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Metamorfoses @ Teatro da Garagem (25.07.2025)

O Teatro da Garagem, companhia residente do Teatro Taborda, apresenta-nos uma dúzia de quadros das Metamorfoses de Ovídio.

Por algum motivo, os escritos da antiguidade, greco-romana, continuam a exercer um fascínio, e a ser matéria prima fecunda para se trabalhar na arte, seja na pintura, na literatura ou, como vem ao caso, no teatro. 

Todas as histórias das Metamorfoses são matéria-prima latente, quando vemos estas 12 histórias apresentadas, vemos algumas das dimensões que compõem o ser humano, as suas idiossincrasias, a sua relação com os deuses, com o castigo, com o amor, com a generosidade, com a morte. Os homens, feitos à imagem dos deuses, com as suas caras viradas para cima, para poderem olhar o céu estrelado. Os deuses oferecem-lhes, antes de qualquer coisa, esta capacidade de contemplação, que não será apenas para se extasiarem com a maravilha dos pontos de luz que povoam a escuridão, mas também de prestarem homenagem aos próprios deuses, contemplando e agradecendo a sua magnanimidade, a sua ubiquidade. Mas os homens não estão livres da arrogância, da soberba, da vaidade e do amor, precisamente porque foram feitos à imagem dos deuses, estes deuses, que não se detém à vista de poderem satisfazer as suas vontades, mas que são implacáveis quando os humanos, considerando poder falhar como deuses, se permitem a esse tipo de comportamentos.  

Doze momentos, como doze quadros, começando na Criação, um Zeus sozinho no caos, e em palco, com uma cenografia bem conseguida. Passamos para a Caça, uma visão mais crua da lascívia de Apolo e de Zeus, a quem, os seus apetites criam problemas conjugais difíceis de resolver.  O amor, aqui personificado por Narciso e Eco, o eterno auto- apaixonado e a eterna apaixonada pelo eco dele em si própria.  O zelo, duas irmãs renegam a celebração a Baco, e contam, enquanto tecem, a história de Tisbe e Píramo, que o destino desengana e que só conseguem cair nos braços um do outro na morte. 

Num dos quadros que mais se destaca dos 12 apresentados, a ideia de Aracne num combate de tecelãs com Atena, com um MC que instiga as agulhas de ambas a zunirem pelo ar. A deusa perde, e o prémio de Aracne pela vitória, é o castigo de ser transformada em aranha.  Vemos a reivindicação da água como bem público e a história do desafortunado Dédalo e do seu filho Ícaro, não castigado pelos deuses, mas armadilhado pela sua própria incúria. 

A Hospitalidade traz-nos uma beata muito icónica, muito bem interpretada pela atriz Célia Teixeira, que de resto, brilha num elenco muito equilibrado e competente, e que oferece ao quadro um momento muito bem conseguido. 

A história de Pigmalião e a sua estátua, é, na cenografia e nos movimentos da criação da sua estátua, um momento alto da peça, assim como a representação de Eurídice, a sair do submundo, atrás do seu ansioso Orfeu. 

No momento final o Banquete, um momento de liberdade dramatúrgica, reflete-se sobre a constante mutabilidade do mundo, e sobre a permanência de algumas características do ser humano, que apesar disso, permanecem, essencialmente as mesmas, à imagem dos deuses.

É um espetáculo bem conseguido, com um excelente elenco.



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