Born a Lion
Fazem um pacto com Belzebu.
Têm o mesmo nome do melhor álbum de Danko Jones e o seu novo disco, “Bluezebu”, até traz uma afirmação elogiosa do explosivo rocker canadiano. Mesmo assim, Bruno Melquiadez, guitarrista dos Born a Lion, sublinha que a escolha do nome do grupo foi apenas “coincidência”. No entanto, confessa que a banda criou e manteve contacto com Danko Jones desde que descobriram que partilhavam esse título, até porque os elogios são mútuos. Assim, não é de estranhar que já se tenham ventilado planos para uma digressão conjunta. Aliás, a possibilidade de Danko Jones dar uma perninha neste novo disco dos Born a Lion esteve quase a acontecer, não tivesse sido “uma impossibilidade de agenda”.
Depois da estreia (a bom nível, acrescentamos) com “John Captain”, os Born a Lion sacudiram o pó do deserto e abanaram as raízes do blues-rock, dando um passo em direcção ao hard-rock. Melquiadez concorda que o disco “está mais hard-rock”, mas garante que tudo foi “muito natural e feito sem pretensões para soar a isto ou aquilo”. Nesta parte somos nós que dizemos que soa ao rock mais pesado dos Deep Purple, ao rawk’n’roll dos Datsuns e ao até ao rock mais negro dos Black Sabbath. Actualmente, a cartografia sonora dos Born a Lion já não está tão situada na americana rural do oeste norte-americano, mas mais nas ilhas britânicas circa década de 70. Esta é, portanto, a tal “evolução natural” e, por isso, quanto ao terceiro disco, é “impossível saber como soará”.
Melquiadez acrescenta que este é um disco “mais pessoal”, que reflecte “a vida da banda nos últimos anos”, resultado de vário tempo na estrada, incluindo uma “óptima” digressão pelo Brasil, onde puderam “sentir exactamente o que é estar em tour”, tocando praticamente dia sim, dia sim e onde tiveram a chance de partilhar o palco com “nomes que nunca imaginaram vir a tocar”, como os Mudhoney ou os Bellrays. É por isso normal que os Born a Lion estejam “mais maduros no que fazem, enquanto pessoas e na relação com quem andam a tocar”. São uma banda mais segura de si, que se atiram sem medos tanto à rockalhada mais pujante e de contornos psicadélicos, como à balada ao piano mais fantásmico, onde contam com os convidados Sean Riley, o seu Slowrider Filipe Costa e Ramon, guitarrista dos Allstar Project.
E se em “John Captain” a banda seguia as pisadas do imaginário blues-rock e a estética country-western, não é de estranhar que em “Bluezebu” o imaginário seja o outro: o do rock’n’roll enquanto ritual pagão, uma música do demo ligada à “estrada e à velha história do rock”. Melquiadez confessa que andaram “a ler sobre o assunto”, sobre Aleister Crowley, sobre Kenneth Anger… Fala-se de quando Mick Jagger compôs a banda-sonora para “Invocation of my demon brother”, ou do pacto com o Diabo celebrado pelos Led Zeppelin, momentos-faról desta ligação umbilical entre o rock’n’roll e o oculto. Por isso, a escolha do título do álbum “não se deveu apenas ao facto de ser um bom tema de conversa, mas porque fazia todo o sentido”, visto que este é “um disco envolto entre a luz e a sombra”. E os Born a Lion, quando será celebrado o contrato com o demónio? “Já aconteceu, foi uma cerimónia privada”, revela.
Agora, com “Bluezebu” na bagagem, os Born a Lion estão dispostos a dá-lo a conhecer “ao máximo de pessoas”, dentro e fora de portas, obviamente. Até porque há “perspectivas para regressar ao Brasil no Verão”. E poderá a banda beneficiar da recente atenção que a música portuguesa tem dedicado ao rock? Melquiadez reconhece que o cenário nacional “tem crescido e há boa música”, mas também considera que este “funciona por hypes e as pessoas guiam-se por eles”. Por isso, se for necessário criar um hype à volta dos Born a Lion para que estes sejam ouvidos mais vezes, nós comprometemos a começá-lo já por aqui.
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