Rui Zink & António Jorge Gonçalves
Entrevista aos autores de "O Grupo do Leão".
Após uma breve análise, na edição passada, à mais recente obra de BD da dupla Rui Zink (RZ) e António Jorge Gonçalves (AJG), “O Grupo do Leão”, a Rua de Baixo aproveitou para estar à conversa com os dois autores, para conversar um pouco sobre o livro e sobre a BD em geral.
Podem descrever-nos sucintamente o vosso precurso profissional em BD?
RZ: Começou, salvo erro, em 1990, no Independente, com a coluna que fiz a meias com o Manuel João Ramos: Major Alverca.
AJG: Os meus primeiros trabalhos com remuneração profissional foram uma série de adaptações de letras de músicas pop/rock portuguesas, no jornal SE7E, em 1978. O meu primeiro livro foi “ANA” (com Nuno Artur Silva) em 1993.
Como surgiu a ideia de criar esta homenagem ao famoso “Grupo do leão”?
AJG: O Museu do Chiado, em Lisboa, propôs-nos criar uma história em torno deste quadro do Columbano Bordalo Pinheiro: a ideia era incluir a edição deste livro no programa das comemorações da implantação da República, e complementar a exposição que o Museu iria dedicar á obra do pintor.
Podem falar um pouco sobre o processo de desenvolvimento desta obra?
RZ: Como sempre, começamos a lançar ideias para a mesa: ideias narrativas e ideias visuais. Penso que as ideias visuais são as primeiras, porque vão condicionar o resto. Por exemplo, ao contrário do que se possa pensar, a estrutura em diálogos curtos (não há uma única voz off) parte do nosso acordo sobre uma ideia visual.
AJG: Há sempre muito ping pong entre nós, e um entendimento de que é preciso criar uma linguagem final mista, mas em uníssono. Neste caso houve também muita pesquisa de factos e imagens que servissem como nós da narrativa. A arte finalização é sempre feita num método de “takes” em que são experimentadas várias soluções e escolhida aquela que melhor serve o conjunto.
Se não estou em erro, este é já a vossa 4º colaboração em BD/ilustração. Como surgiu a oportunidade de trabalharem juntos pela primeira vez? E comparando esse primeiro trabalho com o último que balanço fazem? O que mudou?
RZ: Da primeira vez (“A ARTE SUPREMA”), ambos sentíamos que estávamos maduros (aos trinta e picos) para fazer uma obra ambiciosa, sem concessões aos Donos da BD, sem copianços merdosos nem desculpas de mau pagador, tipo para português não tá mau. Levou-nos dois anos. Foram dois bons anos, durante os quais ambos crescemos.
AJG: A “nossa cama” está boa e recomenda-se. Balanços, só nos obituários.
O vosso livro anterior “Rei” teve muito destaque e foi bem recebido pela crítica, recebendo o prémio para melhor desenho no festival da Amadora e tendo direito a uma exposição, fantástica na minha opinião, no festival do ano seguinte. Como vos fez sentir este reconhecimento e apreciação?
RZ: Foi o mínimo, acho. Mas eu tenho maus fígados. E não me lembro de ter sido assim tão bem recebido pela crítica. Que me lembre, o que mais houve foi silêncio e estranheza.
Talvez ainda seja muito cedo para fazer esta pergunta, mas até agora como tem sido a receptividade deste “O Grupo do Leão”?
RZ: A reacção nos blogues tem sido simpática. Nos jornais e revistas, salvo erro, é inexistente.
Qual a vossa opinião do mercado de BD em Portugal?
RZ: O mercado de BD em Portugal lembra as questões sobre a existência de Deus.
AJG: …e talvez seja por causa disso que esta pergunta é uma espécie de standard de jazz nas entrevistas a autores.
A edição de BD nacional parece estar a aumentar, mas ainda é muito escassa. Acham que é possível contornar isto? O que é necessário acontecer à BD no nosso país para singrar como produto comercial?
RZ: Menos autocomplacência.
AJG: … e maisaposta nas obras de fôlego.
Quais as vossas maiores influências?
RZ: A revista Visão e a escola franco-belga. Druillet. Art Spiegelman.
AJG: e também Chris Ware, Charlotte Salomon.
Para terminar, acham que actualmente ainda existem “grupos de leão”?
RZ: Sim. Portugal está cheio deles. Vistos de fora parecem capelinhas ou máfias. Vistos de dentro, são o oxigénio possível num país de máfias e capelinhas.
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