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Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre

Benvindos ao sítio com o encore mais difícil do Mundo!

São onze horas da noite. Numa varanda sobre a Praça da República, agitam-se alguns braços de fumadores que ainda resistem ao frio que, dizem desce da Serra da Estrela. Mas é já Alentejo o que se vê desta varanda, enquanto das colunas se ouvem os gritos másculos dos Black Strobe. Dentro de minutos, vai actuar a próxima banda portuguesa a pisar o (ausente) palco da Quina das Beatas, no CAE em Portalegre.

O Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre (CAEP) nasceu há três anos no centro da cidade, desafiando a traça tipicamente alentejana com o seu arrojo e quase austeridade. Avista-se quando se inicia a entrada na cidade e também de vários outros pontos de referência, tornando-o um equipamento central e de fácil acesso. Projectado ao abrigo do programa Polis, o CAEP funciona hoje como pólo aglutinador de variadas manifestações artísticas, tentando estender o seu chamariz ao público da região e até à raia espanhola, de onde são oriundos alguns dos seus frequentes espectadores. Nomes como Yann Tiersen ou John Cale já espalharam magia nos palcos do CAEP mas é no piso de cima, no espaço café-concerto, que encontramos a actividade cultural mais fervilhante.

O espaço Quina das Beatas, que funciona como café-concerto, ganhou o seu nome do beatério de S. Brás que existia inicialmente nesta zona do centro histórico de Portalegre. A toponímia facilitou a escolha do nome, uma vez que o conceito estava desde muito cedo presente, como nos conta Joaquim Ribeiro, o Director Artístico do CAEP. A ideia nasceu em apenas uma noite entre Ribeiro e um grupo de amigos, que partilhavam a ideia de que Portalegre precisava de um diferente espaço cultural. A programação do Grande e Pequeno Auditório estavam quase terminadas mas Joaquim Ribeiro sentiu, olhando para ambas em perspectiva, que ainda faltava alguma oferta para um público mais jovem, certamente mais aderente a um espaço de cariz informal. Daí até concretizar esta ideia sobre a forma de um espaço de divulgação da música portuguesa foi um passo.

As bandas são normalmente contactadas por Joaquim Ribeiro ou fazem chegar a sua disponibilidade ao director artístico. Todas as propostas são avaliadas pela sua criatividade e também, obviamente, pela qualidade dos projectos. Muito do contacto é já feito através do site Myspace do CAEP, onde podemos também acompanhar a já extensa lista de bandas portuguesas que passaram por aqui (nomes como os Bunnyranch, The Vicious Five, Micro Audio Waves, Ölga ou JP Simões). O espaço da Quina das Beatas recebe cerca de 35 espectáculos por ano, divididos pelos fins-de-semana, à excepção dos meses de Verão, em que o espaço não funciona. Quase todas as bandas pensam ou tencionam voltar a tocar na cidade do Alto Alentejo porque é difícil encontrar este nível de proximidade noutros sítios.

Um dos trunfos da Quina das Beatas é a sua informalidade. O espaço é acolhedor e dispõe de serviço de bar durante os concertos mas aquilo que talvez o torna realmente especial é a ausência do palco. Os músicos estão mais perto do público, que tem muitas vezes a oportunidade de interagir com as bandas, o que proporciona uma maior ligação entre os dois elementos fundamentais de um espectáculo ao vivo. A envolvência criada por esta ausência de separação tanto deu origem a momentos de puro encantamento (como no concerto dos Alla Polacca), como a saudáveis motins (como no concerto dos Capitão Fantasma). Não é por isso estranho encontrar os músicos (portugueses ou estrangeiros) que actuam no CAEP pelas ruas da cidade, antes e após os concertos, depois de se deliciarem com desejadas travessas de migas ou antes de partilharem com a massa anónima mais uma cerveja.

Os concertos da Quina das Beatas são neste momento divulgados através da Agenda Cultural de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide, através do Myspace do centro e da subscrição de uma newsletter. Segundo Joaquim Ribeiro, existem ainda planos para desenvolver um sistema de alerta por SMS, para que a divulgação dos espectáculos seja levada ainda mais longe. Existe também alguma cooperação com bandas espanholas, que já se apresentaram neste espaço com algum sucesso. A ideia é aproveitar a proximidade de Badajoz ou Valência para promover a cooperação entre entidades culturais e para levar a música portuguesa também a um público internacional crescente.

Assumindo também um papel de formação de um público que antes não tinha acesso a esta vasta oferta cultural, Joaquim Ribeiro aposta na continuidade do espaço da Quina das Beatas. Os laços já criados entre as bandas que trouxeram a sua música ao Alto Alentejo e o público, cuja presença pode já ser considerada como regular mas ainda longe de efusiva (a fazer justiça ao carácter contemplativo dos alentejanos), fazem antever um futuro brilhante para esta aposta.

Depois das onze da noite, a banda deixa os camarins para, desviando a cortina, mostrar o que de melhor se faz em português. Os bilhetes, vendido a três euros, ajudam as pessoas a experimentarem coisas novas. Depois do concerto, haverá tempo para uma cerveja, na varanda fria, de costas viradas à planície.



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