apontamentos de vários personagens diferentes. Há sempre uma desconstrução no teu trabalho?

Sim, gosto muito dessa desconstrução e o que tenho desenvolvido no meu corpo de obra é o que tenho adquirido das pessoas que vêem o meu trabalho. De cada vez que usas referências que as pessoas conhecem, despertas atenção. Desperta atenção quando uso por exemplo as mãos do Mickey, as luvas do Batman, isso são tudo referências da nossa consciência e com que te identificas, é aí que há o “clique” visual. Desconstruo à procura de uma construção surrealista.

Tens na bagagem a exposição VSP (Visual Street Performance), a Underdogs, o Crono, Walk&Talk, recentemente o WOOL. Isso faz com que tenhas o “peso” da responsabilidade, de manteres sempre esse nível cada vez que fazes coisas novas?

Isso é o mais difícil. O que vou dizer quase parece uma frase feita mas o dificil não é chegares lá, o dificil é manteres-te sempre no mesmo nível. Essa é a minha maior dificuldade. A responsabilidade que tu tens bate aquilo que tu és, ou seja, se tu te prontificaste a dizer “ok, eu quero passar uma mensagem”, então é importante que essa mensagem seja bem recebida.

Qual foi o projecto que mais te marcou em 2012?

Adorei o de Alcântara porque foi um projecto meu, individual, gostei desse como um culminar de final de ano. Foi uma boa maneira de acabar em grande. Mas fazer a peça no LxFactory foi uma conquista enorme.

 


Fala-me da tua exposição na Influx. Porquê “There is one in all of us”?


O nome vem do “teu” interior. Se tiveres consciência desse teu interior e do que esse interior tem, acho que seríamos muito mais felizes, muito mais condescendentes, muito mais fortes.

Se tu te sentires bem contigo, essa tua felicidade é abrangente. Tens que te sentir bem contigo própria para estares bem com as outras pessoas e esse é o interior, essa força. Tenho que me sentir bem a fazer aquilo que faço para depois passar isso cá para fora.

Em relação ao teu “colectivo” com o RAM (Miguel Caeiro), porquê ARM Collective?

ARM vem da junção dos nossos nomes, mas não foi propositado. Quando o conheci já tinha o meu nome e ele já tinha o nome dele. Portanto, é o juntar dessas letras e ao mesmo tempo significa o braço que usamos para pintar.

Mas ele tem um estilo completamente diferente do teu…

Mas por isso é que trabalhamos tão bem; ele tem um universo e eu tenho outro.

Tens mais algum artista com que gostasses de desenvolver um projecto?

Tenho vários. Mas gostava muito, muito, muito de trabalhar com a Paula Rego. Ela é surrealista à maneira dela, tem a loucura dela. É o que ela conseguiu passar cá para fora e isso é muito bom. É a artista com que me identifico mais em termos de pensamento e gostava de trabalhar com ela por causa disso, por ser tão genuína.

Se uma filha tua agora dissesse que queria ir para o mundo artístico?

Esteja à vontade.

Eu sou muito sonhador, sou muito optimista, muito aberto a todas as hipóteses e se uma filha minha me dissesse que gostava de seguir os meus passos, porque não? Vou avisar, vou-lhe dizer o que é que pode custar, vou dizer que é difícil, que se calhar podemos ter uma série de ilusões, mas que pode ser muito bom também.

Qual é o teu maior sonho?

Ser feliz. Porque isso significa realizares-te e quando isso acontece és feliz.

Fotografia: Tiago Fonseca
Agradecimentos: Oceanário de Lisboa



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