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Margarida Vale de Gato – “Atirar para o Torto”

Engels entra numa casa de passe.

Não é coincidência que Margarida Vale de Gato tenha sido a tradutora de Lewis Carroll, Edgar Allan Poe, Mark Twain, Yeats ou Jack Kerouac.

Quando a lemos, conseguimos encontrar um pouco do espírito de cada um destes autores, ainda que numa redução de onde brota a sua própria poesia. Não é uma cópia, nem é bem uma inspiração, é uma convivência saudável com o universo dos autores que traduziu e que se materializa espontaneamente na sua escrita.

A sua poesia é surpreendente, por vezes rápida, por vezes contemplativa e tão depressa viaja do formalismo para o coloquialismo e mesmo pelo vernáculo, como passa da complexidade para simplicidade.

 

No seu novo trabalho “Atirar para o torto” pela Tinta da China, parte da colecção poética coordenada por Pedro Mexia, convivem diferentes universos e mesmo diferentes linguagens, surgindo todos naturalmente. Mas Margarida está no seu mais cativante quando é assumidamente provocante como em “Chamar puta durante”, onde mistura Engels com prostituição, como se fossem companheiros de escola. As suas provocações não se limitam às menções coitais. Estendem-se também ao 25 de Abril ou ao Covid e coabitam com temas bucólicos como em “Gótico Americano” ou com paisagens interiores e memórias como em “Feira da Ladra”.

Poeta ou poetisa, não lhe faz diferença, desde que a leiam e lida ela merece ser, não por falta de poesia de qualidade em Portugal, mas precisamente pela razão oposta. Num panorama tão rico e sub-explorado como é o da nossa poesia, Margarida é gato escondido com o rabo de fora.



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