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PANDA BEAR

Noah no País das Maravilhas.

Noah Lennox, mais conhecido por Panda Bear, parte dos efervecentes Animal Collective, vive entre nós desde 2004 – já é um bocadinho nosso –, mas ao vivo já não o apanhávamos desde 2007. É daqui a uma semana (mais coisa menos coisa) que rumamos ao Lux para descobrir as novas músicas de Tomboy, em período de gestação, e ouvir todas as composições que, por mais antigas que sejam, deixam toda a vida animal em euforia: ámen.

Balanço

Em época de balanços – acaba mais uma década e começa um novo ano – e quando confrontado com alguns dos títulos que, nos Animal Collective ou como Panda Bear, Noah Lennox teve todo o mérito em receber, demonstra sempre uma humildade genuína que nos convence à primeira pergunta. Mas, ainda assim, insistimos.

“Person Pitch” [PawTracks, 2007], o último disco de Noah Lennox, foi considerado o nono melhor álbum da década no site da Pitchfork, mas o músico mostra-se céptico com esse tipo de selecções: “tenho a certeza que essas pessoas da Pitchfork ouvem muita música, mas esse é apenas um pequeno grupo de pessoas, percebes?”.

“Acho que em vinte anos será mais fácil ver qualquer impacto que isso tenha tido nas pessoas, mas agora não parece assim tão grande” responde sobre a preponderância e estímulo que os seus projectos tiveram na última década e iliba-se, também, de qualquer culpa na forma como revolucionou o universo pop/experimental como o conhecíamos: “eu não conheço tudo o que se passa lá fora. Não estou todos os dias na internet a procurar a melhor música do mundo”, mas aceita que “é muito bom”.

“Slow Moving Kind of Person”

A cada novo disco, Panda Bear – a solo ou em colectivo – traz-nos alguma da música mais vibrante e psicadélica e pop (ao mesmo tempo) que ouvimos, mas considera-se “uma slow moving kind of person a viver num slow moving kind of place” e essa contradição “é só uma coisa estranha em mim”, confessa. Noah continua e explica, “se vou ao restaurante indiano, peço sempre a mesma coisa. Com a comida eu sei o que é que gosto e por isso é o que como sempre sem grandes variações”, já na música, por outro lado, “tudo o que faço é experimentar coisas novas: mesmo que não sejam novas para mim, não acho que vá fazer uma coisa que nunca ninguém ouviu antes, mas definitivamente algo que eu nunca tenha feito antes”.

No seu processo de composição, as letras ocupam um espaço muito pessoal já que conforme nos conta “tenho muita dificuldade em escrever música que não signifique muito para mim” e o resultado são letras pejadas do seu próprio quotidiano, vida e emoções. “É quase constrangedor gravá-las”, revela Panda Bear e é por isso, que considera “embaraçoso” ter outra pessoa a cantar as suas letras: “seria muito difícil para mim ter outra pessoa a cantar essas coisas”.

Poucos, mas bons

“Prefiro tocar em concertos pequenos”, mas não deixa de admitir que “temos realmente muita sorte”, enquanto Animal Collective, “em fazer tantos concertos e tão diferentes”. Presentes no Festival Primavera Sound’08, em Barcelona, Noah Lennox não hesita quando diz que o concerto foi “massivo, foi o maior concerto onde já tocámos” e que, segundo lhe haviam dito, estavam lá 20 mil pessoas – e partilho a alegria que me dá ter feito parte dessa noite, realmente, incrível. Nesses casos, diz que a partir de determinado número se perde o sentido porque “não consegues ver tão longe” chegando mesmo a afirmar que a diferença entre cinco mil ou cem mil pessoas já não faz grande diferença “a única diferença considerável” continua, “é quando tens 300 pessoas”.

“Menina-rapaz” (1)

Que se mate o mito de que é em Setembro, a boa notícia, caros todos, é que Noah não faz ideia de onde saiu Setembro como referência para o lançamento de Tomboy, conta: “se não tiver nada cá fora antes de Setembro vou ficar muito desiludido”. Pretende lançar pelo menos um single – à semelhança do que fez com “Person Pitch” – antes disso. “Tenho muitas músicas novas”, muitas das quais serão tocadas nos próximos dias 12 e, agora, também 13 de Fevereiro, no Lux – com a primeira data praticamente esgotada a Filho Único dá uma segunda hipótese aos mais distraídos.

Em “Tomboy”, um dos temas que aborda é a contradição mencionada no início da conversa: “o meu trabalho é estar rodeado por multidões e dar concertos, mas na verdade, não me sinto confortável com isso e de alguma forma as músicas referenciam isso, portanto concordo que é realmente estranho, mas é uma parte de mim que se sente realmente desconfortável com isso. Não tenho uma boa explicação para isso”.

«Tomboy», música homónima do disco a estrear este ano, tem para Noah Lennox “uma espécie de poder”, que o faz “sentir bem”, afirma. É essa, entre todas as suas composições, a de que mais se orgulha até à data, explica-nos ter “tendência para achar que as coisas antigas não são tão boas, como é velho para mim não é muito entusiasmante”.

Música sim, concertos só no palco

Raramente vai a concertos: “estive em menos de cinco concertos em seis anos”. “O facto de eu estar nesse meio faz-me não sentir vontade de ir e mesmo que não estivesse neste mundo, sinto-me muito desconfortável rodeado por multidões”, é a razão que nos dá para justificar que, em seis anos, esteve “em menos de cinco concertos”. Não é rapaz para chegar a casa e pôr um disco a tocar e afirma que “o sítio onde eu ouço mais música é quando estou em tour, nos aeroportos” e o último disco assinalável que comprou foi o EP dos Duck Sauce.

Quando se fala em 4Taste, a expressão de Noah é perfeitamente igual, não ouviu o disco todo, mas diz-nos ficar “sempre impressionado por esse tipo de coisas. É uma coisa realmente difícil de se fazer. Música tão imediata, impressiona-me bastante”. Não sente qualquer constrangimento nesse gosto – nem quando hipoteticamente lhe dizemos que poderia perder um fã cada vez que o afirmasse – e reitera: “mesmo que isso signifique perder fãs ou amigos ou o que for, acho importante sermos honestos sobre o que somos e se gostamos de alguma coisa não nos devemos desculpar por isso”. Conheceu o rapaz da banda, pessoalmente, num concerto seu, que lhe disse que a sua música “era mesmo estranha” – nós entendemos porquê. “Ele de vez em quando manda-me faixas para eu ouvir e dizer o que acho, é um tipo simpático”, acrescenta.

Em Lisboa

Vive em Portugal há seis anos – já todos sabemos porquê – mas aprender a língua é a sua “resolução para este ano novo”. Admite-se envergonhado, porque achava que o devia ter feito no segundo ano, mas afinal seis se passaram e continua a falar inglês, “estou com a minha mulher 85% do tempo e normalmente ela fala em inglês”; a filha “dificilmente diz palavras em inglês mas eu falo o dia todos com ela em inglês e ela percebe, responde em português”, conta. Mas se se estiver “realmente focado” numa conversa consegue perceber e, por exemplo, “se houver alguma emergência com a minha família, eu consigo lidar com a situação”, aponta.

O seu sítio preferido na cidade é a sua casa, isso e o “restaurante Dom Pedro V”, onde segundo o músico, que realmente adora o restaurante, “tudo é bom lá”. Mas para além desse há outro, o Moleiro, que tem “óptimos hambúrgueres e é incrível”; gosta muito do miradouro São Pedro de Alcântara, da Praça do Comércio e, basicamente, de toda a zona da Baixa e do Chiado onde, em seis anos, ser reconhecido “aconteceu umas duas vezes”.

(1) Tomboy traduzido em português, pelo próprio Noah, com louvor.

Fotografia de Vera Marmelo



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