Ler por aí… Entrevista com Margarida Branco

Ler por aí…

Conversa com Margarida Branco sobre um projecto que leva os livros (e os leitores) a passear

Partindo da leitura como lema e inspiração, o projecto Ler por aí… foi criado no ano de 2006,  tendo evoluído para o formato de Associação Cultural seis anos depois. Promovendo a ligação entre o livro e os lugares onde a narrativa acontece, propõe um referencial geográfico para a literatura, levando livros e leitores a passear.

A RDB esteve à conversa com Margarida Branco, criadora e dinamizadora do Ler por aí…, para saber mais sobre esta aventura literária assente sobre as rodas da imaginação.

Como cresceu o projecto Ler por aí…?

O Ler por aí… surgiu em 2006, fazendo sugestões de leitura num website. Era um projecto pessoal, meu. Logo nesse ano comecei a realizar o percurso com o livro “O Último Cabalista de Lisboa”, de Richard Zimler. Nos anos seguintes, dando continuidade ao trabalho, desenvolvi outras actividades como fins de tarde e jantares, bem como um passeio de um dia inteiro pela serra do Barroso, com “Terra Fria” de Ferreira de Castro. Quando dei início à realização de jantares literários, em 2009, recorri à ajuda do Luís Serpa, e o projecto começou a ser de uma equipa, e não de uma só pessoa. Em 2011, a Junta de Freguesia de Carnide apoiou o projecto Ler por aí… através da cedência de um espaço de escritório e da integração na sua rede de parceiros para a cultura, o que deu uma nova energia e projecção. No final de 2012 foi criada a Ler por aí… Associação Cultural, uma estrutura que permite dar uma dimensão mais institucional ao projecto e, assim, ter possibilidade de se candidatar a financiamentos e participar em iniciativas que, de outra forma, não poderia. Neste momento estão criadas as condições para que o projecto siga com uma perspectiva mais ambiciosa.

Que espírito de missão move o Ler por aí…?

A missão do Ler por aí… é propor a leitura dos livros no lugar em que a narrativa se passa. Através das sugestões de leitura que são publicadas no website e de actividades baseadas nas obras sugeridas, quer sejam passeios, quando o lugar é em Portugal, quer através de jantares ou degustações ao fim da tarde, quando o passeio não é prático, em que se recria o ambiente que envolve a obra através de gastronomia, animação ou outros recursos.

Existem pessoas a enviarem propostas de leitura?

Sim, é algo que incentivamos e tem tido resposta. A partilha de leituras é muito enriquecedora, não só para o projecto como para os seus seguidores e participantes.

Vimos que acontecem também vários eventos de gastronomia. Os dois têm ligação ou são projectos que conseguem respirar separadamente e com objectivos diferentes?

As actividades que desenvolvemos têm sempre uma componente literária e cultural. A gastronomia é uma das mais importantes expressões de uma cultura e permite viajar com todos os sentidos. Uma degustação ou um jantar parte de uma obra literária, ou em alternativa, provoca e estimula a produção de expressão literária a partir da experiência gastronómica que convoca sensações ou memórias que queremos captar, sob a forma escrita ou oral.

Que outros eventos podem aparecer na agenda de Ler por aí…?

Temos vários tipos de actividades programadas, incluindo passeios literários, jantares, fins de tarde de degustação. Alguns cruzam a literatura e o cinema, outros a literatura e a gastronomia; podem vir a ser cruzadas outras áreas como a dança ou a música, a fotografia, sempre que isso se justifique e acrescente valor cultural a uma actividade.

Acha que as pessoas lêem menos hoje do que há uns anos atrás?

Sem conhecer as estatísticas parece-me que o número de leitores tem crescido, embora o perfil de leitores tenha vindo a tornar-se mais eclético em relação àquilo que lêem, também por força do tipo de livros que hoje em dia é publicado. Parece-me que as crianças têm sido bastante estimuladas, sobretudo pela oferta que têm à disposição. A qualidade da oferta para a infância que tem surgido nos últimos anos é muito variada, mas existem algumas editoras a fazer um excelente trabalho, e acredito que esse estímulo crie bons leitores – leitores com hábitos e com exigência.

Esta iniciativa começou em 2006. Que balanço pode fazer?

Este ano o Ler por aí… completa sete anos. Neste tempo, acumularam-se mais de quarenta sugestões de leitura, que deram origem a um conjunto diversificado de actividades realizadas. Neste momento o Ler por aí… pertence a um colectivo, já não é o meu projecto pessoal, e essa é uma grande mudança cujo efeito virá nos próximos anos.

Em poucas palavras, Ler por aí… é…

… sentir o livro onde ele pertence. É uma outra forma de ler, mas também uma outra forma de passear e de viajar.

Artigo em colaboração com Patrícia Silva



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