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Amadora BD 2009

Relatório e contas da 20ª edição do maior Festival português dedicado à Banda Desenhada.

Entre 23 de Outubro e 8 de Novembro a Amadora voltou a ser, o palco da Banda Desenhada em Portugal, tendo já conquistado um lugar cativo no calendário internacional dos eventos mais importantes na área da 9º arte no mundo.

Este ano ficou marcado por diversos aniversários, começando pelo do próprio festival e pelos 30 anos do Município. Dentro da BD houve também um especial destaque para os 50 anos de carreira de Maurício de Sousa e de Astérix, datas que não poderiam passar despercebidas num evento desta magnitude.

As exposições sempre foram uma das maiores mais-valias deste festival, não só pela qualidade das pranchas exibidas mas também por toda a decoração da sala que as acompanhava. Infelizmente num ano marcado por eleições e um possível corte no orçamento, nem todas as exposições tiveram o mesmo nível de tratamento, claro que na maior parte dos casos a qualidade das pranchas por si só valeria sempre a ida ao festival, não necessitando de quaisquer adereços.

O autor em destaque nesta vigésima edição foi Rui Lacas que além de contar com uma exposição dedicada à sua obra foi também o responsável pela linha gráfica do evento. Aqui é necessário salientar o excelente trabalho do autor sobre a imagem do festival que se encontrava bastante atractiva. Outra ideia vencedora foi a possibilidade de todos criarem, na página oficial a partir dos seus desenhos, um personagem que posteriormente iria estar exibido nas paredes do fórum Luís de Camões. A exposição deste autor foi, na minha opinião, uma das mais bem conseguidas aliando muita qualidade tanto a nível de pranchas como cénico, contendo uma bela amostra de todo o seu trabalho e ostentando já o seu novo projecto que teve lançamento no festival, “Asteroid Fighters”.

No piso 0 além da exposição de Rui Lacas encontrava-se a dedicada aos 20 anos do festival dividida em cinco núcleos. O primeiro era correspondente à colecção do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (CNBDI). Outro núcleo tinha como título “A Contemporaneidade na Banda Desenhada Portuguesa – uma opção de perspectiva. Dos formalistas aos discursivos” tratando-se no fundo de um olhar sobre a BD contemporânea e sobre o futuro, mostrando que esta exposição não servia apenas propósitos saudosistas. O terceiro núcleo sobre o “Almanaque FIBDA” consistia numa visão sobre os 20 anos que passaram, mostrando fotos dos vários anos e originais oferecidos ao festival pelos autores que por cá passaram. Como não poderia deixar de ser um dos núcleos era referente ao concurso deste ano cujo tema era “O Grande Vigésimo”, onde se aproveitou também para recordar diferentes autores que participaram no passado. Muito interessante é ver que passado 20 anos alguns destes autores, na altura amadores, são hoje autores consagrados, veja-se por exemplo o caso do já mencionado Rui Lacas. Por fim o último núcleo era dedicado ao lado editorial da BD, onde se podiam encontrar algumas raridades cuja venda é nos dias de hoje altamente improvável.

Descendo para o piso -1 podemos deparar-nos com mais um grande leque de exposições e com a zona comercial, de autógrafos e de conferências.

Começando pelas exposições tenho de realçar a de Emmanuel Lepage. O espaço dedicado ao autor vencedor no ano passado do prémio “Melhor álbum de autor estrangeiro” com o tomo 2 de “Muchacho” continha pranchas com uma qualidade estonteante. Aqui se pôde ver o quanto vale a pena olhar para um original.

Por falar em originais a exposição de “As Paredes Têm Ouvidos” referentes ao primeiro livro de BD de Giorgio Fratini, um jovem autor italiano que ao passar por Portugal se interessou pela sua História, constitui a oportunidade única em ver os tons originais com que o autor pintou esta obra que por alguma razão foi editada a preto e branco.

Apesar de Rosinski ser uma referência no panorama da BD europeia, a verdade é que a maior parte dos artistas polacos é desconhecida do grande público. Nesse sentido a exposição “Komics” dedicada a autores naturais da Polónia foi uma excelente aposta e para quem não conhece uma verdadeira surpresa.

Em relação às duas efemérides relativas aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa e dos 50 anos de “Astérix”, se a primeira conteve uma amostra variadíssima de pranchas a outra foi uma desilusão por não conter precisamente nenhuma. A exposição dedicada ao trabalho do autor brasileiro era possivelmente a maior do festival, mostrando-nos o percurso da “Turma da Mônica” ao longo dos vários anos e terminando com uma secção dedicada a material de diversos autores brasileiros que foram convidados a homenagear o aniversário de Maurício de Sousa, no que é um trabalho cheio de originalidade e estilos diferentes, imperdível. Infelizmente a exposição de “Astérix” foi a ovelha negra, uma vez que era apenas constituída por algum material de colecção. Tratando-se de um aniversário destes ainda sobressaía mais pela sua pobreza.

Das exposições relativas aos portugueses a predilecta neste piso foi a dedicada a “Rei” de António Jorge Gonçalves e Rui Zink que nos remetia para um mundo oriental animado dando-nos a conhecer a BD e as viagens que os autores fizeram ao Japão. Destaque também para a exposição de Osvaldo Medina “Fórmulas e Moscas” dedicada a mostrar os últimos trabalhos do autor, o fantástico “A Fórmula da Felicidade” e o sombrio “A Mucha”, bem como a exposição sobre “Israel” alusiva ao novo livro de ilustração de Ricardo Cabral.

O mangá tem sido um género cujo crescimento nestes últimos 20 anos é notório e por isso será quase garantido afirmar que marcará presença constante no festival. Porém a exposição “Mangá do Oriente e do Ocidente” dedicada a mostrar não só o mangá tradicional como aquele que cada vez mais se desenvolve na Europa soube a pouco.

Para terminar esta apreciação, não podia deixar de falar numa das exposições mais engraçadas, a dedicada à editora “Planeta Tangerina”. O trabalho que têm desenvolvido na ilustração infantil é de louvar e a decoração da sala estava bastante interactiva e aliciante tanto para crianças como para graúdos.

Este ano a zona dedicada ao comércio foi reduzida e na minha opinião menos conseguida do que o ano passado. Algumas lojas estavam em espaços realmente claustrofóbicos e a ideia de aproveitar a construção usada o ano passado para a zona de autógrafos colocando-a no meio da zona comercial foi infeliz, limitando o espaço e o convívio que tão bem tinha funcionado antes.

Os fins-de-semana são sempre os momentos de maior afluência uma vez que estão carregados com uma variada programação, desde conferências onde vários autores aproveitam para divulgar os seus novos projectos ou falar dos antigos, sessões de autógrafos ou o tão falado concurso de cosplay.

Apesar de ser um festival dedicado à BD, não foi só da 9º arte que aqui se falou e para isso pudemos contar com sessões de cinema e concertos. Na sessão de abertura tocaram os F.E.V.E.R (com direito a exposição sobre a novela gráfica que irão lançar com o álbum) e no sábado Noiserv que alia as suas canções às ilustrações de Diana Mascarenhas num espectáculo a não perder que faz parte da digressão do álbum “One Houndred Miles From Thoughtlessness”.

Em jeito de conclusão quero dar os parabéns pessoais ao festival, afinal de contas são 20 anos, e manifestar o meu desejo de que continue por muitos mais.



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