“O Vírus do Apocalipse” | Douglas Preston e Lincoln Child

“O Vírus do Apocalipse” | Douglas Preston e Lincoln Child

Mostra-me os teus genes, dir-te-ei quem és

Há quem tenha vergonha em dividir uma dose no restaurante; quem não goste de partilhar brinquedos; quem veja com maus olhos alternar o comando do volante numa viagem de longo curso, com medo de ser conduzido. Douglas Preston e Lincoln Child, autores de “O Vírus do Apocalipse” (Saída de Emergência, 2013), não tem qualquer problema de partilha no que à escrita diz respeito.

O “duo dinâmico”, nome que alguns decidiram atribuir à dupla americana, conduz-nos até um deserto esquecido no coração do Novo México, onde está situado Mount Dragon, um complexo secreto dedicado à experimentação genética dirigido à distância por Brent Scopes. Scopes é um cientista visionário que inventou o PurBlood, uma revolução no que diz respeito às transfusões sanguíneas que está a poucas semanas de chegar ao mercado.

Um dos grandes opositores de Scopes chama-se Charles Levine, um antigo colega, que ao contrário de Scopes defende o uso da genética apenas pela via somática, evitando assim que as alterações ao ADN não passem para as gerações futuras.

Guy Carson, um promissor cientista que vive num limbo existencial, é convidado por Scopes para integrar a equipa de cientistas de Mount Dragon, sem nada saber sobre a sua missão a não ser que trará inúmeros benefícios à raça humana. Sem nada que o prenda à cidade, Carson aceita o convite olhando-o como um trampolim para a sua carreira ao mesmo tempo que regressa a umas raízes já esquecidas (ou arrancadas). Porém, a partir do momento em que num claustrofóbico laboratório conhece um vírus de nome X-Flu, vê-se obrigado a fazer uma introspecção sobre a sua vida e a ideia que construiu da ciência.

Ao mesmo tempo que criam um thriller onde se sente a aridez e a beleza do deserto, Preston e Child propõem uma reflexão sobre os progresso e os usos da genética, e de como esta entrou, de mansinho e de forma aparentemente irreversível, no quotidiano do ser humano. Porém, e esse é um interessante contraponto, é também um livro que fala das raízes naturais, encaradas por vezes como uma experiência genética falhada que se queria riscada da árvore genealógica. Mostra-me os teus genes, dir-te-ei quem és.



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