João Martins
Entrevista com o vencedor do FIBDA 2005.
Actualmente a frequentar o curso de Design de Comunicação em Belas-Artes, João Martins, vencedor do concurso do FIBDA 2005 (festival internacional de banda desenhada da Amadora), esteve à conversa com a Rua de Baixo, onde falou um pouco sobre a sua vida e sobre alguns dos projectos em que se encontra envolvido.
RDB: Conta-nos um pouco sobre a tua história na Banda Desenhada
João Martins: É uma curta história, leio desde miúdo os livros do meu pai, cresci com o Quino e a sua Mafalda, Blake e Mortimer, e as Mónicas e Cebolinhas da minha irmã mais nova e os Tio Patinhas e companhias do costume. Comecei a riscar umas páginas por diversão e participei em alguns concursos. Agora, com o meu curso a meio, não tenho todo o tempo que gostaria para trabalhar e desenvolver um estilo próprio, continuo a ir beber daqui e dali.
Depois de venceres o concurso do FIBDA, tiveste a oportunidade de publicar a tua estória na revista “Blatz”. Isso contribuiu para alguma mudança na tua vida?
A minha vida mudou um pouco depois da altura em que fui premiado na Amadora, porque coincidiu com a publicação na “Sketchbook” e na entrada para o núcleo de BD na minha faculdade. Estou mais informado, contacto com mais pessoas dentro do mundo da Banda Desenhada nacional e também produzo mais algum trabalho.
Fala-nos um pouco sobre a “Blazt” e a “Sketchbook”. No que consistem estes projectos?
A “Blazt” é um projecto editorial que partiu do Núcleo de Banda Desenhada e Cinema de Animação da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, que reúne trabalhos do Núcleo e também de vários colaboradores externos. No #1, aquele em que participei, estão presentes os três primeiros prémios do FIBDA e foi assim que eu entrei na revista, bem como um trabalho do ARCO e da Fisga Comics.
A outra revista onde participei, a “Sketchbook”, surge de um grupo de BD de uma associação do Pinhal Novo, a AJCOI. Nessa revista entro com uma estória de 10 páginas, para a qual olho agora com pouco agrado, mas que me custou horas e horas de trabalho. A pintura dessa história ficou a cargo do meu amigo Nikolai Nekh.
As duas revistas procuram divulgar novos e jovens autores de Banda Desenhada e oferecer um espaço para publicação. A “Sketchbook” contém duas estórias, de 10 páginas cada, por dois autores diferentes. A “Blazt”, mais eclética no seu conteúdo, apresenta um maior número de estórias, mas mais curtas.
Quais são as duas estórias que tens publicadas na revista “Blatz” e na “Sketchbook”?
A estória publicada na “Sketchbook” chama-se “A parede: apenas um problema” e é sobre resolver problemas. A estória que publiquei na “Blazt”, premiada no FIBDA, chama-se “(lat. somniu)”, aquilo que se pode encontrar na definição de “sonho” em qualquer dicionário, uma referência às exaustivas pesquisas que o personagem fazia sobre o assunto do sonho.
Para quem estiver interessado, onde se poderão encontrar estas revistas?
A “Sketchbook” é distribuída apenas a nível nacional, já a “Blazt” terá também distribuição em França, numa tentativa de explorar mercados mais atentos e dinâmicos como é o caso do mercado francês de BD.
De momento não sei exactamente em que locais podem ser encontradas, mas se ainda não se esgotaram as edições, penso que a Kingpin of Comics tem alguns exemplares.
Quais as tuas maiores influências?
As minhas maiores influências, os meus autores de culto, são: Neil Gaiman, Dave Mckean, Thomas Ott, Frank Miller, Bilal e Moebius. Os livros que mais contribuiram para o que faço são Hardstory de Altuna e González, vários da dupla Gaiman e Mckean e a série Sandman.
Leio Kafka, alguma filosofia, gosto de Kant e de só perceber metade do que leio, Alice no País das Maravilhas e Saramago. Penso que as influências exteriores ao mundo da BD são tão importantes como os comics que lemos, ou não. E por final, no mundo das pinturas e do cinema, venero os filmes de Lars Von Trier, Tarantino e Cronenberg, e a pintura de todas as vanguardas do início do século XX.
Disseste que uma das tuas maiores influências é o Sandman, curiosamente o tema do festival da Amadora de 2005 era precisamente os sonhos, teve esta BD uma maior influência na tua vida quando escreveste a estória?
O Sandman não influenciou particularmente a estória que fiz, mas já Neil Gaiman, o autor, é uma referência constante na minha forma de escrever.
O que gostarias de fazer no futuro com a tua vida?
Para o meu futuro gostaria de terminar o meu curso, Design de Comunicação em Belas-Artes, casar, ter muitos filhos e encher-lhes a cabeça de ideias maravilhosas, e trabalhar em qualquer coisa calminha para poder ter tempo para me continuar a dedicar um pouco à BD.
Não pensas ser possível, algum dia viver desta arte?
Em Portugal acho que é muito complicado porque esta “indústria”, perdoa-me o palavrão, não está desenvolvida o suficiente para o permitir a quem escreve e a quem desenha. Não sei se por falta de investimento, se por falta de interesse dos portugueses, se por algum mistério que me escapa.
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