“O rapaz que gostava de aves” | Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho

Aprender o ciclo da vida pelo próprio pé

O Ricardo aprendeu a viver encolhido desde os tempos em que ainda vivia no berço. Num planeta ameaçado como o dele – e que é também o nosso -, os avisos iam chegando de toda a parte: «Ai Ricardo, Ricardo…Olha que o caso está mal parado!», diziam os pais quando ainda usava fralda; «Ai Ricardo, Ricardo…Olha que temos o caldo entornado!», diziam-lhe os avós em tardes e noites de babysitting; «Ai Ricardo, Ricardo…Isto está muito complicado!», suspiravam os professores nas aulas de aula.

E foi assim que o Ricardo, o pequeno herói de “O rapaz que gostava de aves (e de muitas outras coisas)” (texto de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo Carvalho) – uma edição Planeta Tangerina -, aprendeu a viver preocupado com o fim do mundo e a fazer muitas coisas para que este não se lembrasse de chegar mais depressa: reciclava, poupava água, andava a pé, não exagerava no ar condicionado, enfim, era um exemplo a seguir por todos.

Até que, um dia, simplesmente se fartou. Na sua cabeça ecoavam perguntas como «Se o vizinho do lado não faz, porque hei de eu fazer?», ou «Se o vizinho do lado não muda, sou eu sozinho que vou mudar?», pelo que resolveu desistir. Mandou a reciclagem às urtigas, passou a tomar banho de imersão, já não queria andar a pé. E, aparentemente, passou a divertir-se muito mais. Até que um dia viu atravessar-se à sua frente uma ave magnífica, «de bico comprido, asas azuladas e peito cor de caramelo» e, ao cruzar os olhos com este guarda-rios, a sua vida iria novamente mudar.

Com ilustrações que tocam o imaginário infantil ao nível do sonho, “O Rapaz que gostava de aves” é um excelente livro sobre o ciclo da vida, e de como cada um de nós poderá desempenhar o seu papel para que o planeta em que habitamos deixe de ser uma ameaça. Nem que, para isso, tenhamos de descobrir o nosso próprio guarda-rios.