tae-keller-banner_credit-saavedra_photography

“A Jennifer Chan Não Está Sozinha”, de Tae Keller

Quando ser diferente, incomoda

A Jennifer Chan Não Está Sozinha, de Tae Keller (Fábula, 2024), é um livro juvenil baseado em experiências reais da vida da autora, tendo sido ela própria vítima de bullying aos 12 anos. A Jennifer Chan é a representação de todas aqueles, que por serem eles próprios, e se destacarem, sofrem todos os tipos de humilhações.

Na Terra-do-Nada, há sempre alguém a dizer alguma coisa, e ninguém sabe o que é verdade ou não. Mas a verdade é que nem sempre interessa.

Tae Keller, é uma autora bestseller do New York Times, vencedora do prémio Newberry (When You Trap a Tiger). Escreve sobre raparigas birraciais que tentam encontrar as suas vozes.

Keller considerou que era altura de enfrentar a sua dor do passado e confrontar os bullies, no presente. Era altura de dar voz àquela menina de 12 anos, confusa e magoada, pelas situações que viveu, e que a marcaram para sempre. Com esse trauma, eventualmente enviado para trás da sua mente, foi aquando de algumas apresentações nas escolas que se viu confrontada com as perguntas dos jovens, que ecoavam as suas: O que faz de alguém um bully? Porquê eu? Quem pensas tu que és?

Após conversar com as suas agressoras, as respostas não foram o que esperava. Este livro reflete uma temática dura, muito relevante atualmente, um alerta para uma situação cada vez mais grave, que deixa cicatrizes bem profundas na vida de quem o passou na pele, mas, ao mesmo tempo, carrega uma mensagem muito bonita: Tu não estás sozinho.

A retratar o período complicado da pré-adolescência, uma fase de insegurança, crise de identidade, desejo de pertencer e ser aceite, este livro é um verdadeiro murro no estômago. Contado a partir do ponto de vista de uma das bullies, há uma clara evolução na personagem, desde o desaparecimento da Jennifer e o medo de serem descobertas, à tentativa de a encontrar para a recompensar pelos seus erros, até à aceitação dos erros e preocupação genuína pelo bem-estar da Jennifer.

Se justifica e perdoa as atitudes prévias que conduziram ao desaparecimento de Jennifer? Não, claro que não. Não é um livro para desculpar os bullies, é um livro para mostrar os dois lados da moeda, mas principalmente para apoiar quem precisa de saber que tem alguém que o entende.

É contado em dois tempos, o presente e o passado, desde o ponto de vista de Mal, com ocasionais entradas do diário da Jennifer. O enredo é claro, direto e sem papas nas línguas. Espelha confusão, dor, dúvidas, traições, medo, mas esperança, compreensão, apoio.

Para aqueles leitores que conhecem o universo de Heathers, Dear Evan Hansen, Mean Girls e Alzawabi School for Girls, ou simplesmente passaram por isso, seja como espetadores, perpetradores ou vítimas, sabem ao que vão.

Achei que tirar-lhe o poder a ela era única maneira de o conseguir para mim.

Jennifer, é uma pré-adolescente de 12 anos, calma, no seu mundo, curiosa sobre o universo e a miúda nova na escola, o que dá azo a muitas piadas, provocações e rumores.

Mallory, também com os seus 12 anos, tem uma visão muito condicionada da realidade escolar. Avalia o meio em que vive como uma cadeia alimentar, onde quem não se molda, quem não cumpre os requisitos, não se encaixa. Onde o peixinho é engolido pelos tubarões. E Mallory não quer ser o peixinho.

Membro do trio infernal, com Reagan e Tess, faz parte das típicas mean girls, os tubarões que atacam ao mínimo sinal de sangue na água. E a vítima preferida do momento, só pode ser a que se destaca, a pobre miúda nova, que sabe capoeira e acredita em extraterrestres.

Um dia depois do Incidente, Jennifer foge de casa e ninguém sabe dela. Com uma consciência culpada, Mallory tenta compensar os seus erros, o que a leva a uma intensa introspeção sobre si mesma. Será ela má pessoa? Por que agiu assim com Jennifer? É justo ferir os demais, apenas para ser in e estar no topo?

A Jennifer Chan Não Está Sozinha, de Tae Keller, é uma leitura para miúdos e graúdos, para os underdogs, os bullies, para os onlookers, para os que não fazem absolutamente nada, mas em especial, para aqueles que sentem sós no universo e precisam de ajuda para se fazerem ouvir.



There are no comments

Add yours

Pin It on Pinterest

Share This