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Christopher Owens e A Sul na ZDB em noite de reencontros

O norte-americano regressa ao palco com novo disco e uma história de resistência. A artista portuguesa abre a noite com canções visuais e emotivas.

Christopher Owens volta a Portugal para um concerto intimista na ZDB, em Lisboa, que promete ser mais do que uma simples apresentação ao vivo: será um reencontro com um artista cuja história se confunde com a sua música. Conhecido como a voz e alma dos Girls, banda que marcou a viragem da década de 2000 para 2010 com canções confessionais e acessíveis, Owens desapareceu lentamente dos radares, deixando muitos fãs em suspenso. Após o disco “Chrissybaby Forever” (2015), parecia pronto para uma nova fase a solo, mas a vida trouxe-lhe um capítulo duro: um grave acidente de viação nos Estados Unidos, despesas médicas incomportáveis e a perda de tudo o que possuía. Como se não bastasse, JR White, companheiro criativo nos Girls, morreu pouco depois.

O silêncio que se seguiu não foi ausência, foi sobrevivência. Só em 2024, quase uma década depois do último disco, Owens ressurgiu com “I Wanna Run Barefoot Through Your Hair”, um álbum feito da matéria frágil de quem teve de reconstruir a vida. É um trabalho que respira humanidade e persistência, feito com o cuidado de quem não quer apenas fazer canções, mas construir refúgios. A música de Owens sempre viveu da vulnerabilidade, mas neste disco há um novo foco: se antes tudo soava urgente, pronto a explodir, agora as canções parecem querer resistir ao tempo, assentar, fazer sentido a longo prazo.

Ao vivo, Owens transporta essa mudança. Continua a ser um mestre da contenção — alguém que faz muito com pouco — mas agora canta como quem precisa, também, de ser ouvido com a atenção de quem escuta uma história de vida. O palco da ZDB, pelo seu ambiente próximo e cru, parece ser o espaço certo para acolher este artista em reconciliação com o seu percurso. Para os que o seguiram desde os tempos de “Lust for Life” ou “Hellhole Ratrace”, será uma oportunidade rara de reencontro. Para quem chega agora, será um início tocado por uma honestidade desarmante.

A noite começará com A Sul, uma das vozes emergentes da cena musical portuguesa, que se destaca pela forma como cruza a composição pop com o trabalho sonoro de cariz quase cinematográfico. Depois do EP “Já Agora” (2022) e de colaborações com nomes como Moullinex e Yulia Niko, a artista prepara o seu primeiro álbum, “QUER QUER QUER”, previsto para o Outono de 2025 pela editora Cuca Monga.

Canções como «Gin» e «Tela» mostram bem o equilíbrio que A Sul procura entre emoção e leveza, entre o rigor do som e o humor nas letras. Ao vivo, cada tema é tratado como uma pequena narrativa visual, reforçando uma experiência sensorial que vai muito para além da música. O seu trabalho é minucioso, feito de detalhes e atmosferas que exigem atenção, mas que recompensam com beleza e delicadeza.

Num alinhamento pouco habitual, mas profundamente simbólico, a noite na ZDB junta dois artistas separados por geografias e gerações, mas unidos pela vontade de transformar a experiência pessoal em matéria sonora. Se Owens traz o peso da sobrevivência e da reinvenção, A Sul propõe um olhar fresco e inventivo sobre as emoções contemporâneas. Duas formas diferentes de falar da vida, unidas por uma noite com muito para ouvir e sentir.

Os bilhetes estão à venda em bol.pt e custam 15€.



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