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Ana Sousa

Cortar com o dispensável.

O nome da cabeleireira Ana Sousa repete-se por editoriais em inúmeras revistas de moda. Situado numa travessa perpendicular à Calçada do Combro, o seu atelier é um concorrido espaço para quem procura mudar de visual ou simplesmente “dar um jeito”. Entre inúmeros artefactos curiosos, revistas, livros, uma chávena de chá e, claro, as ferramentas do ofício, é fácil entregarmo-nos às mãos de uma profissional de referência, quer no trabalho com o público, quer na produção de moda nacional.

RDB – Como é que começaste a trabalhar nesta área?

Ana Sousa – Comecei a trabalhar com 16 anos num cabeleireiro na rua do Crucifixo.

RDB – E tiveste formação antes disso?

AS – Não. Depois disso tive formação na L’Oréal e fui mais tarde para o Bairro Alto, com 17 anos, para a Agência (117). Estive lá quantos anos… 12?!

RDB – Foi o que sempre quiseste fazer ou foi algo que surgiu?

AS – Surgiu a ida para o cabeleireiro. Depois na Agência descobri que até tinha jeitinho para a coisa… Não havia nada naquela altura, foi a primeira loja alternativa a abrir. Foi em 97 ou em 98… Tinha loja, bar, roupa, cabeleireiro. Eu fiz parte daquele movimento… Claro que já tinha começado há muito tempo, nos anos 80, mas em relação a esta nova vaga…

RDB – O que é que tens feito ultimamente?

AS – Este mês fiz quatro editoriais, um anúncio para a Blue Angola, Casino Lisboa, ontem Red Bull, o atelier, sempre… Casamentos, um vídeo-clip… Isto só este mês. Fazemos tudo…

RDB – Tudo o que haja para fazer?

AS – Não é tudo o que haja para fazer… Felizmente a vantagem que acho que temos em relação às outras pessoas é, e eu falo por mim, a nível da acessibilidade de trabalho. Trabalhamos imenso e para muita coisa, o que demonstra a nossa flexibilidade, não por aceitarmos tudo, mas porque as pessoas querem realmente qualidade, e assim acabamos por fazer muita coisa, e eu fico muito feliz com isso porque cada vez acontece mais. Há três dias atendi 32 pessoas.

RDB – Num dia?

AS – Sim, num dia. Fico muito contente, temos imenso trabalho.

RDB – Entre a área da moda e a área do atendimento ao público, eras capaz de escolher uma?

AS – Não, preciso das duas coisas. Era incapaz… O meu trabalho no cabeleireiro é bem divertido, não é um como nos cabeleireiros convencionais. Era incapaz porque isso é que nos torna boas; ao termos acesso a isso tudo, acabamos por ter uma outra visão. Dia-sim, dia-não fazemos coisas fora do atelier. Acabas sempre por ter mais informação e isso é muito bom na nossa profissão.

RDB – A nível de tendências, entram-te pelo atelier com os clientes, ou fazes muita pesquisa em blogs, revistas…

AS – Compro revistas, mas a nossa vantagem é que trabalhamos com tanta gente que acabamos por estar sempre informados. O facto de trabalhar com a Antónia (Rosa), a nível de estética e tendências… Tudo isso é informação. Nós fazemos moda, portanto estamos sempre um bocado mais dentro do assunto. Mas faço pesquisa quando é preciso.

RDB – Em relação ao trabalho que fazes com o público, sentes que tens um estilo definido, ou varia sempre conforme o cliente?

AS – Varia sempre, o que eu faço aqui é encontrar a resposta ao que a pessoa quer, não tenho uma onda… O importante é que a pessoa seja compreendida e satisfeita. As pessoas gostam que lhes dêem atenção, gostam de pagar um preço razoável… Gosto de ir ao encontro do que a pessoa quer. As pessoas vêm cá porque sabem como é que eu funciono, vêm recomendadas, até porque não tenho publicidade na porta. É já uma coisa que faz com que as pessoas venham aqui.

RDB – Então achas que não há uma «imagem de marca», ou mesmo assim há alguma coisa que passa sempre para o teu trabalho?

AS – Passa sempre, mas… Se me perguntasses há oito anos se havia um estilo, diria que sim, porque fazia parte da época. Agora usa-se tudo, e tudo é aceite, portanto acho que teres um estilo definido não faz sentido… Acho que o que sai lá para fora é “vai lá porque sais bem”, e isso é o mais importante.

RDB – A primeira vez que cá vim, disseste-me que na semana seguinte ias para a Grécia, com a equipa portuguesa do no Festival da Eurovisão, com o Dino Alves. Se pudesses era o que fazias sempre?

AS – Fazia, viajo muito em trabalho. Aliás, eu só viajo em trabalho, felizmente! Gosto imenso de ir lá fora… Eu chegava a estar no hotel, com fila à porta do quarto para cortar cabelo ao pessoal dos outros países. Eram moldavos, eram ucranianos, faziam bicha!

RDB – Viajar é das melhores coisas na tua profissão?

AS – Para mim a melhor coisa na minha profissão é ter oportunidade de o poder fazer bem, poder mexer com as pessoas e encontrá-las um bocado.

RDB – Tens algum designer ou fotógrafo de referência?

AS: Eeeeeee… essa agora…

RDB – Ou há alguém com quem tu quisesses trabalhar?

AS – Olha, uma pessoa que eu adorava conhecer melhor, e que conheci na Grécia, foi o Jean Paul Gaultier, e adorava trabalhar com ele… Acabei por trabalhar com ele, com o Dino (Alves). Não sei, eu acho que nada é inatingível… Mas o Dino  é o meu mestre, não ferindo susceptibilidades! (risos)

RDB – Em último lugar, se não fosses cabeleireira o que é que fazias?

AS – Era cabeleireira! (risos) Não, era chefe de cozinha!

RDB – A sério?

AS – Sim, mas daquelas mesmo boas!



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