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Granta – Sono / Sonho

Literatura pura em forma de revista

Não será necessariamente um sonho, mas pelo menos é uma miragem, o universo das revistas literárias em Portugal. Sobretudo num panorama onde as revistas vivem de atualidades.

Mesmo que o seu nascimento não seja português e mesmo que nem todos os autores visados sejam portugueses, é importante a existência de revistas orientadas para as letras, independentemente do tema visado. Só por isso, a Granta, é já o sonho de muitas pessoas, escritores e leitores.

Mesmo em Portugal, a Granta já não é novidade. Vai agora no sétimo número e após tratar temas como a traição, o cinema ou as revoluções, eis que chega “Sono/Sonho”. Com direcção de Pedro Mexia e Gustavo Pacheco e com a imagem a cargo de Daniel Blaufuks, neste novo número figuram participações nacionais de Ondjaki e Afonso Reis Cabral. Onde o primeiro optou por uma poesia épica de enquadramento mais literal para o tema, num imaginário africano como vem sendo do seu apanágio, Afonso Reis Cabral conta uma história de inspiração portuguesa. Nela figura Aldo, o eremita da terra da sua mãe, cujo sonho não tem pudor em assumir a sua parte de sonho molhado.

No mesmo sono dos escritores, cabe também um ensaio fotográfico de Jorge Molder no seu estilo habitual de inflexão onírica e uma reflexão de Francisco Frazão sobre o papel do sonho no teatro.

Já noutro fuso horário, lugar ainda para as participações de Haruki Murakami que nos conta a história dum sonho com Charlie Parker materializado misteriosamente em vinil; John Giorno fala-nos sobre Andy Warhol e entre a “Insónia” de A.I. Kennedy, a “Passageira” de Giovana Madalosso ou “A caixeta cravejada” de Sérgio Rodrigues, surge um dos mais emocionais textos escritos sobre bancos de igreja, pela mão de Catherine Lacy.

Não existe verdadeiramente um tom geral para a Granta, e ainda bem. No seu repouso cabe tudo, desde ensaio a contos, escritos das mais diversas formas, criando assim um saudável ecletismo na revista. 

Se para uns, o sono pode ser apenas dormir, para outros tem uma qualidade eterna e para outros ainda, o sonho comanda a vida ou é até a própria vida que comanda o sonho. 

Comum a todos os trabalhos, é a estética conseguida, que nuns casos se sobrepõe ao conteúdo, mas que é, invariavelmente, a concretização feliz do que a literatura e a fotografia têm de melhor.



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