“COMO NOSSOS PAIS”, de Laís Bodanzky
Sinais de feminismo
“Como Nossos Pais” é uma longa-metragem brasileira que conta a história de uma mulher inconformada com o trabalho, o casamento, e a educação que teve, até ao momento em que a mãe lhe revela um detalhe importante sobre a sua concepção. E é precisamente por aqui que a trama começa: pela revelação, o que pode criar a expectativa de que se trata de mais um drama brasileiro. Mas não.
O filme brasileiro, para além de um elenco de luxo, conta também com um guião delicado, próximo da realidade de uma mulher revoltada, que se vê obrigada a ser perfeita em tudo o que faz por causa de ideias enraizadas na sociedade sobre a mulher de família.
Vemos muitos quadros representativos da mulher contemporânea: temos uma relação entre mãe e filha, com os seus altos e baixos, e que poucas vezes é retratada em cinema; temos uma mãe e esposa que pouca ajuda tem do marido, que diz amá-la, mas que pouco a valoriza e ajuda. Existem momentos de carinho e de família feliz. Porém são breves, talvez para dar motivo ao estado de espírito conflituoso da protagonista. O filme cai no género drama que, para além da relação maternal-filial e da crise matrimonial, conta ainda com alguns momentos de romance que não largam o discurso intelectual-feminista, como a cena do passeio à beira mar, de noite, com o possível amante. Existe sempre uma tendência de sobrepor esta mulher a todos os homens da sua vida, e isso está também presente também na luz e nos planos da ação da história. Neste filme, os homens têm uma representação secundária e não tão forte, em termos psicológicos. Mas é como Rosa diz “na pré-história a força física fazia sentido (…) mas hoje em dia não tem mais a menor importância.”
O conceito de feminismo é afastado logo no início quando a primeira imagem que temos é a de uma mulher a mexer comida numa panela. Só nos apercebemos da ironia, porque somos obrigados a seguir o drama vivido por Rosa, e que dificilmente poderia ser interpretada por outra atriz que não a intensa Maria Ribeiro. Somos sempre levados a perceber as razões desta mulher que, apesar de se sentir frágil e perdida, é capaz de passar por cima das adversidades. Tornámo-nos cúmplices dela por causa do guião/roteiro, escrito por outra mulher – a própria realizadora. O trabalho dos atores é encantador, mas são as palavras que nos fazem querer ver e ouvir mais.
“Como Nossos Pais” foi apresentado no Festival de Berlim (Panorama) e será exibido no FESTin – dia 27 de Fevereiro – em antestreia na sessão de abertura com a presença da realizadora Laís Bodanzky. Chega aos cinemas estreia a 15 de Março.
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