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“Paraíso”: uma carta de amor à cultura rave

Documentário estreia no IndieLisboa e retrata uma década de investigação sobre a génese da música de dança em Portugal

Depois de dez anos de trabalho invisível, nasce finalmente o documentário “Paraíso”, um retrato íntimo e vibrante da cultura rave em Portugal, com estreia marcada para o dia 4 de Maio, às 21h30, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, em Lisboa, no âmbito do festival Indie Lisboa. Haverá ainda sessões no mesmo local, a 9 de Maio, e no Cinema Passos Manuel, no Porto, no dia 17 de Maio.

Produzido pela plataforma multidisciplinar Paraíso — que se desdobra entre editora, programa de rádio, promotoras de eventos e agora produtora de cinema — o filme resgata um capítulo muitas vezes ignorado da história musical portuguesa: a explosão da música de dança nos anos 90 e o nascimento de uma cena rave única, que floresceu em armazéns, matas e pistas de dança, com sons que se tornaram, como se dizia na altura, “underground house music from a paradise called Portugal”.

Com imagens raras e inéditas, recolhidas ao longo de vários anos — incluindo registos em VHS recuperados de sótãos, coleções pessoais e arquivos da RTP, SIC e MTV —, o filme dá voz a DJs, produtores, bailarinos e promotores que marcaram essa era. Ao todo, são 38 protagonistas nacionais e internacionais que, em conversas informais, reconstruíram a história a partir das suas experiências pessoais.

Realizado por Daniel Mota, o documentário recusa o formato clássico de entrevista e aposta antes em conversas entre pares com ligações musicais, tornando cada troca mais orgânica e reveladora. A montagem é de Henrique Brazão, o som ficou a cargo de Guilherme Figueiredo e Ricardo Barrileiro, e a produção teve apoio de nomes fundamentais da cena electrónica portuguesa como Inês Coutinho (Violet) e Marco Rodrigues (Photonz), também fundadores da Rádio Quântica — onde tudo começou.

O projeto nasceu precisamente nesse contexto: conversas descontraídas para rádio com protagonistas da cena tornaram-se num acervo oral valioso, que revelou a urgência de ir mais longe. A equipa, sem experiência em cinema mas movida pela paixão e sentido de missão, decidiu mergulhar de cabeça numa década de pesquisa, recolha, escavação e criação.

“Paraíso” é mais do que um filme documental. É um exercício de memória coletiva e uma celebração de um movimento cultural que não só marcou uma geração, como também posicionou Portugal no mapa da música eletrónica global. Ao mesmo tempo, é também um alerta para a importância de preservar histórias que se escrevem fora dos circuitos institucionais e dos cânones oficiais.

O documentário não procura a nostalgia fácil. Em vez disso, olha para o passado como uma força inspiradora para o presente, evocando a liberdade, a comunhão e a efervescência criativa que moldaram uma juventude — e que ainda hoje ecoam nas pistas e nos estúdios.

“Paraíso” é, como os seus criadores dizem, uma carta de amor. E é, sobretudo, uma devolução — a quem viveu essa era e a quem dela poderá ainda aprender.

 
 
 


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