Kizzy
Um restaurante que serve muito mais que hambúrgueres
Abriu há cerca de um mês uma casa de hambúrgueres (calma, recomendamos que leia até ao fim porque não se trata de “mais uma hamburgueria”) que serve, para além destas sanduíches, outras iguarias que o vão surpreender. Chama-se Kizzy, situa-se no Largo de Santos, em Lisboa, e é uma lufada de ar fresco na restauração lisboeta.
É verdade que o boom das hamburguerias não pára de crescer e estas surgem como cogumelos um pouco por toda a cidade, mas o Kizzy é diferente. Explicamos porquê: ao entrar não se ouvem sons estridentes, mas sim música no volume certo que não interfere nas conversas. Esqueça o ritmo frenético, os bancos de metal, as paredes de ardósia escritas a giz branco. Aqui, a decoração clean e sóbria assenta na conjugação intemporal do preto e branco, em que o conforto do espaço convida a um jantar demorado. Mas não pense que o ambiente é demasiado formal. O próprio nome é uma variação de “Que easy” (que fácil) e reflecte o espírito de uma cozinha simples, relaxada e despretensiosa sem comprometer a qualidade.
Há mais motivos que fazem deste um sítio especial. Assumindo-se como um restaurante de luxury burguers & delicacies, o Kizzy é sem dúvida uma ode ao hambúrguer de excelência, por entre tanta oferta de carne picada que há por aí. E esse parece ser o grande segredo para este espaço se demarcar dos demais.
Jorge Possollo, um gestor com longa experiência em multinacionais em vários países, aproveitou a sua estadia de um ano nos Estados Unidos para saber mais sobre a cultura da carne, tão característica dos americanos: «Eu aprendi muito lá acerca dos tipos de carne que há. Depois troquei alguns emails de cá para lá com várias pessoas que conheci, fiz experiências em casa e quando cheguei àquilo que eu achava que era a mistura ideal, toda a gente disse imediatamente “este está melhor que os outros todos”», conta-nos o responsável pelo Kizzy. Ainda tentou outras combinações, mas por aprovação da família, voltou àquela que é a fórmula destes hambúrgueres: «Assentámos numa receita de três carnes de vaca com um máximo de 10% de gordura. As peças de carne são de tão boa qualidade que acho que conseguimos uma boa mistura, sobretudo para quem gosta de carne mal passada, que é o meu caso. Hambúrgueres mal passados não se pode comer em muitos lados», remata.
Mas nem só de hambúrgueres vive o Kizzy. Baseado na sua experiência enquanto pai, Jorge Possollo quis abrir um espaço que agradasse a toda a família e todos os palatos: «Uma das coisas que eu sempre senti foi que os meus filhos queriam ir comer hambúrgueres e a mim por vezes não me apetecia. Na altura que começámos a pensar nisto, não havia um restaurante em que os miúdos pudessem comer um hambúrguer bom e nós outra coisa qualquer». Assim, arriscou «numa coisa supostamente impossível: conjugar hambúrgueres com dieta saudável, conjugar hambúrgueres com peixe e fazer um conceito abrangente que tivesse a suficiente latitude para que toda a gente ficasse satisfeita», desvenda.
Tudo isto é possível graças à técnica e mestria de Pedro Graciosa, chef que transitou do Hotel Altis Belém com uma estrela Michelin para liderar esta cozinha, facto que Jorge desconhecia: «Achei que uma pessoa jovem seria melhor que um chef consagrado, primeiro porque um jovem tem menos medo de errar e para inovar é preciso não ter medo de errar. Queríamos uma equipa jovem que partilhasse os nossos valores globais. Eu não fui buscá-lo por estar na estrela Michelin, mas sim porque é um criativo e achei que ele podia ser uma excelente aposta para este projecto», justifica o gestor.
Depois desta agradável conversa, o apetite ficou aguçado. Maria João Risques Pereira, esposa de Jorge e co-proprietária do Kizzy, sugeriu começarmos com uma entrada bem saudável: hummus com talos de aipo e cenoura crus (3,10€). Esta especialidade árabe estava muito cremosa, a evidenciar um sabor levemente picante e a acidez dos citrinos a rematar. Simplesmente delicioso.
De seguida, pedimos um Eggy (7,80€) e um prego do lombo (12,90€). Confirmámos que a receita de Jorge é, de facto, perfeita: este foi provavelmente o melhor hambúrguer que alguma vez comemos, muito saboroso, nada seco nem gorduroso. A combinação clássica de bacon e ovos é o par ideal de qualquer hambúrguer, sendo que os ovos de codorniz conferem autenticidade a este prato.
E se os hambúrgueres são o ex libris do Kizzy, o prego não fica nada atrás. Apresentado em bolo lêvedo, uma feliz alternativa ao bolo do caco que está saturado em todas as hamburguerias, o bife do lombo é absolutamente divinal: carne tenra, suculenta e cozinhada na perfeição, com o sal no ponto certo. A acompanhar, batatas fritas às rodelas ultra estaladiças polvilhadas com paprika (a guarnição idêntica do Eggy). Melhor é difícil.
Destaque para a maionese feita pela equipa de cozinha, cuja textura aveludada e o sabor verdadeiro ligam perfeitamente com a carne. Experimentámos também o molho Kizzy (1,50€) inspirado nos sabores da América do Sul preparado com uma base de azeite, salsa, coentros e malagueta. Uma opção fresca e leve que combina muito bem quer com o hambúrguer quer com o prego.
Para terminar, provámos as duas sobremesas da carta: sopa de morango com gelado Nannarella de baunilha (4,40€) e mousse de chocolate (3,80€). A sopa não é mais do que morangos triturados que cobrem uma bola de gelado, uma opção light e repleta de frescura perfeita para os dias mais quentes.
A mousse, caseira e feita a partir de chocolate com 70% de cacau, é muito rica em termos de sabor e textura, com os pinhões torrados bem crocantes no topo a dar o toque final. Apesar de serem dois postres distintos, recomendamos que intercale umas colheradas de mousse com a sopa de morango, degustando assim uma verdadeira explosão de sabores e temperaturas.
A acompanhar esta refeição optámos por um tinto Fraga D. Joana (copo 2,40€ / jarro de 1/2 4,50€), um vinho do Douro de 2012 que mostrou ter um bom registo para os pratos escolhidos.
A carta de vinhos é também uma das apostas do Kizzy, composta por brancos, tintos e rosés de pequenos produtores nacionais com óptima relação qualidade/preço.
Apesar de ser ainda muito recente, o Kizzy já tem o seu ADN bem estruturado e promete dar cartas na restauração lisboeta. Mantendo firme a ideia de que é muito mais que uma hamburgueria, o que distingue este restaurante é «o optimismo e a criatividade que eu quero que as pessoas mantenham. Eu quero manter a minha equipa unida, estimulada e a fazer coisas novas todas as semanas, isso é que é giro», reforça Jorge Possollo. «A segunda maior diferenciação é que eu só vou pôr aqui aquilo que tenho a certeza que é mesmo bom. Prefiro fechar a não ter qualidade», assegura o proprietário.
Horário de funcionamento:
Durante a semana: Das 12:30h às 15h (almoços) e das 19:30h às 23h (jantares)
Fins-de-semana: Das 12:30h às 16h (almoços) e das 19:30h às 00:00h (jantares)
Largo de Santos, nº 9 A, 1200-808 Lisboa
Fotografia de Ricardo Freire Mateus
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